sábado, 31 de dezembro de 2011

Memórias Natalinas


Estamos em Dezembro, mês de festas, de confraternizações, de religiosidade. Mês das árvores enfeitadas de bolas e luzes. Mês dos presépios representativos do nascimento de Jesus Cristo, desde os mais simples com as figuras de José e Maria, uma manjedoura abrigando Menino Jesus e, ao fundo, um burrico e uma vaquinha, até os enormes e detalhados presépios que abrangem desde a época do nascimento de Jesus Cristo até os dias atuais, numa miscelânea de tempos e objetos.
Pois muito bem, Natal, para mim, é vida, é alegria. Mesmo quando nos momentos mais íntimos, nas horas mais contemplativas, quando a lembrança chega de mansinho e lembro-me da minha velha mãezinha que me deu adeus num final de tarde de 25 de Dezembro e foi ter com a Luz em outro plano, não consigo ficar triste.
Fui criado numa família que respeitava essa data e fazia questão de comemorá-la reunida.
Comemorávamos a Ceia Natalina, servida, impreterivelmente após a alegria das doze badaladas que anunciavam o nascimento de Cristo. Nesse momento nos abraçávamos, brindávamos a data com uma taça de champagne e trocávamos presentes (momento esperado com ansiedade por nós, as crianças).
A ceia era farta, pernil suíno, frangos assados (às vezes um peru), maionese, farofa, arroz, frutas frescas e frutas secas e, lógico, o panetone. No dia 25, ao almoço, tínhamos farta e generosa lasanha, feita por minha mãe e todas as sobras da ceia. Lembro bem,os adultos ficavam à mesa, por muito tempo após o termino da refeição, jogando conversa fora, enquanto nós, crianças, curtíamos nossos presentes e mordiscávamos frutas secas, frutas frescas e doces.
Falar de Dona Thereza é lembrar de vários natais, e lembrar de meus natais é reviver um rosário de emoções. Muitas são as lembranças, entre elas, uma se apresenta e, pululando entre as minhas idéias, busca ser escolhida como a principal. Não conseguindo me desvencilhar dessa inquieta memória, me rendo a ela e a elejo como minha principal lembrança natalina, então cabe agora caprichar no relato, vamos tentar:
O ano não tenho certeza, mas vamos situar-nos como se fora entre os anos de 1948/1950, o local, com absoluta certeza é a minha casa na Rua Augusta, 291.
O Sr. Alfredo (meu pai) numa de suas viagens profissionais comprou um leitão e mandou despachá-lo para nossa casa.
Assim, um belo dia de Setembro, chega em nossa cassa,o alegre e espalhafatoso bacurinho, que deveria ficar solto em nosso quintal e muito bem alimentado para, já gordinho, enriquecer nossa ceia natalina.
Solto no quintal, juntou-se logo com os de igual idade, nós as crianças da casa, eu, meu irmão, minha prima e meu primo. Foi então batizado, ganhou o nome de Pepeu.
Os dias passavam e Pepeu ficava cada vez mais gordinho e cada vez mais amigo, nosso companheiro. Abríamos a porta da cozinha para ganhar o quintal, gritávamos por seu nome e ele atendia ao nosso chamado e conosco brincava.
Eis que, senão, quando adentramos no mês de Dezembro, época do Natal, um belo dia, a sentença foi decretada, Pepeu estava com os dias contados. Iria ser sacrificado para ser copiosamente devorado na Ceia de Natal.
Nós, os companheiros de arruaças do pequeno suíno, iniciamos uma campanha contra sua morte. Choros, rogos, teimosias, desobediências, tudo que era infantilmente possível foi tentado. Mas, de nada adiantou e, no dia aprazado, um vizinho experiente nesse tipo de sacrifício e de olho num bocado de carnes do Pepeu, chegou em casa para cumprir a sentença.
Foi terrível. Ainda hoje tenho em meus ouvidos os guinchos do coitado do Pepeu. Depois de algum tempo, os guinchos pararam de machucar nossos ouvidos e eu tive a certeza, “consumado est”, Pepeu estava morto, assassinado brutalmente.
Foi um Natal meio triste, as crianças, Dona Thereza, Dona Neide e Dona Zazá, tomaram uma decisão, não iriam sequer, experimentar aquela “iguaria”, passariam, se preciso fosse, a pão e água naquele Natal.
Como diz o velho ditado: “Felicidade de uns, infelicidade de outros” a mesa da vizinhança, naquele oportunidade, ficou mais rica, muitos tiveram pedaços do Pepeu para se alimentar.
Nós? Ora, nós passamos muito bem, como sempre passamos, comemos as comidas tradicionais de todos os natais.
Estávamos, apenas, um pouco tristes pois já não tínhamos a companhia de nosso amiguinho, mas, a vida seguiu em frente e novos Natais vieram para ser comemorados.
Por Miguel Chammas

