quinta-feira, 30 de maio de 2013

O PEDIATRA




Pediatra nem sempre acerta. Quando minha segunda filha nasceu eu já conhecia o Dr. Luiz, por ser um medico de nome no bairro de São Miguel Paulista e por ter cuidado muito bem da minha primeira filha e dos filhos de meus amigos.

Logo na segunda semana após o seu nascimento, fui até seu consultório levando nos braços a minha pequena Mariana, que não estava aceitando o leite que o hospital havia recomendado (não sei bem porque, mas eu não tinha leite para amamenta-la). Após exame clinico, Dr. Luiz mudou o leite e me tranquilizou. Fui para casa com a esperança que ela iria devorar a mamadeira, com certeza devorou, mas por pouco tempo, regurgitava tudo que havia entrado.

 Volto ao medico para mais uma tentativa e nova mudança do leite, mas nada animador ela regurgitava toda vez que mamava. Dr. Luiz já não sabendo mais o que fazer, pediu então para que seu filho, também pediatra, pegasse o caso, mas não obtivemos resultado de melhora.

Como a situação estava ficando precária, resolvi levá-la ao hospital do Servidor Publico Estadual situado na Avenida Ibirapuera, 981, em Moema.

Neste hospital, minha pequena foi internada imediatamente, pois havia perdido muito peso. Fizeram vários exames e foi constatado salmonela, uma bactéria que os bebês podem pegar no local em que nascem nos informou a pediatra. Para que ficasse recuperada totalmente ela ficou nove dias internada.

Todos os dias eu e meu marido íamos vê-la para acompanhar sua recuperação. A pediatra responsável pelo caso era muito atenciosa e nos passava o relatório completo do dia e assim ficávamos confiantes de que tudo ia passar, até o dia em que pude trazê-la para casa novamente.

Decorrido um mês, veio uma recaída, então não tivemos duvida, voltamos ao mesmo hospital e lá deixamos a pequena por mais sete dias. Desta vez tivemos a sorte de encontrar o Dr. Roberto, um pediatra que realmente gostava do que fazia.

 Após a alta de minha filha, ele nos pediu para que fizéssemos o controle mensal de consultas durante o primeiro ano de sua vida no próprio hospital onde ele se ofereceu para ser o pediatra permanente. Claro que aceitamos apesar do hospital ser longe de casa, valia a pena pelo carinho e interesse do Dr. Roberto, que aos poucos foi ganhando nossa confiança e o carinho da nossa pequena.

Com a ajuda do Dr. Roberto, a Mariana foi se desenvolvendo e ganhado peso de uma forma saudável. Nunca o esqueci, hoje não sei mais onde ele se encontra, mas sou muito grata por tudo que fez pela minha filha.

Não sei como anda este Hospital atualmente, mas naquela época pude constatar que o setor de pediatria era um dos melhores de São Paulo. Nota dez para a higiene, limpeza, recursos, pelos ótimos médicos e o mais importante o carinho que seus profissionais tinham pelas crianças. Tomara que tenha continuado assim até os dias de hoje!

A Mariana cresceu com saúde e hoje ela é mãe da Lícia.



Por: Margarida Peramezza  

sexta-feira, 24 de maio de 2013

UM CASAMENTO DE “SONHO DE VALSA” COM “DIAMANTE NEGRO” - (de quebra, uma “prótese remendada”)


Por volta das décadas de 1960\70\80, minha atividade de representante comercial da Pan Brasil, indústria de embalagens, (já extinta), além de proporcionar satisfação pessoal e profissional, tinha, também a grata e sempre apreciada relações e conhecimentos com pessoas, das mais variadas procedências, etnias, atividades, cultores de vida regrada, extravagantes, sóbrios, arrogantes, modestos, simples, corretos, de destaque social enfim, dentro do universo imenso que o panorama oferece. Se formos traçar uma metáfora com  as mais diversificadas cores do arco-íres, recorreremos aos tons mais sofisticados, enriquecendo sobremaneira, a quem  interessar possa, ter conhecimentos do perfil humano que existe em cada um dos contatos.

Nestas emoções contatei com as mais expressivas empresas, principalmente de alimentação, o setor onde mais me identifiquei.  Apesar de contatar, também com laboratórios na venda de material pra blister, não foi muito profícua minha atividade nesta linha. Tinha a ventura de oferecer meus produtos a empresas do porte de uma Nestlé, Confiança, (na época, Tostines), Bela Vista, Mirabel, Sal Cisne, Neusa, Lacta, Wickbold, Pão Pullman, Bauducco, Chiclet Adams, Chocolates Pan, Arcor e algumas, de outros municípios e cidades, formando um leque de clientes de respeito e consideração.

Em cada um deles sempre tem algo de interessante pra gente contar. Alguns, com certa intimidade que recorremos ao silêncio, deixando pra uma ocasião mais propícia. Vou focar, de princípio a Lacta onde, além de vários funcionários, conheci o dr. Adhemar de Barros Filho, detentor, na época, da presidência da empresa, senador, personificação da simpatia, respeito e bondade em uma pessoa de prestígio.

Ao passar, hoje pelo local onde estava instalada a Lacta, na Barão do Triunfo, Brooklyn, com uma bela e impressionante área industrial, (hoje, só prédios de apartamentos, em vez do doce aroma de chocolate, aspira-se... bom, deixa pra lá)  dá vontade de chorar, lembrando de produtos populares como Bis, Diamante Negro, Sonho de Valsa, barras e Ovos de Chocolate Lacta, balas e outros bombons, todos identificados com São Paulo, cidade que os viu nascerem, desde a pequena instalação na José Antonio Coelho, na Vila Mariana.

