sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Memórias de um dia 16 de julho de 2016


imagem: Restaurante Guanabara, em Sampa

São Paulo, 16 de Julho de 2016, sábado, este foi um dia de grandes emoções para este escrevente idoso e cheio de memórias.

Nesta data eu estava me dirigindo para um almoço que pretendia fosse memorável, mas vamos por partes:
Primeira: Tinha experimentado, pela vez primeira, uma viagem usando minha condição de idoso. Aliás, condição que de nada vale no momento de requisitar a tal passagem por que para obtê-la o coitado do pleiteante tem que, com cinco (cinco) dias de antecedência e na hora exata em que pretende viajar, se apresentar no guichê da Empresa Transportadora, no terminal rodoviário de destino e contando com a benemerência das operadoras no local fazer o pedido que, depois de várias delongas pode ser aceito ou não. Se aceito, você recebe o bilhete emitido e faz, lógico, o seguinte questionamento: Pode emitir também o bilhete da volta? E ficará sabendo, então, que se a volta for para o mesmo dia, em período diverso da ida, terá que voltar no horário pretendido e tentar conseguir a passagem, mas poderá também, ficar aguardando próprio terminal até o horário para tentar conseguir o famigerado bilhete. Assim foi que perdi um dia inteiro no Terminal Rodoviário, desconfortavelmente acomodado para conseguir legislação específica. 
Ah! Registre-se que se consegue, com muita paciência, os almejados bilhetes, mas o direito de embarcar e viajar só lhe serão garantidos se desembolsar o valor das famigeradas taxas de embarque, por que essas não são gratuitas nem dispensadas pela exploradora dos terminais rodoviários. Ou seja, passagem gratuita só parcial.
Segunda: Chegando ao meu destino e percebendo que tinha, ainda, um bom espaço de tempo descompromissado, e ciente que meu compromisso era no centro da cidade, resolvi embarcar num trem metropolitano e descer na Praça da Sé. Queria tomar um banho de paulistanidade e respirar os mesmos ares que havia respirado em minha juventude, quando exerci a função de “Office-boy”. Assim decidi e fiz, desci na estação Sé do metro, galguei ao solo por escadas rolantes e...Meu Deus! Em que mundo estou? Que cenário é este tão dantesco e inóspito que se apresenta aos meus olhos?
Que horror, quanta desgraça, quanta sujeira, quanta tristeza rolando pelas calçadas do “marco zero” da Capital dos paulistanos. Lágrimas internas rolaram em meu coração, mas resistindo às decepções, continuei a minha peregrinação, cruzei a Praça da Sé desviando de uma série de imundices e excrementos e avancei para a Rua XV de Novembro. O cenário era menos tenso mas, ainda, bastante diferente daquele registrado em minha memória. Os velhos bancos, tão visitados outrora, já não existem mais. Apenas a resistente agencia do Bradesco que por centenas de vezes atravessei para alcançar a Rua Álvares Penteado, continua no mesmo lugar. Procurei achar o Banco Comercio e Indústria, o Banco Comercial, não encontro mais nada. Onde ficava a Lojas Garbo agora é uma churrascaria popular. Tudo mudado. Sigo em frente e chego na Praça Antonio Prado, no numero nove o famoso Edifício Altino Arantes, onde os primeiros andares eram usados para a sede social do Jockey Club Paulistano, os demais andares eram comerciais e no 9º andar e trabalhava, nos escritórios da empresa Comercial e Importadora Restinga Ltda., uma laminadora de ferro de propriedade de Pedro Cerquinho de Assumpção e José Cerquinho de Assumpção e gerenciada pelo grande esmeraldino Pedro Ferronato.Postas fechadas, uma placa indicando ser agora um órgão governamental (Secretaria Estadual de Esportes Lazer e Turismo) e nada mais. 
Olhei para os lados e não vi, além do prédio do Banco do Estado de São Paulo (agora Santander) mais nada de reconhecível. Onde está o City Bank? A Bolsa de Valores? Nada... Os quiosques que, no meu entender haviam sido implantados para embelezar a praça, sujos e mal cheirosos, servem-se, agora, como pontos de abrigo para o sono de mendigos.
Balancei a cabeça para apagar a visão e continuei minha caminhada em busca da ladeira da Avenida São João. Já sabia de há muito que o relógio havia sido retirado, mesmo assim arrisquei um olhada e sem surpresa não o encontrei, comecei a descida, busquei a Fotoptica onde revelei diversas fotos e aluguei várias câmeras fotográficas e já não existia, olhei em frente e, alvíssaras, encontrei as portas do Banco do Brasil onde fui muitas vezes a serviço na CACEX em busca ou re entrega de documentos. Na porta lateral do Edifício Martinelli,devidamente fechada, uma placa informava que as visitas ao terraço estavam suspensas nos finais de semana e feriados.Que pena, uma visita poderia, perfeitamente, preencher mais um espaço do meu dia e me permitiria, quem sabe, matar a saudades, que ainda sinto, do CAFÉ (Clube Associativo da Fazenda Estadual) que tanto freqüentei na infância mercê beneplácito de minha tia Zaíra Chammas (Zazá).
Sigo em frente, atravesso a Rua Libero Badaró decidido a sentar-me em um banco que avistei, lembro-me das muitas vezes que percorri aquele trecho de rua, empurrando um carrinho de ferro, levando ou buscando livros no Collie Posteaux dos Correios, executando minhas funções para a Rede Latino Editora, onde trabalhava.
Sento-me no banco visado e olho para os lados, nada de que minha memória registrava, do lado direito, no trecho da Avenida São João que ia da Rua Libero Badaró até o Vale do Anhangabaú, não vi nem uma daquelas enormes vitrines preenchidas com bugigangas mil, onde por centenas de vezes comprei pares de abotoaduras, prendedores de gravata e alfinetes de colarinho, peças indispensáveis, que compunham a elegância masculina da época. Nada mais existia! Virei meu olhar para o lado esquerdo e, tristeza, não vi o chamativo luminoso da Casa dos Dois Porquinhos, não vi a velha Pastelaria da esquina, hoje substituída por outra churrascaria.
Enfim, olhei para a esquina onde, as 13hs00m seria realizado o evento objeto do meu deslocamento a São Paulo. A Brasileirinha já não mais estava por lá, mas graças a Deus, o tradicional Restaurante Guanabara (onde degustei várias Coxinhas de Frango (coxinhas brancas) e sanduíches de Pernil sem molho, acompanhados de geladíssimas guaranás da Brahma), que era na Rua Boa Vista, agora ocupava o lugar e, em poucos minutos ali eu estaria degustando sua famosa feijoada.
Terceiro: Enfim, relato a terceira parte das emoções desse sábado. O almoço tinha sido preparado para reunir alguns autores de textos do site São Paulo Minha Cidade que, junto com seus familiares, se propunham a degustar a famosa feijoada do Guanabara e manter a amizade que os unia.
Logo que me aproximei da porta do restaurante, encontrei com o Leonello Tesser (Nelinho) e juntos entramos. Fui logo reparando que o balcão dos famosos sanduíches havia sido deslocado para o lado direito de quem entra, comentei com o maitre e ele me respondeu que aquilo já tinha acontecido há mais de dois anos (tempo em que eu não havia, sequer, passado por ali). Sentamo-nos em locais devidamente reservados para o grupo e fui logo bebericando uma Espírito de Minas para não perder tempo enquanto aguardavas os demais chegarem.
Com o passar dos minutos foram chegando a Teresa Fiore, O Roberto Capuano com seu filho Robertinho e sua nora a Lena, em seguida chegou o Marcos Falcon, depois vieram o Rymundo Montagna e esposa, o Arthur Miranda e a Denise sua esposa, em seguida o José Carlos Navarro e sua esposa Silvia, o Modesto Laruccia chegou sozinho, devidamente licenciado pela querida Myrte e, finalmente a família Loureiro (Marcos, Isabel e a pequena princesa) completando, assim, a lista dos participantes.
Entre bebericos, experimentos (o Robertinho Capuano fez questão de experimentar o famoso sanduíche Psicodélico tão comentado até aquele momento), e a feijoada, transcorreram horas maravilhosas e de muita alegria.
Fartos ou, como se diria nos antigamente, com os pandulhos cheios, chegou a hora da despedida. 
Beijos e abraços em profusão, renovadas promessas para uma nova reunião e cada um foi continuar a sua trajetória de vida. 
Sei que novos encontros hão de acontecer e rogo ao Bondoso Deus, que me permita estar presente em todos eles, pois, são dessas pequenas coisas, que meu ser fica revigorado e pronto para novas aventuras.
Até lá, vamos nos arrastando e buscando sobreviver!