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Reveillon 2009/2010


Queria estar em casa, em companhia dos amigos, da família.
Perguntava-me em pensamento:
- O que estou fazendo aqui, meu Deus?!
Ou eu era um tremendo masoquista, ou um covarde que, incapaz de cometer o suicídio profissional de dizer um não, optara por agonizar e morrer de tédio naquela festa de fim de ano.
O Coordenador geral convidou a todos da equipe, os efetivos, estagiários e os contratados para passar o “Réveillon” em sua casa. Como dizer não à sua majestade, o “chefão”? Como dizer não a quem tanto nos elogiava e, ao mesmo tempo, nos confiava novas pesquisas? Como estar em um lugar, onde o antagonismo se fazia presente? Efetivos e contratados não se “bicavam”. Resignação, teu sobrenome é Natale! Menti a mim mesmo. E lá estava eu, a morrer de tédio, naquela mansão do Morumbi, preocupado apenas em como voltar para casa.
Uma festa artificial. Ali, tudo era “pelo social”. Tudo na base da “rasgação de seda” e elogios falsos. Gente polida e educada, fingindo afetividade e sentimentos inexistentes. A única afinidade que havia era a relação de trabalho que, por sinal, era muito desgastante e competitiva. Estar ali me lembrou a cena do baile do filme “A Dança dos Vampiros”, do Roman Polanski.
Sentado no meu canto, bebendo champanhe, via e ouvia a “fauna” a desfilar.
Uma “perua” comenta com a amiga que “estava de branco e que, para ter sorte e dinheiro no ano novo, estava com uma calcinha amarela... Não uma calcinha qualquer! – enfatizou – Era uma Victoria’s Secret”! Satisfeita, ela ouvia as exclamações invejosas da amiga. Banalidades, futilidades.
O “garotão” malhado exibia o seu duvidoso Armani... Com aquela costura e aquela linha de poliéster, só se o terno fosse um “Armênio”, dono da confecção de roupas masculinas lá do Bom retiro! Tudo pelo social.
Uma festa cheia de conversas vazias, risinhos, hálitos alcoólicos. Abraços de tamanduá e beijinhos ofídicos.
Uma estagiária jovenzinha, caindo de porre, comenta com a amiga: -“Você sabia que “Réveillon” é uma palavra francesa”?
Putz! Pensei comigo: “Não, sua anta! É uma palavra havaiana, como a sandália!... Ri de mim mesmo e da bobagem que pensara.
Perguntava-me em pensamento: ”O que eu estou fazendo aqui”?
Isolei-me. Bom comediante que sou, deixei o meu corpo expressar os sorrisos, as piscadelas e gestos. Refugiei-me em meus pensamentos.
“Réveillon”, palavra francesa... Não é que a constatação da “anta” levou-me a passear pelo ”réveillon” e pelos anos 60?
Lembrei aqueles anos, quando muitos achavam que era importante (outros achavam uma tremenda “viadagem”) falar Francês. Era chique! Afinal, era o idioma universal, idioma dos diplomatas e tudo neste país ainda era francês: Etiqueta, roupas, perfumes; literatura, teatro, cinema; Beauvoir, Genet, Sartre, Sorbonne. Revoluções por minuto... E virou moda a tradição do “Réveillon” francês: Ostras com Champanhe!
Automaticamente, olhei para a taça que estava ao meu lado, com o conteúdo ainda pela metade... Fingia que bebia. Não conseguia engolir aquele “champagne Veuve Clicquot”. O chefão oferecera a todos, ou a mim, um champanhe “arrolhado” (gôsto de rolha). Ahahahaa!... Se o champanhe estava assim, imaginem as ostras, se fossem servidas.