Entre meus contactos na Lacta, lembro bem do Roberto Pascoal, do José Palhares, do Roberto Casagrande, do Codadá, secretário do dr. Adhemar, hoje meu vizinho, vários outros que a memória me escapa.
O grande desafio que os fornecedores de embalagens enfrentavam (ainda enfrentam...), era acertar a tonalidade do “rosa fanal”,  tonalidade do envoltório do bombom Sonho de Valsa, símbolo de uma era paulistana, cuja embalagem, até hoje conhecida, foi desenvolvida por José Tcherkasky, (Toga), uma das maiores industrias de embalagens da América do Sul. Além da tonalidade há o problema da fixação da tinta no celofane. Por isso essa cor é proveniente de uma anilina importada (na época) caríssima, depois da impressão, a transparência permite um vislumbre metálico, com o fundo de alumínio que envolve o bombom.  Se, porventura algum fornecedor, pra vencer uma concorrência, utilizar uma tinta mais barata, o material é testado em câmeras próprias, como se o bombom estivesse exposto numa vitrina, perde, de imediato a cor, o “rosa” desaparece e o celofane fica transparente. O material é totalmente devolvido e esse fornecedor perde o cliente, também. E com o restante dos produtos, ocorre o mesmo.

Os contatos sempre foram dentro do maior respeito e camaradagem, sem as inoportunas e malsucedidas negociações tão comuns, hoje em dia, na política. Tanto isso é um fato que mantenho amizade, até hoje,  com vários contatos desde aquela época. Todos sabem que quando as negociações são concluídas com distorções nebulosas, ambas as partes evitam, o máximo, um inesperado reencontro.

Dentre estes funcionários da Lacta, se encontrava o simpático e correto comprador José Palhares, moço, noivo preparando-se pra casar.
Numa ocasião, a Lacta, festejando 50 anos de fundação, celebrou, (não lembro o ano), oferecendo farta comilança e, de alegria, a voz do show-man, Toquinho, pela qual, recebi um convite pra mim e minha esposa. Formidável, pelo show e pela deferência, graças a interferência do Palhares, guardo até hoje um CD do Toquinho.

Chegou o casamento do Palhares, a ser realizado em Iacanga, sua cidade natal, localizada na região de Bauru. Palhares não só me convidou, me intimou a ir ao seu casamento. Disse a ele que não conhecia Iacanga, nem de nome quanto mais, chegar lá.  –
“É fácil”, disse Palhares, “vc vai pela Castelo Branco, até o fim, quando chegar a Bauru, ao invés de entrar a esquerda, entre a direita, pronto, já estas em território iacanguence. São “só” 400 quilômetros, (ou mais), não precisa se preocupar com a volta, (casamento num sábado), vocês vão pousar na casa da minha tia; na cidade tem algumas pensões, mas pra uma noite só, minha tia garante.”

Infelizmente não lembro do nome dessa tia do Zé mas, (vamos chama-la de dna. Vera,) da sua acolhida, sua recepção, seu carinho e gentileza, nunca mais vou esquecer. Que gente boa que existe nesse interior afora, meu Deus, dava a impressão de ser eu o noivo e não seu sobrinho. Com nosso Opala, pegamos a estrada bem de manhãzinha e completamos a viagem tranqüilamente.
O casamento foi realizado num descampado atrás da residência de dna. Vera, com aquela fartura que só estas famílias sabem proporcionar. Churrasco, a vontade e outras variedades de salgados, doces caseiros, bebidas acompanhada sempre de músicas populares e sertanejas. Um casamento pra nunca mais se esquecer.

Aí ocorreu o principal fato que obrigou minha memória a solidificar, mais ainda, essa lembrança. Estava com a Myrtes, saboreando uma deliciosa bisteca quando, ao morder o referido naco, senti, na boca, algo estranho, corri pra toalete, abri a boca e, apavorado, percebi logo o que acabava de acontecer: minha prótese inferior partiu, quebrou, “porca miséria”, como iria continuar a comer, como iria conversar, como explicar, que vergonha,  que raio de azar o meu.
Procurei logo o noivo e lhe contei o ocorrido.  –“Pô, Modé, tenho certeza que o nosso boi não era tão velho assim, acho que você mordeu o osso,” falou o Palhares, caindo na gargalhada. Eu, com a boca de “chupa-ovo”, não sabia o que falar e, aí veio em meu socorro a tia Vera. A pedido do Palhares ela indicou um dentista que estava no casamento.
O “tiradentes” me levou ao seu consultório, bem pertinho dali. De princípio, fiquei com receio, o pseudo consultório tinha de tudo. Galinhas, patos, pintinhos, um cesto com ovos, frutas, de várias espécies e... uma poltrona. Convidou-me a sentar e, vendo minha cara explicou: Tenho alguns pacientes sem condições de arcar com uma obturação ou qualquer outro servicinho e eles me pagam com espécies das mais variadas origens...

Em poucos minutos, arrumou a prótese e voltei a gozar da festa. Bem a noite, os noivos foram pra sua viagem de núpcias e nós, eu e a Myrtes, nos recolhemos a um dormitório aconchegante, lençóis limpinhos, cobertores perfumados, até. De manhã, (queríamos sair bem cedo), dna Vera, nos despertou com um café da manhã “5 estrelas”. Salgados, frutas, doces caseiros, bolos e um cesto, com as melhores guloseimas que dna Vera produziu. 


Quando reencontrei o Palhares ele me explicou que sua tia tem um “coração de ouro”, e que quando ele falou de mim, ela nem quis saber mais nada, “pode trazer seu amigo aqui, ele será bem atendido” E, fui... nunca vou esquecer essa bondosa e educada senhora, infelizmente, nunca mais voltei a Iacanga, o Zé Palhares sempre morou aqui em São Paulo. E vou dizer outra coisa, a emenda na prótese dura até hoje.


Por: Modesto Laruccia