segunda-feira, 31 de outubro de 2011

O Ministério da Saúde informa: Trabalhar feito louco faz bem pra saúde!


Meu nome é Joaquim Ignacio, sou Técnico de Enfermagem aposentado e acho melhor explicar logo que diabo de texto estou tentando escrever. Estou imaginando falar sobre meus últimos empregos e a luta que foi minha vida. Vou pedir desculpas antecipadas por, a partir de agora, escrever na 1ª pessoa.

De repente as luzes se apagaram. Gritos, palavrões, ameaças de quebrar tudo, “...funça vai morrer!”
Os plantões no Hospital Central do Sistema Penitenciário, no Carandirú, podiam ser tudo, menos monótonos; nós, os ‘funças’ (funcionários), vivíamos com os nervos à flor da pele – perdão pela frase clichê; clichê, mas a única que pode definir corretamente a maneira pela qual passávamos aquelas 12 horas do plantão, pois o medo de uma rebelião, ou fuga em massa dos reeducandos da Penitenciária, ou da Detenção e invasão do hospital, era permanente. Os médicos, a maioria residentes da área de Infectologia, eram provenientes do Emílio Ribas e viviam ainda mais assustados do que a gente; examinavam os pacientes em suas celas enfermarias, acompanhados de ASPs (Agentes de Segurança Penitenciária), armados de fuzil ou pistola. As médicas sofriam ainda mais devido àqueles temores femininos, medo de estupro, de homicídio. Muitas passavam o plantão chorando, apavoradas, maldizendo aquelas horas, com medo de tudo, com nojo de vômitos, sangue, fezes. Confesso que, pelo menos da parte dos pacientes, fisicamente, não havia nada a temer; eram todos soropositivos para HIV e 90% deles estavam morrendo. Os 10% restantes, melhoravam, recebiam alta do hospital, voltavam para seus ‘barracos’ (celas) na “Penita” ou na Detenção, se entupiam de drogas, não cumpriam as medidas terapêuticas e acabavam por voltar para o hospital, já prontinhos para serem plantados em alguma cova rasa da vida (ou da morte).

HISTORIAS E ESTÓRIAS
Acredito que a maioria das pessoas não faz idéia de quanto ganha um profissional de Enfermagem em São Paulo. Não sabem, né? Pois eu digo: a remuneração é uma miséria, daí a necessidade de 2 e, às vezes, 3 empregos. Claro que eu, pai de 5 filhos, atolado em contas para pagar até a hipófise, não poderia fugir à regra; na ocasião eu trabalhava no Ambulatório do “Leite Paulista” no Brás, no Hospital Sabóia do Jabaquara e no Hospital Central do Sistema Prisional. Não me perguntem como é que eu dava conta de 3 empregos e alguns bicos que apareciam vez ou outra, que até agora eu não sei explicar, mas, nunca dei mancada, nunca faltei a nenhum plantão, mesmo porque eu precisava; meu filho mais velho estudava na UNESP, em Franca, e eu mandava dinheiro e meus vales refeição para ele que não conseguira emprego na cidade; ajudava os outros filhos pagando colégio, cursinho e o diabo à quatro. A Dona Odete, minha amantíssima esposa, também segurava uma barra; já não tinha mais o salão de beleza que fundara, devido a um enfisema pulmonar adquirido graças aos compostos químicos usados para tintura de cabelos, permanentes e procedimentos correlatos. Então, aprendeu a fazer apliques de cabelos, mega hair (acho que é esse o nome da técnica), e conseguia tirar algum dinheiro com essa ocupação, o que nos ajudou muito.
Um dia eu percebi que ia travar e saí de férias no Saboya, precisava ter uma noite de sono normal, nada de cochilar por uma hora, ou menos, em cima de caixas de soro, dentro de salas de material contaminado, nada de atender uma ala semi-intensiva com mais de 40 leitos, sem condições nem de parar para urinar ou beber água; essas coisas tinham de ser feitas naquele tempinho reservado ao descanso. Gostei de estar em casa e resolvi que não morreria por ter apenas 2 empregos, portanto, ”adeus Saboya”.
Fiquei apenas com o Leite Paulista e o Hospital da cadeia e, eventualmente, dava aulas para cursos de formação de Atendentes de Enfermagem, mas isso era café pequeno.
Uma bela noite, quando cheguei para o plantão, alguém me avisou: - Fica esperto Joaquinzão! Os homis começaro a mandar a bandidagem barra pesada prá interná ca gente.
- Mas aqui só tem aidético, fulano. Aonde vamos por essa gente? Isso é um perigo, meu!
- Us cara num qué nem sabê. Diz que hospitar é hospitar. Diz que vai virar hospitar gerar...