Pensava: “Estou rindo de quê? O que estou fazendo aqui, droga”?!
Estava nos meus últimos estertores da agonia. Queria estar em qualquer parte. Agarrado a uma bóia, no meio do oceano.
Comecei a vagar pelos meus “Réveillons” de antigamente, os tais “Rei-velhão”, como dizíamos a sorrir.
Queria estar naquele escritório da Rua Álvares Penteado, onde pela janela eu despejava toneladas de papéis picados sobre a rua... Queria de volta a energia, aquela egrégora de felicidade que envolvia o hoje Centro Histórico. Queria os abraços sinceros e despretensiosos, as palavras bem humoradas dos colegas de trabalho. Queria novamente sentir a seiva da vida (o centro da cidade) a correr em minhas veias. Eu era o dono do mundo! Podia tudo.
Queria do trabalho, voltar para casa e confraternizar-me com os amigos e vizinhos! Depois, em frente ao televisor, esperar pela Corrida de São Silvestre. E, meia-noite, ao finzinho da corrida, ouvir o toque das buzinas dos carros, os sons dos apitos e sirenes das fábricas; os nossos gritos de Feliz Ano Novo dentro de casa, pela rua e o nosso incessante correr aos portões das casas tocando insistentemente as campainhas... Era preciso fazer muito barulho para despertar, acordar o Ano Novo!
Então, uma pausa para a ceia. Sentar-se e devorar o pato ou o ganso com laranja. Mas, só depois de comer três bagos de romã (tradição vinda do Dia de Reis e agregada ao Ano Novo).
Como eu queria ter de volta os meus bailes de “Réveillon” do Juventus, do Palmeiras; queria de volta aquele baile tão especial no Palácio Mauá...
Pensava: “Se eu não sair daqui o mais rápido possível, pelas minhas próprias pernas, vou sair dentro um “rabecão”! Causa da morte: Um ataque fulminante de tédio”.
Meia-noite e meia, alguém resolve ir embora e pergunta: ”Alguém quer uma carona até a Av. Paulista?"
Eu disse que queria! Ufa!... Abençoei, do fundo do meu coração, aquela boa alma.
“Largado” na Paulista, sentia-me livre e feliz! Livre demais, feliz demais para tomar um táxi e ir para casa. Precisava de movimento.
A pé, desci a Rua da Consolação, rumo ao centro. Carros passavam e buzinavam. Passageiros anônimos desejavam a mim um Feliz Ano Novo. Eu retribuía.
Andando, seguia em frente. Na Xavier de Toledo, olho para a Rua 7 de Abril das minhas correrias de office boy, dos meus passeios. Vou seguindo. Viaduto do Chá, Patriarca, Rua Direita, Largo da Misericórdia... Na Misericórdia, olho para a Álvares Penteado. Com o meu coração apertado, lembrei dos dias que vivi ali. Naquela rua está o tudo de bom que fez com que até hoje a minha vida valesse a pena!
Na Sé, à espera de um táxi, percebo que naquele momento, juntos estávamos eu e a cidade. E todos os “Réveillons” que passamos. Percebi também que o meu “Réveillon” verdadeiro havia começado quando eu coloquei meus pés na Paulista! Eu como eu sou, a cidade como ela é, acabamos por ter, juntos, um grande e Feliz Ano Novo!
Às vezes é preciso andar. Vagar. Perder-se para encontrar a si mesmo...

