sábado, 21 de junho de 2014

Copa 1950, ninhas lembranças


imagem: Seleção da Espanha, minutos antes do jogo contra o Uruguai na Copa de 1950
Escalação: Ramallets, Gabriel Alonso, Parra, Gonzalvo II, Gonzalvo III, Puchades, Basora, Igoa, Zarra, Molowny, Gaínza (Cap.)

Em 1950 meu tio Mané me levou ao Pacaembu para assistir Uruguai vs Espanha; era um domingo que começou com tempo fechado mas logo o sol apareceu, aquele solzinho de inverno, até que um pouco frio, um sol  que não aquecia. Chegamos ao Pacaembu era meio dia mais ou menos e ficamos esperando abrir as bilheterias, acho que abriu por volta de 13:30h. havia uma fila normal, sem empurra-empurra, claro que cheia de hermanos da Banda Oriental e señores de Castilla la Vieja, Aragon, Galicia... e muitos brasileiros.
Prá ser sincero, para nós, aquele era mais um torneio com a Seleção do Brasil e seleções estrangeiras, nada  muito importante e, além do mais, em relação à Seleção Brasileira, havia o problema do bairrismo exacerbado com a escolha dos jogadores pendendo para o lado do Rio de Janeiro, com o time tendo por base o Vasco da Gama, o expresso da vitória. Me lembro do Antonio Cordeiro da radio Nacional do Rio justificar o encariocamento da Seleção com o seguinte argumento: "Ninguém conhece os jogadores de São Paulo, de Minas,  do Rio Grande..." Aquela foi uma época em que o Brasil treinava contra o Torres Homem, um time de várzea de Niterói presidido por um diretor da CBD; creio que deveria haver uma graninha por fora para "pagar despesas, etc, etc...(cala-te boca!)".
Uruguai e Espanha ficaram no 2 a 2 num jogo horrível, se eu estou bem lembrado; o Brasil jogou contra a Suiça, também no Pacaembu, com um time considerado reserva, ou melhor, com um time montado nas coxas (perdão pelo calão!) e também empatou por 2 a 2...
No Rio, após a goleada contra a Espanha, o time saiu do Hotel das Laranjeiras, um local sossegado, na floresta, e desceu para São Januário, dependências do Vasco da Gama...
Era época de eleições, inclusive eleições presidenciais e políticos do Brasil todo vieram para o Rio para serem fotografados com os jogadores; Flávio Costa, o Alicate, era o nosso técnico,  candidato à vereança do Distrito Federal e articulador das entrevistas, fotos e filmagens com os políticos. Zizinho, talvez na última entrevista em profundidade dada por ele para um órgão de imprensa, no caso a para a ESPN (tá no youtube) afirmou que em 3 dias, se ele dormiu 20 horas foi muito. A revista "O Cruzeiro" levou os jogadores, na madrugada do dia do jogo contra o Uruguai, para um estúdio para serem fotografados uniformizados e com a faixa no peito... e deu no que deu! Bigode não conseguiu marcar o Gighia, faltou-lhe pique, velocidade e, de repente, lá veio a bomba, chute cruzado, que o sonolento Barbosa, mesmo estando bem acordado, não conseguiria defender. 
Fala-se muito de 1950, mas também em 1954 a desorganização comeu solta, jogadores preferidos por Zezé Moreira como titulares e Julinho, Cláudio, Baltazar, Djalma Santos, entre outros, ou no banco ou não sendo convocados... A Copa terminou tristemente para nós com a "Comissão Técnica" partindo inteira para cima do  "referee", Zezé Moreira com uma chuteira na mão, como um malandro do morro e seu chinelo Charlot, avançando contra a polícia da Suiça; Paulo Planet Buarque fotografado e filmado distribuindo rabos de arraia no gramado... vergonha!
Eu me abstenho de escrever em datas especiais, efemérides, dia das Mães, dia dos Pais, dia das Sogras e outros dias, inclusive Natal, Ano Novo e outros, mas estão escrevendo tanto sobre essa Copa de 2014 e sobre 1950 que resolvi deixar minha postura de molusco e relembrar certos fatos...
Talvez eu ainda volte ao assunto, sei lá!