**********
Um preso saudável fazia o papel de faxineiro, atendente e preparador de cadáveres; estava naquele esquema de 3 dias trabalhados, 1 dia a menos na pena. Nunca soube seu nome, mas seu apelido era Bronquite. Um dia, o Bronquite me chamou num cantão: - ...siguinte, ‘seu’ Joaquim! Tô pedindo prá vortá prá Casa de Pedra (penitenciária). Us cara tão bolando uma fuga no dia da visita e vai sobrá prá muita gente, iscrusive prá mim!... Fica ligeiro...
Sorte minha que no dia da visita eu estaria de folga, pensei. Naquela noite, conversando com Dona Odete, contei a conversa que tive com o Bronquite e fui logo ouvindo um discurso:
- Ignacio, isso não é emprego! No começo vocês só cuidavam de aidéticos, o que eu já acho um perigo do c... Agora estão cuidando de bandido com dor de dente, calo, caspa, quer dizer, prá essa corja o hospital é um spa! Qualquer dia desses eles avançam em vocês e fazem reféns ou matam alguém... Sai dessa merda de emprego!...
À noite tive pesadelos, sonhei que morria atravessado por um estoque numa rebelião na cadeia... Quando amanheceu, liguei para o Leite Paulista pedindo para o meu colega da noite cobrir parte de meu plantão na parte da manhã, que eu iria me atrasar um pouco. Fui para a Av. São João, na Administração Penitenciária e pedi demissão.
Mais tarde, fiquei sabendo que muitos presos conseguiram fugir do hospital simplesmente pulando muros, após abrirem buracos nas paredes das celas-enfermarias. Nenhum dos meus antigos colegas fora molestado ou ferido...
Em 1999 me aposentei gloriosamente, firme, forte, saudável graças a Deus.
Durante muitos anos eu vivi à base de descargas de adrenalina. Trabalhei na USP em plena época da ditadura, no HC, nas clínicas de Neurologia e MI (Moléstias Infecto-contagiosas), com suas doenças sem nome e desconhecidas (AIDS já estava grassando e era uma síndrome desconhecida), na Siderúrgica Aliperti, no meio do fogo, de minério derretido à 1600 graus, respirando monóxido de carbono 12 horas por dia... Passei por tudo isso e nunca me queixei de nada.
Foi parar com tudo e infartar... Sejamos sinceros: dá prá entender?

Por Joaquim Ignacio de Souza Netto

domingo, 30 de outubro de 2011

Meus ilustres desconhecidos "conhecidos"

imagens abaixo extraídas da nternet: Ponteira da Igreja Ordem Terceia de São Francisco; carros estacionados em frente à Loja Baruel; fachada da Galeria Metrópole; fachada do Paribar.

 
Oh! “Zé Prequeté”,
Tira bicho do pé
“P’rá comê” com café
Na porta da Sé.

Nessa quadrinha do século XIX, a molecada imortalizou o negro forro por idade que esmolava sentado nas escadas, à porta da velha Sé de São Paulo.
Zé Prequeté foi apenas mais um entre os tantos ilustres desconhecidos “conhecidos” que o antecederam e os que vieram após ele.
O século XX, nas suas décadas, também teve a sua cota de ilustres desconhecidos “conhecidos”...
ANOS 60/70: Eu - o Office Boy - comecei a viver São Paulo no seu todo. Com o tempo, passei a perceber certas particularidades por vezes tão desconcertantes desta cidade tão próspera. Observando, descobri uma multidão anônima que parecia transitar invisível aos olhos do povo. Dentre esses anônimos alguns se destacaram ao ponto de fazer parte do dia-a-dia dos transeuntes e da história da cidade. E eu, nas minhas andanças conheci muitos desconhecidos que se tornaram ilustres:
O TÍSICO – Por anos ficou sentado à porta da Ordem 3ª de São Francisco. Magérrimo, aparentando mais idade do que realmente tinha, recitava versos clássicos, poesias dolentes entre os acessos de tosse e os escarros de sangue. Era um declamador nato! O povo o rodeava e ao sair deixavam-lhe boas esmolas. Ficou famoso. Mas não somente pelo dom de declamar. Descobriu-se que ele era viciado em drogas. Que a sua tísica era fingida e a tal cusparada sanguinolenta era provocada por uma agulha, com a qual ele disfarçadamente, feria a própria gengiva.
O LEPROSO: Esmolava na esquina da Direita com a Sé, junto aos tapumes de demolição da antiga “Casa Baruel”. Depois, ora no Largo da Misericórdia, ora na Praça Patriarca ele implorava pela caridade exibindo a sua dor e a perna coberta com uma bandagem suja a revelar sangue e pus. Implorava pelo óbolo que ajudaria a comprar sua caríssima medicação. Passa o tempo e ele não melhorava. A polícia vai atrás e descobre o engodo. Um dia os policiais chegaram de repente e para escândalo dos transeuntes, meteram-lhe o cassetete na perna enfaixada, arrancaram a espessa bandagem e trouxeram à luz o gambito perfeito do “pobre leproso”.
Mas, nem só de expedientes fraudulentos ou escusos viviam os ilustres desconhecidos. Muitos pareciam mais a saltimbancos ou saídos da Commedia dell’Arte. Anônimos que às vezes, com falcatruas rocambolescas, encenavam uma tragicomédia de sobrevivência e nunca a tragédia de suas vidas.
DIANA: Catava papel. Seu reduto era o Largo Sete de Setembro. Era uma mulher negra, alta e esguia que insistia em usar pó-de-arroz branco e um incrível batom vermelho a delinear-lhe a boca sem dentes. Uma rosa de plástico enfeitava-lhe os cabelos ruins e armados. Faceira e cheia de dengos, vivia fazendo lanche com os advogados e contínuos do Fórum. Mas era “movida a álcool” e, quando tomava todas e mais algumas, “pirava” de vez. Gritava, xingava, ameaçava as pessoas; tirava a roupa toda e ficava desfilando. Quando alguém tentava se aproximar para “cobrir-lhe as vergonhas”, ela tirava da boca uma gillette – coisa de puta velha – e ameaçava. Só sossegava quando chegava a viatura da Ronda da Sé. Diana adorava os policiais. Então se recompunha, vestia-se e fazia “caras e beicinhos” para eles, toda sedutora. Um dia desapareceu.
RITA BISCATE: Viciada em cheirar éter. “Fazia a vida” na Sé. Seu “ponto” era na porta do Santa Helena e, as vezes, na porta do bar que ficava nos baixos do Ed. Mendes Caldeira, na esquina da Sé, com a Irmã Simpliciana (Stª. Teresa). Parecia uma garotinha. Era despachada, bem-falante e adorava a molecada. Vinha rindo ao nosso encontro, sempre dizendo a velha frase: “Estudante paga “meia” e boy também ”! Matava-nos de rir quando dizia a sua frase preferida: “Vamos lá, minha gente. Estou em fim de feira. A xepa é mais barata”!
PÉ-NA-COVA: Era um pedinte que transitava pelos restaurantes e bares da Avenida Ipiranga, São Luís e Galeria Metrópole. Vinha aplicar o “golpe da receita médica”, dizendo-se “cardíaco, epilético, asmático, diabético”. Ríamos dizendo a ele: “Meu amigo, você está morto e não sabe”!
VÓ: A figura mais doce e terna que conheci. E a farsante mais perfeita que conheci! Era quase octogenária, vinha na madrugada, apoiada em uma muleta, a oferecer flores aos freqüentadores do Arpeje – na São Luís; do Lecco, do Barroquinho - na Galeria Metrópole e do Pari Bar. Figura enternecedora e cativante a nos oferecer botões de rosas que não ousávamos recusar. Doía no coração ver aquela senhora lutando para se sustentar. Mas... Mas um dia, para variar, veio a polícia e esclareceu tudo. VÓ tinha uma “capivara” que media metros e que vinha de décadas. Nela constava todo o tipo de “trambiques”, golpes, “contos do vigário”, “suadouros”,etc. E VÓ foi presa, representado a doce velhinha florista, cujas flores eram roubadas pelos “pixotes”, lá no Largo do Arouche.
PAGANINI: Uma figura digna de um filme de Murnau. Intitulava-se “violinista incompreendido”. Circulava pela Dom José Gaspar, onde, na calçada em frente ao Pari Bar costumava dar “audições”. Vez ou outra se exibia nas escadarias do Municipal. Ele era um “virtuose” psicopata a assassinar a obra dos grandes mestres e os nossos ouvidos. E, como um inquisidor, torturava magnificamente o pobre e nobre violino. Morreu atropelado na Vieira de Carvalho...
Eis ai alguns ilustres desconhecidos que eu “conheci”. Alguns, entre os tantos, que dariam páginas de histórias. “Conhecidos” entre aspas porque conheci-lhes o Existir e não o Ser. Comprei-lhes a farsa que representavam e não a vida que viviam... Pena. As décadas passaram e, como disse o pesquisador Affonso A. de Freitas, eles “desapareceram na voragem do Tempo”.
Em silêncio, como a não querer nada, eles entraram por todas as portas desta São Paulo e aconteceram por um ano, uma década ou mais. E, pelas mesmas portas saíram em silêncio, deixando suas marcas na cidade e nas lembranças de cada um.