A TODOS, UM FELIZ ANO NOVO!

Por Wilson Natale

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Virada na Av. Paulista 2010


Este evento teve inicio com muito sucesso em 1997.
Era um projeto da prefeitura para acontecer na virada do século, mas resolveram colocá-lo em prática um pouco antes, fazendo a virada de 1997 para 1998 e então não parou mais.
No ano de 2010, tive a oportunidade de experimentar a virada na mais linda avenida da cidade, pelo meu olhar. Minhas filhas, genros, netos e eu ficamos bem em frente ao palco montado pela prefeitura de São Paulo e desfrutamos do maravilhoso show que aconteceu naquela noite. Era evidente a felicidade em nossos rostos, ver tudo tão próximo enchia nossos corações de emoção.
A Avenida Paulista, toda iluminada, com sua bela decoração natalina e cheia de gente vestida de branco, formava um cenário de inigualável beleza, sem falar no coral formado por milhares de pessoas que cantavam com a alma as músicas apresentadas naquela noite para brindar a chegada do ano novo.
Este momento ficou marcado em nossas vidas, principalmente pela contagem regressiva e o festival de fogos de artifício que, durante 15 minutos, iluminaram a Avenida Paulista. Sentir a vibração de milhares de pessoas que lá estavam, com a mesma finalidade que eu, é ver a vida acontecer, é acreditar que a paz existe dentro dos corações e que o amor ainda é a maior fortaleza da humanidade.
Agradeço a Deus por ter vivido intensamente este momento e pela realização de mais um grande sonho de minha vida.
Deixo também meu agradecimento a João Carlos, meu querido genro, que colaborou com a nossa presença neste evento para dar adeus ao ano velho e felicitar o ano novo.
A Avenida Paulista está fazendo aniversário então faço um brinde a este recanto e encanto mais badalado da cidade de São Paulo.
Aproveito para desejar um Feliz Ano Novo a todos os amigos do grupo, cheio de conquista e muitas realizações.

 
Por Margarida Peramezza

domingo, 25 de dezembro de 2011

Um bebê e o Natal

O mês de Dezembro de 1982 foi muito especial para mim.
Exatamente no dia 6 nascia meu filho Vicente, às 22:10 h, de um parto normal, no Hospital João XXIII, na Mooca.
Era um bebê lindo, gordinho... Nasceu com 4 quilos e duzentos gramas... Imaginem!
Eu já tinha minha filha, Kátia, que estava com quase cinco anos (4 anos e 8 meses); já frequentava a escola, mas, naquele período já estava em férias.
A vida seguia num ritmo quase normal, afinal, agora eu tinha mais um filho em casa... Um bebê que, embora muito bonzinho, exigia todos os cuidados necessários.
Com a presença de um recém nascido em casa, o tempo passa a ser calculado de acordo com as trocas de fraldas e a próxima mamada, sem deixar de cuidar de toda a rotina da irmãzinha maior, além de todo o trabalho que uma casa exige. E eu, logo depois do parto, sofri uma hemorragia uterina intensa, levando-me a ficar mais em casa. Sentia-me bem cansada e não tinha vontade de sair, de passear, de ir a festas, etc.
Os passeios com a pequena Kátia eram feitos pelo pai, pois não era justo privá-la destas coisas de criança.
Logo chegaria o Natal e as festas de fim de ano, mas, a situação era nova. Tínhamos um bebê recém nascido em casa que exigia cuidados especiais, além do meu estado de saúde... Eu precisava me recuperar.
Então, decidimos que o Natal, naquele ano, passaríamos em nossa casa, proporcionando conforto e tranquilidade ao nosso bebê, à nossa filha e a nós mesmos.
As tradicionais compras de Natal eu já havia feito, antes do bebê nascer, justamente porque eu queria muita tranquilidade para nossa família depois do nascimento.
Assim foi feito. Arrumei e enfeitei toda a casa, como de costume, preparei toda a comida, sobremesas e ficamos em casa, na noite de Natal, com nossos filhinhos e com a visita de alguns familiares.
Foi um Natal de muita paz e alegria, com a benção de Jesus.
Feliz Natal a todos. Prosperidade para 2012!
Muita paz!