Por Joaquim Ignacio de Souza Netto

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Memórias Copeiras


imagem: Seleção Brasileira que sofreu a derrota contra o Uruguai em 1950


Estamos em clima de Copa do Mundo, mesmo não sentindo nas ruas a mesma vibração de outros tempos eu sinto a animação nos transeuntes, nos vizinhos e, por que não dizer, nos amigos.
É neste clima de expectativa que sento em frente ao meu computador e sinto vontade de escrever sobre as copas que vivi nestes 74 anos de vida.
As lembranças não são difíceis de virem à tona, apenas me cabe o trabalho de selecionar algumas e escrever sobre elas. Teclado pronto decido escrever sobre a copa que, mesmo presente, eu não assisti. Foi uma escolha deliberadamente cômoda, pois as demais copas geraram muita aflição, desespero, alegria, e ser-me-ia bastante abreviá-las para caber num só texto. Então, vamos lá, Copa do Mundo de 1950.
Eu, moleque ainda, ao contrário dos garotos de hoje, não tinha noção da grandiosidade desse evento.
Ouvia comentários dos meus pais, dos meus tios, mas preferia, lógico, o meu mundo de brincadeiras no quintal de casa em que vivia, na Rua Augusta, 291.
Era 16 de julho, depois do almoço ajantarado de todos os domingos, eu o Carlinhos meu irmão, e o Roberto meu primo, fomos para nosso mundo de fantasias, o quintal. Minha prima, como de costume, foi se entreter com os diversos trapos e roupas de minha tia e de minha mãe com que normalmente brincava. Minha mãe, minha tia Neide, minha Tia Elisa, minha tia Zaira, meu avô Gidi e meu pai, sentaram-se em torno da mesa da cozinha e, entre conversas diversas e um cafezinho coado na hora, começaram a ouvir o rádio e a transmissão do jogo entre Brasil e Uruguai.
Meu pai, com aquele jeito exagerado de sampaulino fanático e ferrenho, alardeava que o campeonato já era nosso, tendo a concordância de todos os demais.
Nos, brincávamos e apenas por curiosidade, de quando em vez, esticávamos os olhares para o plano mais alto onde se localizava a cozinha para ver o movimento, eram caretas angustiadas, murros no ar desferidos por meu pai, algumas palavras de sentido mais imoral, nada que realmente nos fizessem desistir de nossas brincadeiras.
Em certo nos “ouvimos” um silêncio sepulcral, intrigado corri até a cozinha e não vi mais meu pai e meu avô, as mulheres daquele diminuto auditório choravam copiosamente, minha mãe me abraçou e disse entre soluçõs e lágrimas: -Miguelzinho o Brasil perdeu, o Brasil perdeu...
Sem muito entender, mas querendo participar do destempero, busquei me emocionar e também comecei a chorar. Foi uma choradeira geral.
Só não vi, ou melhor, não lembro se vi meu pai e meu avô chorando (naqueles tempos homem não chorava).
Estas são as minhas memórias daquele campeonato fatídico.
Vamos torcer para que neste ano de 2014, quando novamente temos a realização de uma Copa do Mundo no Brasil, mesmo conscientes de todas as mazelas e aberrações ocorridas, o povo brasileiro tenha o prazer de comemorar um final mais feliz do que em 1950.