Por Wilson Natale

sábado, 29 de outubro de 2011

Coitada da Waldelice



Gostei muito do texto do Natale! Mas gostei tanto mesmo que acabei me inspirando, após um longo e tenebroso outono, seguido do inverno e resolvi também contar minhas experiências “cabeludas”.
Assim como ele, eu também fui agraciado com belos cabelos alourados, transformados num chuca-chuca sobre cachinhos, desde a minha mais tenra infância até por volta dos meus quatro anos, quando meu pai, corajosamente, nos levou, a mim e ao meu irmão, para o salão de barbeiro e mandou cortar no estilo americano. Sorte do meu irmão que, sendo mais novo que eu um ano e meio, usou os ditos chuca-chuca e cachinhos louros por menos tempo! O corte americano é aquele com a nuca e as laterais da cabeça raspados e na parte superior, com comprimento médio com topetinho. É também conhecido como corte militar.
Em casa, minha mãe esbravejava e minha avó resmungava pelos cantos. E as tias, quando chegavam, levaram tempo para esquecer a indignação sobre “o que haviam feito com os cachos do garoto?” O mais engraçado é que isso gerou uma rebeldia geral entre os meus tios, que também levaram os meus primos para cortarem os cabelos, saindo dos cabelos em cachos, ou daquele tigelão esquisito e ficamos todos com o corte americano mesmo. A mulherada da família esbravejava, mas naqueles tempos, quem “mandava nos meninos” eram os pais e assim vivemos todos em harmoniosa desarmonia.
Quando passei para o ginásio, substitui o corte americano pelo meio americano, aquele onde o barbeiro raspava apenas metade das laterais e da nuca, deixando um pouco mais de cabelo na cabeça. Parece que era uma espécie de acordo tácito entre os garotos: saindo do primário, já podiam ostentar o meio americano.
Tive uma passagem pelo seminário e durante esses anos, o corte padronizado para os seminaristas era o americano. Assim, meus cabelos regrediram aos tempos do primário, já que eu nada podia fazer, pois era um seminarista obediente e bem comportado. Mas quando saí do seminário...
Devido ao Elvis Presley, aos Beatles e aos Rolling Stones, e também ao Roberto Carlos e à turma da Jovem Guarda, uma silenciosa revolução estava em andamento nos usos e costumes da garotada da minha idade. Os cabelos cresciam, alguns mais, outros – como os meus – menos. Mas os cortes até então usados foram caindo em desuso e todos queriam seus cabelos mais parecidos aos dos seus ídolos.
E foi então que surgiu o Grande Sofrimento! Eu era dono de uma bela cabeleira alourada, só que era também ondulada e o “grito da moda” eram os cabelos lisos, escorridos, que nem cabelo de índio. Nem Gumex, Glostora, Brilhantina ou mesmo vaselina davam conta da deixá-los como queríamos. Daí surgiu então a solução caseira, que se espalhou pelos quatro cantos: touca de meia de seda. Quem não gostou muito foi minha avó, que pacientemente recortava em finas tiras as meias de seda desfiadas da minha mãe, transformava tudo em um novelo e, precursora da atual onda de reciclagem, fazia delas tapetes para as beiras das camas, banheiros e até mesmo cozinha. Era tapete de crochê, feito de meias de seda por toda parte!
O truque era simples: consistia em enrolar em volta da cabeça, com o auxílio de uma escova, os cabelos molhados que ficariam presos dentro de uma touca feita com as tais meias femininas de seda, até que secassem completamente. Depois eram virados para o outro lado, enrolados novamente com a escova e, mais uma vez, aprisionados pela poderosa touca de meia de seda, até ficarem lisinhos, como se todos fossemos descendentes de índios. Ou, hoje em dia, como se fossemos todos irmãos do Justin Bieber, só que menos mariquinhas – desculpem o texto não tão políticamente correto; não resistí. Mas não podia chover! Nem garoar! E eu que morava na velha Terra da Garoa, sofria bastante tentando evitar que meus lindos e lisos cabelos alourados ficassem eriçados como se houvessem levado uma descarga elétrica. Mas no fim tudo dava certo! Afinal, éramos jovens e ávidos por novidades.
Havia também a contracultura nacional, o movimento tropicalista surgido na década de sessenta, ao mesmo tempo em que surgiam os Beatles com o pop, a Bossa Nova e o Iê-iê-iê. Seus representantes mais famosos vieram da Bahia e surgiram com o Festival de Música Popular Brasileira, onde Caetano Veloso interpretou Alegria, Alegria e Gilberto Gil, acompanhado pelos Mutantes, Domingo no Parque. Em seguida, o lançamento do disco Tropicália ou Panis ET circensis foi considerado quase como um manifesto do grupo. Além deles havia os mais bem comportados, como o Chico Buarque de Holanda, alimentado pela Bossa Nova, com canções que se aproximavam mais do samba e do cool jazz. E nessa salada toda, como estávamos vivendo em uma ditadura, vários artistas de cada movimento, tentavam mostrar seu inconformismo e seu protesto, mas nem todos conseguiram, sendo, alguns, exilados. Mas isso já é uma outra história – aliás, uma página negra da nossa história. E não cabe neste texto.