Por Sonia Astrauskas

sábado, 24 de dezembro de 2011

Nosso querido amigo Zeca deixou a todos nós este cartão.
Entrego-lhes.
Muita paz!




quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Papai Noel, Reis, Befana e o Transtorno de Ser Natale no “Natale”

Este texto vai como agradecimento para o meu amigo Giggio, que me mandou um e-mail de Natal, com a Befana, e também para o Saidenberg, que conhece a Befana, a quem reenviei o dito e-mail. Eles são os responsáveis por despertar a esta Memória que envio ao Memórias de Sampa.

Dona Lídia, aos gritos, contou tudo para a minha avó.
Vovó, aos gritos, deu-me uns bofetões e disse-me que iria me dar um “bom remédio” para “curar” a minha boca suja e foi encher uma colher de “zafferano” (açafrão) em pó.
Vovô disse à vovó que ele prepararia o “remédio”. Cortou um pãozinho ao meio, regou com azeite e colocou uma pimenta vermelha bem grande. Veio até a mim e com um sorriso e uma piscadela e me disse:
_ “Coma tudo! Não quero ver nem uma migalha de pão”!
Bendito vovô e pobre vovó que, atribulada com os problemas da casa, da vida, não percebera que vovô sabotara o seu castigo.
Como bom calabrês, o “nonno” adorava pimenta! E, aos poucos foi nos acostumando a comê-la. Alguns netos detestaram, outros adoraram. Eu até hoje gosto!
Peguei o pão com pimenta, enchi uma garrafa de guaraná caçula com água e fui para o portão.
Lá estava eu, lágrimas nos olhos, sentado no degrau do portão de casa quando o Giggio chegou querendo saber o que tinha acontecido.
Contei a ele...
Eu estava brincado com os amigos quando chegou aquele maldito moleque do “Trento” (trentino), o Lorenzo. Veio tentado se divertir à minha custa. Com ares de deboche, perguntou:
- Você é Natale, não é?
- Sou!
- Então, seu pai é Natale!
- Sim!
- Então, você é filho do “Babbo Natale” (Papai Noel, em italiano)!
- E daí?...
- Daí, que eu queria saber se é verdade que seu pai tem o “saco” de pano...
Calou-se e ficou me olhando com aquela cara de bosta que ele tem! Não deixei barato e respondi na lata:
- Se o “saco” dele é de pano, eu não sei. Quem pode te dizer se é de pano ou não é a sua mãe! Pergunta pra ela!
- Você está chamando a minha mãe de “putana”, ta...?
- Não! Estou chamando de “tróia” (porca, prostituta da mais baixa categoria)!
Depois disso, o Lorenzo deu-me uma tremenda bofetada e eu dei-lhe um pé na canela. Rolamos pelo chão aos socos. Ele aproveitou-se de um meu descuido e mordeu meu braço e, enquanto ele mordia, não titubeei: Dei-lhe uma tremenda mordida na orelha! Quase “arranquei ela”. O Seu Tonino, que vinha passando, nos separou e o puto do Trentino correu pra casa dele e foi contar pra mãe. E claro, a “tróia” da Dona Lídia veio aqui fazer escândalo...
Solidário, o Giggio metia o pau no Lorenzo e na “tróia” da mãe dele. De repente, perguntou:
- Cos’ca mang? (O que você está comendo?)
- Pão com pimenta e azeite.
- Delícia! Dá um pedacinho?
Dividi o “sanduíche” com ele. Giggio olhou a garrafinha de guaraná e disse:
- A pimenta é da boa, mas a água está acabando.
- Pega água na torneira do jardim...
Ficamos a comer em silêncio. De repente, o Giggio começou a rir e me cutucando, disse:
-Quem mandou você ser Natale? Todo ano, no mês de dezembro é a mesma coisa. Tem sempre “nu pezz’e merda” (um merdinha) pra fazer as mesmas piadinhas de sempre e arrumar brigas... começou a gargalhar – O ano passado... O ano passado, você mandou a Lucìllia pedir pra mãe dela vir “conferir...” e disse também que seu pai ficaria muito contente se a Lucìllia mesma fosse “conferir”. Não esqueço a cara dela até hoje!
Desatamos a rir.
E a rir fomos lembrando o quanto o Natal era confuso. Nunca entendíamos quando era o Dia de Natal. Sem entender, sem que ninguém nos explicasse, por puro interesse “interesseiro”, vivíamos o Natal em três tempos nessa nossa vidinha de “oriundi”, filho dos imigrantes...
O meu Natal “eram” três: Natal, Reis, Epifania. O Primeiro comemorado a 25 de dezembro, os dois últimos, no dia 6 de janeiro.
Os imigrantes assimilaram o Natal sem deixar que se perdesse a tradição. Mas poucos explicavam aos “oriundi” (filhos) esse exagero de comemorações. E essa tríade natalina sempre causava-nos alegrias e agonias.
As alegrias ficavam por conta dos muitos presentes. As agonias ficavam por conta dos “presenteadores” que, invisíveis, policiavam constantemente os nossos atos. Vai que um veja algo que os outros não viram e conte...
Mamãe e vovó chamavam a minha atenção, com os seus alertas em três tempos.
“Olha essa boca! “Babbo Natale” (Papai Noel) está anotando tudo!... ”
“Malcriado! Este ano os Reis Magos vão deixar terra, em vez de doces para você”!
“A “Befana” está vendo tudo, seu malcriado, boca suja, preguiçoso. Você está fazendo a pobrezinha chorar... Ela vai deixar cinzas no teu sapato”!
Papai Noel e o Reis, ao que parecia, a gente controlava. Mas, a Befana era um caso moral, emocional; um caso de amor. Ninguém propositadamente ousava magoar a velhinha. A “Beffana” (Bêfana, como pronunciam os napolitanos) era “la buona strega” (bruxa boa) velhinha que protegia as crianças e as educava com corretivos morais. Invisível e sempre vigilante, era ela quem cuidava da nossa saúde, protegía-nos contra os males e dava-nos os bons sonhos. Se mau menino, ela nos dava os pesadelos. E, no dia 6 de janeiro, em vez de docinhos e guloseimas, ela deixava cinzas nos sapatos dos maus meninos.
Quando criança, acreditava que a minha avó era a Befana. Depois, passei a acreditar que vovó, possessiva quanto aos filhos e netos, não deixaria a Befana nos fazer essa desfeita. Então, entrava silenciosamente no meu quarto e retirava o “montão” de cinzas, limpava o meu sapato e nele deixava os caramelos e docinhos.
Um “bom” menino como eu, tinha de desconfiar, não é?
Em 1969, “mudaram a agenda” da minha amada Befana. Mudaram a Epifania. Desde então, ela faz as suas visitas nos segundo domingo, após o Natal.
E, eu, o ”bom” menino cresceu e ainda guarda dos seus velhos Natais, os presentes que ganhou: O Amor, que lhe deu o “Babbo Natale (Papai Noel), a espiritualidade, que lhe deu os Reis e a solidariedade humana que lhe deu a Befana.
Felizes Natais a todos!
Por Wilson Natale

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Se aquele Cristo de outrora somente nascesse agora