Por Miguel Chammas

sábado, 6 de agosto de 2016

Na rua Lavapés


Éramos 4 amigos inseparáveis, eu, Wagner, Fausto e Dimer. Juntos saíamos pela noite sempre procurando um bom programa para nossa diversão; geralmente a opção era para um salão de baile no centro.
Havia também um acordo: quem conseguisse uma companhia feminina podia se desligar da turma  e seguir seu caminho.
Certa noite, fomos todos juntos ao salão do Paulistano da Glória e, eu e o Fausto, conseguimos conquistar duas garotas, boas bailarina;, eram duas primas, a M. e a MP. (os nomes são mantidos em sigilo para salvaguardar a privacidade).
Uma hora antes do término, saímos os 4 para terminar a noite na casa delas; as duas residiam num casarão que ficava na Rua do Lavapés, no Cambuci, ao lado da antiga Fábrica de Chapéus Ramenzoni  (hoje nenhuma das duas existem mais). Na casa residiam outras pessoas e num corredor comprido havia quartos de  ambos os lados. Ficou combinado que uma delas entraria na frente para ver se tudo estava calmo e se os demais moradores estavam dormindo.
 Tudo estava em ordem. Fomos caminhando pelo corredor escuro até o quarto das meninas, que também estava às escuras, e com o máximo de silêncio, elas entraram primeiro, eu entrei logo após e por último entrou o Fausto. Antes de fechar a porta ele perguntou onde ficava o interruptor da luz, uma delas indicou que ficava ao lado direito, mas o que ela não falou é que naquele dia à tarde o interruptor teve problema e teve que ser retirado por um senhor que cuidava da habitação, mas, por falta de tempo, não conseguiu colocar outro no lugar. Assim, a lâmpada teria que ser acionada encostando um fio no outro para  fechar o contato.
 Dessa forma, o Fausto levou a mão procurando o interruptor... Não preciso me estender no assunto para explicar o que aconteceu;  encostando a mão nos dois fios desencapados,  ele tomou um tremendo choque, deu um grito e soltou uma série de impropérios em pleno corredor. Com isso, várias portas se abriram e só víamos cabecinhas sonolentas procurando saber o que tinha ocorrido. Tivemos  que sair às pressas do local antes que alguém resolvesse tomar satisfações mais sérias. Deixamos as meninas lá e a noite terminou dessa forma. 
Dias depois, tornamos a encontrar as garotas e felizmente nada aconteceu  com elas que continuaram morando lá, mas nunca mais nos convidaram.



Por Leonelo Tesser ( Nelinho)