Chico Buarque, de importante família, iniciou sua carreira artística em parceria com Vinícius de Moraes e teve, em sua trajetória, contatos com Elis Regina, que venceu um festival com Arrastão, Nara Leão que interpretou a Banda, música vencedora do festival de 1966 e Jair Rodrigues, que interpretou Disparada, de Geraldo Vandré e que, por exigência de Chico, dividiu com ele o primeiro lugar no mesmo Festival. Chico tornou-se então uma das figuras mais importantes na música brasileira. Entretanto, por sua erudição e formação política, acabou se auto-exilando na Itália, onde continuou compondo. E se tornando mais conhecido e respeitado.
O grupo ligado à Tropicália tinha mais parentesco com os hippies, que surgiram nos Estados Unidos e ostentavam imensas e desgrenhadas jubas, roupas multi coloridas e colares e pulseiras em abundância. Tinham um estilo mais despojado, ou menos industrializado, mas aos poucos foram virando moda e, como tendência, esse novo colorido acabou nos guarda roupas da classe média que acabou engolindo e digerindo esse movimento – assim como todos os outros.
Eu não tinha muito a ver com os tropicalistas. Como bom rapaz de boa família e ex seminarista, era mais chegado aos modos de bom moço do Chico Buarque e minha ousadia chegava mais próxima dos rapazes da Jovem Guarda. E por falar em Jovem Guarda, eu era fã incondicional deles, indo aos domingos até a Rua da Consolação, assistir ao programa Jovem Guarda na TV Record.
Meus cabelos nunca chegaram ao tamanho dos cabelos do Ronnie Von, mas chegavam às golas das camisas. E ai de mim se os deixasse mais próximos dos ombros! Meu pai ameaçava levar-me à força ao barbeiro e mandar cortar americano! Como podem ver, o corte americano, com excessão de quando substituiu os meus cachinhos dourados, viraram ameaças assustadoras. Que acabaram se concretizando quando fui obrigado a servir ao exército e, assim, voltar ao maldito corte americano, ou militar, já que ambos eram a mesmíssima coisa.
Depois, fui um rapaz estudioso, trabalhador e bem comportado. Apenas aconteceu que, aos 23 anos, ocupando um cargo mais importante numa multinacional, fui aconselhado pelo meu chefe a deixar crescer a barba. Acontece que eu tinha uma cara de menino que não fazia juz às minhas responsabilidades nem à minha competência. E usei barba durante nove anos seguidos! Era uma barba sempre aparada e bem recortada, que me dava um trabalhão danado para manter. Aos 32 anos, cansado da minha barba, decidi cortá-la. Levei o maior susto! Não conseguia reconhecer aquele menino que me fitava do outro lado do espelho! Eu havia me tornado um adulto, mas a carinha continuava a mesma de um garoto no fim da adolescência. Mas continuei insistindo no “rosto lavado”, já que não precisava mais provar nada para ninguém. Eu já era, então, um dos mais novos e respeitados executivos de uma multinacional.
Voltei a deixar a barba crescer um pouco depois dos quarenta anos. Ela me deu uma expressão adulta e requintada. Mas em pouco tempo, raspei o rosto novamente, voltando à barba apenas após os 50 anos. Por pura preguiça mesmo! Afinal, ela havia embranquecido muito mais que os cabelos. E barba branca crescida, dá a impressão de desleixo.
Só que eu não era mais o jovem senhor de setenta quilos. A partir dos cinqüenta, comecei a engordar e, principalmente a barriga, a arredondar-se. Um dia, com minha barba branca bem aparada e recortada, os cabelos grisalhos devidamente cortados e uma bela camisa vermelha, saí para dar um passeio pela rua. Era dezembro e, parado em frente a uma vitrine, ouvi uma garotinha comentar com o namorado: “olha o Papai Noel!” Olhei para um lado, para o outro, para trás e novamente para dentro da loja. Nenhum Papai Noel à vista, Caramba! Era eu o bom velhinho! Desesperado com a surpreendente revelação do meu envelhecimento voltei rapidamente para casa e raspei a barba para nunca mais deixá-la crescer. Bem, quem sabe um dia... E os cabelos, passei a cortá-los com máquina quatro. Assim fico com aproximadamente 1 cm de cabelo sobre toda a cabeça e não preciso me preocupar com pentes ou escovas.
Agora, voltando ao Natale, entendo perfeitamente seus motivos para querer matar a Waldelice! Eu também tive meus motivos para querer matar, não a Waldelice, mas uma outra cabeleireira. Só que essa outra história vou deixar para contar em outra ocasião...
EM TEMPO: E por falar em gostar do texto do Natale, tenho o dever moral de dizer que cada vez mais estou gostando dos textos dos nossos amigos escritores. Até parece uma competição para ver quem escreve melhor dentro do Memórias de Sampa. E isso é o que de melhor poderia acontecer para todos...