Por Miguel Chammas

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Eu só estava assistindo




Era o ano de 1961, meu irmão Emmanuel Ferreira Leite em casa era conhecido pelo apelido de Nenê. Morávamos no Cine Clipper da Freguesia do Ó. Éramos três irmãos: Nenê com seis anos de idade, Isabel Virginia com dois anos, e eu Luiz, apesar de ser menor do que Nenê em estatura, tinha já meus sete anos. Na foto acima estamos, da direita para a esquerda, Nenê, meu pai e eu. A foto foi tomada diante de uma das portas de saída lateral do Cine Clipper que dava acesso para a Rua Bonifácio Cubas, a antiga rua da feira. A feira atualmente acontece aos sábados numa praça próxima à Escola Infantil Manuel Preto.
Nosso local de habitação era um pavimento que existia sobre o banheiro masculino cujo acesso era através de um pequenino hall. A porta que levava para onde morávamos dava para o interior da sala de expectadores, ao lado da porta do banheiro dos homens. O acesso para o pavimento sobre o banheiro masculino era feito por uma escada feita de madeira cujos degraus eram muito altos para mim e para meu irmão. Não havia cômodos e os ambientes eram distribuídos conforme o espaço permitia. Nossos pais eram zeladores do cinema. Meu pai, Manoel era também cobrador de ônibus e, durante algum tempo, também se incumbiu da da projeção dos filmes.
Aquela época era um sonho para mim. Moramos no cine Clipper entre os anos de 1958 e 1962. Era os tempos áureos do famoso Mazzaropi, do inesquecível Cantinflas, de Roy Rogers, dos famosos filmes de caubói americano, do cão Rin Tin Tin, do Vigilante Rodoviário e muitos outros. Como éramos pequeninos só podíamos assistir filmes nas disputadas matinês de domingo. Às vezes, aos sábados ocorriam alguns shows matinais com artistas populares, oportunidade onde chegamos a assistir “ao vivo” artistas como o sambista Germano Matias, Moacir Franco se apresentando como mendigo cantando “Ei você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí!”, e ainda um dos nossos primeiros roqueiros: Carlos Gonzaga cantando “Diana”.
Voltando ao início do relato, era o ano de 1961 e, naquela época ocorria um evento que era um show carnavalesco onde se apresentavam algumas dançarinas mulatas em trajes mínimos, conhecidas como cabrochas. Não precisa dizer que a idade mínima para assistir a esses shows era de 21 anos! Eis que um grupo desses foi se apresentar no Cine Clipper! Maior alvoroço, coisa proibida para menores de 21 na cabeça da gente deveria ser algo inimaginável. Chegou a noite da primeira apresentação, minha mãe preocupada com os últimos detalhes de limpeza, meu pai atarantado com os detalhes de acompanhamento de instalação elétrica, som e outras coisas. Após terminarem suas tarefas eles subiram rapidamente para tomarem banho e se trocarem para assistir ao show que já estava começando. Em meio aos preparativos se deram conta que meu irmão Nenê não estava no aposento onde residíamos! Rapidamente desceram a escada e saíram para a plateia para começarem a procurar o filho perdido. E não é que deram de cara com o cara de pau que estava comodamente sentado em meio aos expectadores? Rapidamente retiraram Nenê do local e subiram a escada já dando um pito daqueles no meu irmão! E ele na maior cara de pau: “Ué .... eu só estava assistindo!”
Esse fato marcou a vida de nossa família, até mesmo em virtude disso ter acontecido numa época em que o então conhecido Juizado de Menores funcionava com muito rigor e a estória teria sido outra caso um dos comissários tivessem flagrado a escapada do Nenê.


Por Luiz Carlos Ferreira Leite

terça-feira, 10 de junho de 2014

Primeiras transmissões da Copa do Mundo



imagem: Gagliano Neto

Gagliano Neto!
Locutor esportivo, jornalista, nasceu em Recife, Pernambuco, em 24 de dezembro de 1911. Seu nome Leonardo Gagliano Neto.


Muito jovem mudou-se para São Paulo e mais tarde para o Rio de Janeiro onde em março de 1935 transmitiu pela primeira vez uma partida de futebol! Palestra Itália e Botafogo pela Rádio Cruzeiro do Sul, RJ.
 
Sua história se confunde com a história do rádio!

Trabalhou nas melhores da época como por exemplo Rádio Mayrink Veiga, Nacional,Continental,Tupi, Globo. foi ele que em 1944 fundou a Rádio Globo do Rio de Janeiro junto ao jornalista Roberto Marinho.

Jovem, visionário,sonhador, saiu do Brasil em 1938 rumo a Europa no navio inglês Arlanza, para fazer a transmissão dos jogos do Brasil daquela Copa do Mundo! 17 dias "al mare"!


As pessoas não acreditavam! Mas o que se ouviu foi pura magia! Com sua voz forte, seu português impecável transmitiu em ondas curtas e médias aqueles jogos que encantavam o Brasil!

 
Não foi só São Paulo e Rio de Janeiro que pararam para ouvi-lo,foi o Brasil inteiro.O povo se unia nas praças(como hoje) e Getulio Vargas decretou feriado a cada jogo e assim seu nome ficou conhecido nos quatro cantos do país!


Virou uma figura das mais importantes! Todos reconheciam aquele "feito"!


Criou a função do repórter de campo, do comentarista esportivo, as mesas redondas, e apelidos ao jogadores, como Diamante Negro, coisas que até hoje continuam na mídia.passou para o português todos os termos do futebol, como correr que ficou escanteio e outros.


Ele era de vanguarda!
 
Muitos o chamavam de louco, atrevido nas suas mirabolantes ideias!


Era louco sim! Louco por futebol, pelos esportes, pelo rádio, mais tarde pela TV e principalmente pelo Brasil
Está no Museu do Futebol e existem duas ruas com o seu nome, uma em São Paulo e outra no Rio de Janeiro!


Casou-se com Lygia Caldeira Gagliano e teve quatro filhos, um homem e três mulheres.


Uma delas sou eu! 


Orgulho de ser filha dele! Meu pai ,meu herói!


Foi embora muito cedo aos 62 anos de idade em 5 de março de 1974!


Saudade eterna.





Por Lygia Caldeira Gagliano