terça-feira, 1 de julho de 2014

Com o olhar da pomba e do urubu




O texto abaixo també foi sonorizado na Rádio CBNhttps://soundcloud.com/miltonjung/conte-sua-histo-ria-de-s-o-9

Consta que Deus, cansado de ouvir reclamações sobre a Terra, mandou que o urubu sobrevoasse tudo e retornasse dizendo o que viu. Ele voltou contando das guerras, carniças (delícias), poluição, violência, catástrofes e vícios, um inferno enfim. 

Desolado, Deus quis ouvir uma segunda opinião. Pediu então que a pomba fizesse o mesmo. Aí ela retornou dizendo do sol clareando a terra e o orvalho das plantas. Dos passarinhos arrulhando nas árvores após um dia de chuva. Das flores com seus diversos matizes sob o céu de azul diáfano. Das cachoeiras que inundavam a atmosfera com sua música maviosa. De crianças a brincar e a sonhar. De velhos nas praças a ver a vida passar com graça a dar milho aos pombos. 

Deus então deu um logo suspiro e declarou: é preciso olhar o mundo com os olhos da pomba.


Esse é o desafio do paulistano: olhar esta cidade com os olhos da pomba. Ver a beleza que existe na diversidade, na concentração de talentos, nas oportunidades de desenvolvimento e mudança. Beleza no seu centro cultural, nas atividades criativas. Na poesia concreta das suas esquinas, como na canção.



Cai, levanta, cai levanta. Vocês sabem do que estou falando. Como na teoria do evolucionismo, os mais aptos sobreviverão. Uns chegam de longe para se tratar e vão ficando. Outros chegam munidos de muita vontade de trabalhar, transformar o pouco em muito. Tenacidade de aço e nervos de concreto faz do cidadão paulistano um ser singular. Caçadores de beleza na cidade dos migrantes e imigrantes. Diz-se que quem vive aqui, está apto a viver em qualquer lugar. Uma metrópole que contempla tanto o olhar do urubu como o olhar da pomba. A escolha é sua.

São Paulo é um pólo de atração. Atrai os que ousam sair da zona de conforto e mudar, transformar, garimpar ouro em merda. Cidade em constante mutação a provocar mudanças em seus atores. Quantos desses 11 milhões de habitantes, sem contar os 10 milhões no entorno, aqui chegaram apenas com a roupa do corpo, coração acelerado e, um sonho na cabeça povoada de ilusões.  Educaram seus filhos, trabalharam e conquistaram seu espaço. Quem não se envolve não desenvolve.






Por Suely Aparecida Schraner