Zeca Paes Guede

domingo, 23 de outubro de 2011

Música, divina música!


Atendendo ao pedido do autor (sob coação e quase ameaça de morte...kkkkkkk), com imensa alegria postamos novamente este magnífico texto.

Eu era garoto ainda, 12 ou 13 anos, fui assistir no cine Glória, na Rua do Gasômetro, um filme que nunca mais esqueci. Nessa época, morava na Rua Alfândega, travessa da Gasômetro, no Braz. O filme, em preto-e-branco, chamava-se “Música, Divina Música”. Não lembro o título em inglês, mas, acho que não era muito diferente da tradução. Os atores, guardo apenas o Pat O'Brien e o fabuloso violinista Jascha Heifetz e a música principal do filme era a Abertura da ópera “O Barbeiro de Sevilha”, de Rossini. Um padre (O'Brien) reúne uma turma de garotos pobres e esquecidos da sociedade, os irregulares de New York (se não estou enganado eram os garotos que trabalharam no famoso “Anjos de Cara-Suja, de 1938), levando-os a se interessar por música. Quem ministrava aulas de violino aos garotos era o Heifetz. Não vou contar todo o enredo do filme, por não lembrar e porque o que quero ressaltar é a música.
Quando a turminha ensaiava, a sessão de violinos, (quem conhece a música sabe) dava uma graça, um encanto tal que, pra um garoto da minha idade, vendo e ouvindo outros garotos da mesma faixa etária tocar, deixavam uma emoção que não tinha explicação. Meu irmão Santo, mais velho (já falecido), tinha muitos discos clássicos, mas faltava este.
A música exerceu (e exerce até hoje) em mim uma transformação no gosto e no prazer de se ouvir, tocada por uma orquestra sinfônica. Podem reparar, não existe nada igual a uma apresentação de uma orquestra sinfônica ao vivo. Uma filarmônica, que é mais ou menos igual a uma sinfônica, tem esse nome porque é a reunião de amigos da música, vem do grego, “fila” (amigo) harmonia (música).
Percebi que músicas em geral têm linguagem própria; algumas alegres demais, outras melancólicas, outras tristes; é por isso que a música incidental, composta pra acompanhar um filme, uma peça de teatro ou radiofonização, realça, conforme a trama, em alguns aspectos ou simplesmente acompanha um dialogo amoroso ou uma discussão. Compostas segundo o roteiro do enredo. Músicas para a história.
As que mais gosto são as histórias escritas sobre músicas já compostas. Estas são historias que procuram descobrir os sentimentos do compositor, quando as compõe. Chegam a criar climas, eventos e ocorrências de tal forma que a música em questão, pode ter sido composta em situações totalmente diferentes do que o diretor imaginou.
Tem, também, as que se ouve e fica-se imaginando qual a mensagem que o compositor quis transmitir. Os grandes críticos literários dizem que a grande maioria dos escritores tem, em suas obras, um pouco de si, uma espécie de autobiografia, “emprestando” a determinadas personagens um retrato de si mesmo. Na música não é diferente. Ouçam, por exemplo, os sambas do Lupicínio Rodriguez, com relação à “dor de cotovelo”. As composições de Herivelto Martins com suas rusgas com a esposa, D'Alva de Oliveira. Na área dos clássicos não é muito diferente. Vejam nosso grande Vila Lobos, suas composições, muitas delas voltadas para crianças, por exemplo, “O Trenzinho Caipira”. Seu gosto e prazer em ouvir Bach, criando as famosas “Bachianas Brasileiras”. Tchaikovsky, ao compor a 6ª Sinfonia, chamada a “Patética” por ter perdido sua mecenas quando ela descobriu sua homossexualidade, induzindo-o a se envenenar com água contaminada com cólera. As composições de Mendelson, que morreu com apenas 38 anos, ouçam e verifiquem, principalmente em seu concerto para orquestra e violino, nº 4, opus 64 (se não estou enganado), toda tristeza e amargura que existe na melodia. E, no entanto, ele compôs também alegrias, como “Abertura de Sonho de Uma Noite de Verão”, baseada numa obra de Shakespeare.
Por isso, um crítico musical já disse com muita propriedade que, mesmo uma marcha fúnebre tem seu encanto, beleza e, por que não dizer, alegria. A música fala, conversa com você.
Minha esposa não é muito apegada por estas músicas, porém, já a surpreendi “conversando” com as flores de nosso jardim, de tanto que ela gosta. Na música é igual, adoro ouvi-las e, quando estou escutando, não posso fazer mais nada, pra sentir o compositor expressando-se através das notas musicais, sua alegria, felicidade, seu amor por alguém ou sua dor por ter perdido alguém.
Se estou lendo, não quero ouvir nada, se estou ouvindo alguma música, não faço nada, vou saboreando seus movimentos, o que os violinos querem me falar, o que os tímpanos, os pandeiros, as cuícas, os pianos e assim por diante. Ia aos concertos no memorial da America do Sul, sempre. Agora, não dá mais.