E se aquele Cristo de outrora,
Somente nascesse agora.
Como é que tudo seria?
Por falta de estrebarias,
Ou então de manjedouras
Onde o Cristo nasceria?
E se José e Maria,
Também como muitos, não tivessem,
Um bom plano de saúde
Onde nasceria Jesus?
Talvez então pelo SUS,
E assim desde pequeno
O humilde nazareno,
Como o pobre brasileiro,
Já nasceria com a cruz.
Em que bairro ele nasceria?
Na Penha, na Lapa ou até mesmo no Brás.
Na Mooca no Ipiranga, ou então na Freguesia.
Seria então um visinho, um parente?
Aquele nosso parente, que a gente nunca vai ver.
Ou seria ele o herdeiro, daquele grande banqueiro.
Que um dia aportou por aqui.
E hoje vive abastado
Porém com um medo danado
De também ser assaltado
No Bairro do Morumbi.
Afinal onde o Cristo nasceria?
No centro ou na periferia
Nos Jardins ou na Vila Maria?
O que acha você disso?
Onde o Cristo seria mais cristo
Na mansão, ou no cortiço.
E seu pai José, quem seria.
Um engenheiro, um médico,
Ou simplesmente um carpinteiro?
Advogado ou servente de pedreiro?
Sua mãe como se chamaria?
Novamente Maria,
Antonia, Augusta, Aurora,
Ou mesmo uma nova Amélia,
Que era a mulher de verdade?
Qual a sua profissão?
Professora, artista, cantora?
Bonita, magrinha, gordona?
Secretária, ou lavadeira?
Qual delas lhe agrada mais?
Poderia ser faxineira,
Ou enfermeira padrão
Ou será que o nosso Cristo
Nasceria órfão de mãe,
Por falta de moças virgens.
Que assumisse a missão?
E depois já bem mais tarde,
O que esse cristo faria nesse dia tão legal.
Entregaria presentes, no dia do seu natal?
De qual igreja ele seria? Da Católica?
Da Universal?
Ou inauguraria um centro espírita.
Nos fundos do seu quintal?
Estaria ele com o Lula
Ou ficaria com o Serra
Filiado a algum partido
Ou bem longe disso tudo
Para não se comprometer,
Com tanta demagogia.
Em fim, se Cristo nascesse agora...
2000 mil anos depois
Viveria só mais problemas.
Teria poucos seguidores.
Para que time ele torceria?
Se torcesse pelo Corinthians
Ficaria sem São Paulo.
E talvez até sem São Pedro,
E nem me arrisco a dizer
Nem mesmo entre meus dentes
O nome do time do Judas,
Com medo de falar asneiras
Para não ferir uns parentes
E até alguns amigos,
Para sempre muito queridos.
Só sei que se o Cristo nascesse agora,
Nesse prezado momento,
Teria muitos e bem maiores problemas.
Perderia muito mais tempo
Só fazendo milagres,
Pois é isso que o povo quer
É disso que o povo gosta
Nenhuma televisão mostraria
O seu sermão da montanha
Ou mesmo as Bem-Aventuranças.
Alegando falta de patrocínio,
E também de audiência.
Pois isso de amar o próximo
Há muito tempo já era.
Se ele multiplicasse os pães, como também alguns peixes.
Aí então é que o pobre estaria mesmo perdido.
Fugindo dos peixeiros e de um monte padeiros enfurecidos.
Se falasse contra o adultério
Seria um caso bem sério.
Se falasse contra a corrupção, Então...
Seria assassinado, morto e no lugar de sepultado,
Cristo seria cremado, para não mais aparecer,
Entre nós ressuscitado.
Se aquele Cristo de outrora
Nascesse somente agora.
Nem sei bem como seria.
Só sei que o pobre coitado
Bem mais cedo morreria,
E quase ninguém saberia
Pois os jornais nada diriam
As TVs não mostrariam
Estariam todas ocupadas
Com uma audiência danada.
Mostrando aquele PAPAI famoso,
Com seu sorriso gostoso. HO, HO, HO, HO.

Por Arthur Miranda (tutu)