Por Modesto Laruccia

sábado, 22 de outubro de 2011

Férias escolares


Quando criança, muitas vezes as férias escolares do mês de Junho eram desfrutadas na casa de minhas tias Maria e Zule, que moravam no bairro da Ponte Rasa.
Naquele tempo não havia quase nada, a não ser muita vegetação com algumas moradias, uma capela localizada bem no alto de um morro e uma escola cercada por alguns eucaliptos. As ruas eram de terra e o acesso para a região se fazia de ônibus, que circulava pela estrada de São Miguel Paulista.
A viagem começava no bairro da Penha de França, na Praça Micaela Vieira, e, assim que eu entrava no ônibus, procurava a janela, pois adorava ficar olhando pelo vidro e apreciar a paisagem que a antiga estrada me proporcionava.
Lembro que logo depois de passar pela conhecida curva da morte, minha tia dava o sinal e aí começava a segunda parte da viagem; agora íamos a pé subindo as ruas de terra do lugarejo, uma verdadeira maratona.
Ainda lembro o cheirinho de café e o galo cantando no fundo do quintal, da cerração cobrindo a vegetação dos pequenos vales e morros que encantavam meus olhos... Tudo isso anunciava o tão esperado dia.
Logo após o gostoso café da manhã que minha tia preparava e assim que o sol iluminava as pequenas matas da redondeza, lá íamos nós, eu e meus primos, explorar a região.
O bairro que ainda estava se formando, tinha muito verde e alguns morros que adorávamos subir e descer, correndo com braços de avião, sentindo o vento passar bem juntinho à nossa pele e esvoaçar nossos cabelos.
A sensação de liberdade era enorme, podíamos gritar e chamar pelos possíveis anjos que talvez quisessem participar das nossas brincadeiras, e depois ficar olhando para o imenso céu azul, ouvindo as aves que nos saudavam com uma linda sinfonia.
Todo o dia tinha um lugar diferente para explorar e nada ficava sem nossas pegadas.
Hora do almoço, outra delícia. A comida era simples, mas aquele sabor, cheio de carinho, ainda me dá água na boca. A limonada era feita com limão cravo e as verduras bem fresquinhas colhidas na hora, sem falar na galinhada e na gostosa carne de porco que também eram criados pelas saudosas tias.
À tarde, íamos tomar café na casa da minha tia Carmela que, cuidadosamente, preparava uma travessa de “travesseirinhos”, feitos de farinha, açúcar e erva doce, mais um grande bule de chá e, para o jantar, era a vez do pastelão com queijo branco, tomate, azeitona e orégano. Tudo isso para compensar a energia que gastávamos durante o dia.
Aos domingos, assistíamos à missa na única igreja que havia no bairro.
Durante a semana, participava também da novena de Nossa Senhora, ela ficava na casa de uma família por nove dias e no último, depois da reza, saboreávamos um lanchinho que dava força para levá-la para outra casa. Em uma dessas peregrinações caí em um buraco, pois a rua era de terra e não havia luz. Nos guiávamos pela luz da lua e as vezes por uma lanterna. Como andávamos em grupo, logo deram a minha falta e voltaram para me pegar, quando eu já estava aos gritos e chorava muito.
Hoje tudo está diferente, o bairro cresceu! Não existem mais morros e vales verdes para desbravar e nem o gorjeio dos pássaros para nos saudar. Destas férias de infância, ficaram apenas as doces lembranças, que agora fazem parte das histórias que carinhosamente conto para meus netos.

Por Margarida Peramezza

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Um zumbido dos infernos


Zumbidos, em nossa cidade, existem muitos. Ela zumbe, ronca, resfolega, rosna, geme, uiva em suas entranhas metálicas ou de concreto armado. Às vezes, o zumbir também pode vir de dentro, de nós mesmos.
Talvez parta de um sinus, atinja o ouvido médio, acionando o estribo, o martelo, a bigorna ou outro qualquer dispositivo que esteja no caminho; que sei eu?
Mas, num dia destes, inaugurou-se em casa uma nova modalidade dezumbido, nunca ouvida antes.
Como fazemos todas as manhãs, quando ligamos o rádio na Eldorado AM, desculpem, na nova Rádio Estadão-ESPN, pois a tradicional Eldorado foi varrida para um canto da FM, o que se ouviu foi um zumbido medonho.
O barulho estridente calava qualquer estação AM, por mais espalhafatosa que fosse.
Na FM, tudo bem. Esperamos uns dias e o zumbido continuou. Durante algumas horas ainda dava uma trégua, mas, então o barulho generalizou-se. A culpa devia ser do rádio relógio, um velho e honesto GE com quinze anos de idade, pensamos. Já tinha dado umas mostras de que requeria aposentadoria, então devia ser ele mesmo.
Temos outro, pequeno e moderninho, mas, sem a sabedoria trazida pela experiência do velho GE, salta abruptamente de estação, explode ou extingue o volume sem gradações, ao mínimo toque.
Tentamos, portanto, salvar o veterano aparelho. Levei-o a um japonês, com oficina aqui perto.
Com má vontade, o oriental nem testou o rádio.
- Hummm, não adianta consertar. Nem mais peças se encontram para este!
Que fazer? Não havia mais jeito e nem sentido levá-lo de volta para casa. Deixei-o na primeira caçamba que encontrei, das muitas que infestam o bairro do Brooklin.
Instalamos, então, o novo radinho e, pasmem, o zumbido AM persistia!
Pobre velho GE, tinha sido sacrificado injustamente. Ainda corri até a caçamba, mas, era muito tarde. Chequei as estações no rádio do carro, na garagem. Tudo normal. Que é então, que interfere em nossa fiação doméstica para sufocar a AM?
Obras, brocas, moto serras, nunca faltaram no Brooklin Novo, desde que estamos aqui.
Por que, só agora, este tipo de interferência, mais de vinte anos depois?
Uma nova e poderosa engenhoca, recém inventada, pós ponte estaiada, fazendo sua incômoda estréia?
Ou os marcianos, agindo subterraneamente, construindo terríveis máquinas de destruição em massa... Para, como num conto de H.G. Wells, um belo dia aflorarem à superfície com seus terríveis tripés ambulantes?
Ou, talvez um novo espigão, que é o que mais se vê por aqui, mas de última geração, gerando suas obras no subsolo, sem mostrar qualquer sinal, exceto o zumbido, para então irromper, imenso, pronto e totalmente operante, desovando já nas ruas uma nova torrente de carros?
Enquanto isso, nosso rádio, agora outro, maior e mais potente, emprestado do filho, continua a zumbir freneticamente na AM. Só que com mais e mais agudos decibéis.
Talvez seja um aviso; esteja antecipando o final dos tempos, o total colapso do Homem diante da Máquina.

Por Luiz Saidenberg

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Memórias de velhos carnavais


Có có co´có có có ró
Có có có có có có ró
O galo tem saudades
da galinha carijó

Marchinhas de Carnaval, quantas saudades!
Outro dia, conversando com minha esposa e companheira, em virtude de estar me preparando para concorrer no Concurso Nacional de Marchinhas Carnavalescas da Fundição Progresso e Rede Globo, cantarolei algumas marchinhas dos velhos carnavais.
Comecei lembrando de uma marchinha que dizia: A Princesa encontrou/ seu grande amor/ e quis casar./ Mas a corte não deixou/ por que o tal/ Não é real./ De que vale ser princesa então?/ Ter palácios só pra inglês ver?/ De que vale governar/ e não mandar em seu coração...?
Passei depois para outra marchinha que dizia assim: Me dá um gelinho aí/ Que estou a 100 por hora/ Se não pássaro calor ô ô/ Eu jogo a roupa fora. Depois veio aquela que dizia Ei você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro ai...
Sempre fui um carnavalesco de primeira linha e as marchinha de carnaval eram, juntamente com os sambas, decoradas por mim de imediato.
Depois, o Carnaval espetáculo, marca registrada do Rio de Janeiro, foi se alastrando, tomando conta de outras Capitais e se tornando um verdadeiro produto de exportação. Chamariz de turista ávido por ver bundas e peitos, balançando ao som do batuque de um samba enredo que, em minha opinião, já não tem mais o andamento de samba e lembra muito uma marchinha mais cadenciada, porem não tão cadenciada como a marcha-rancho.
Essa mudança, constatei, retirou das ruas o carnaval verdadeiro, cheio das alegrias e galhofas, às vezes inocentes, que permitiam ao povo, inclusive, das classes menos privilegiadas, extravasar suas emoções, esquecendo, por poucas horas, todas as tristezas e inquietações sofridas.
O Carnaval puro, o entrudo que veio da Europa para se naturalizar brasileiro de quatro costados, tendo como seu hino nacional o Abre Alas de Chiquinha Gonzaga, foi banido de nossas vidas.
Então, ainda sentindo a frustração do desaparecimento desse carnaval me perguntei e questionei minha esposa: Será que foram as Escolas de Samba que eliminaram essa festa? Será que foi a violência que a cada dia grassa mais a culpada?
Acho mesmo que foi um pouco de tudo isso que roubou a alegria verdadeira dos três dias de reinado de Momo.
Se fosse eu um mandante prestigiado, um político de renome, ou até, um apadrinhado da presidente (a?), iria lutar para antecipar o grande espetáculo das Escolas de Samba, por alguns dias, quem sabe uma semana e exigir que o povo viesse paras as ruas, que os Blocos do Sujo ocupassem seus lugares de destaque nos Três dias de Alegria, que as grandes sociedades voltassem a promover seus bailes Carnavalescos e seus Concursos de Fantasia, que os compositores voltassem a compor marchinhas carnavalescas e que os cantores voltassem a gravá-las.
Já pensaram, quantas famílias poderiam voltar a sobreviver dessas medidas?
Qual o que. O passado só volta para os velhos intransigentes como eu, os moços não sentiram o gostoso prazer dos Carnavais, e não podem almejar senti-lo agora. Eles nunca viram o Cordão Carnavalesco Vai-Vai desfilar, com todo o seu esplendor e pujança na Avenida 9 de Julho, ou no Anhangabaú, ou na Avenida São João ou mesmo nas ruas do Bixiga. Não viram ou participaram dos grandes e tradicionais bailes de carnaval dos clubes de Sampa (Palmeiras, Corinthians, São Paulo, Portuguesa), ou dos salões tradicionais como Royal, Professorado, Araken, Paulistano, Mauá, entre tantos.
Sem chances! Vou continuar cantarolando, sozinho, no meu canto:
Linda loirinha/ Loirinha/ que me faz sonhar...Eu sou o pirata da perna de pau/ do olho de vidro/ da cara de mau....Eu fui às touradas de Madri/ parabatchibunbubum/ Quem sabe sabe/ Conhece bem/ Como é gostoso gostar de alguém...Maria Escandalosa/ desde criança/ sempre deu alteração...Se a canoa não virar/ olé olé olá...

Por Miguel Chammas

domingo, 16 de outubro de 2011

Música, Divina Música


Eu era garoto ainda, 12 ou 13 anos, fui assistir no cine Glória, na Rua do Gasômetro, um filme que nunca mais esqueci. Nessa época, morava na Rua Alfândega, travessa da Gasômetro, no Braz. O filme, em preto-e-branco, chamava-se “Música, Divina Música”. Não lembro o título em inglês, mas, acho que não era muito diferente da tradução. Os atores, guardo apenas o Pat O'Brien e o fabuloso violinista Jascha Heifetz e a música principal do filme era a Abertura da ópera “O Barbeiro de Sevilha”, de Rossini. Um padre (O'Brien) reúne uma turma de garotos pobres e esquecidos da sociedade, os irregulares de New York (se não estou enganado eram os garotos que trabalharam no famoso “Anjos de Cara-Suja, de 1938), levando-os a se interessar por música. Quem ministrava aulas de violino aos garotos era o Heifetz. Não vou contar todo o enredo do filme, por não lembrar e porque o que quero ressaltar é a música.
Quando a turminha ensaiava, a sessão de violinos, (quem conhece a música sabe) dava uma graça, um encanto tal que, pra um garoto da minha idade, vendo e ouvindo outros garotos da mesma faixa etária tocar, deixavam uma emoção que não tinha explicação. Meu irmão Santo, mais velho (já falecido), tinha muitos discos clássicos, mas faltava este.
A música exerceu (e exerce até hoje) em mim uma transformação no gosto e no prazer de se ouvir, tocada por uma orquestra sinfônica. Podem reparar, não existe nada igual a uma apresentação de uma orquestra sinfônica ao vivo. Uma filarmônica, que é mais ou menos igual a uma sinfônica, tem esse nome porque é a reunião de amigos da música, vem do grego, “fila” (amigo) harmonia (música).
Percebi que músicas em geral têm linguagem própria; algumas alegres demais, outras melancólicas, outras tristes; é por isso que a música incidental, composta pra acompanhar um filme, uma peça de teatro ou radiofonização, realça, conforme a trama, em alguns aspectos ou simplesmente acompanha um dialogo amoroso ou uma discussão. Compostas segundo o roteiro do enredo. Músicas para a história.
As que mais gosto são as histórias escritas sobre músicas já compostas. Estas são historias que procuram descobrir os sentimentos do compositor, quando as compõe. Chegam a criar climas, eventos e ocorrências de tal forma que a música em questão, pode ter sido composta em situações totalmente diferentes do que o diretor imaginou.
Tem, também, as que se ouve e fica-se imaginando qual a mensagem que o compositor quis transmitir. Os grandes críticos literários dizem que a grande maioria dos escritores tem, em suas obras, um pouco de si, uma espécie de autobiografia, “emprestando” a determinadas personagens um retrato de si mesmo. Na música não é diferente. Ouçam, por exemplo, os sambas do Lupicínio Rodriguez, com relação à “dor de cotovelo”. As composições de Herivelto Martins com suas rusgas com a esposa, D'Alva de Oliveira. Na área dos clássicos não é muito diferente. Vejam nosso grande Vila Lobos, suas composições, muitas delas voltadas para crianças, por exemplo, “O Trenzinho Caipira”. Seu gosto e prazer em ouvir Bach, criando as famosas “Bachianas Brasileiras”. Tchaikovsky, ao compor a 6ª Sinfonia, chamada a “Patética” por ter perdido sua mecenas quando ela descobriu sua homossexualidade, induzindo-o a se envenenar com água contaminada com cólera. As composições de Mendelson, que morreu com apenas 38 anos, ouçam e verifiquem, principalmente em seu concerto para orquestra e violino, nº 4, opus 64 (se não estou enganado), toda tristeza e amargura que existe na melodia. E, no entanto, ele compôs também alegrias, como “Abertura de Sonho de Uma Noite de Verão”, baseada numa obra de Shakespeare.
Por isso, um crítico musical já disse com muita propriedade que, mesmo uma marcha fúnebre tem seu encanto, beleza e, por que não dizer, alegria. A música fala, conversa com você.
Minha esposa não é muito apegada por estas músicas, porém, já a surpreendi “conversando” com as flores de nosso jardim, de tanto que ela gosta. Na música é igual, adoro ouvi-las e, quando estou escutando, não posso fazer mais nada, pra sentir o compositor expressando-se através das notas musicais, sua alegria, felicidade, seu amor por alguém ou sua dor por ter perdido alguém.
Se estou lendo, não quero ouvir nada, se estou ouvindo alguma música, não faço nada, vou saboreando seus movimentos, o que os violinos querem me falar, o que os tímpanos, os pandeiros, as cuícas, os pianos e assim por diante. Ia aos concertos no memorial da America do Sul, sempre. Agora, não dá mais.

Por Modesto Laruccia

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

E lá se foi o maior humorista do Brasil


Para ouvir,clique no play

O que dizer de alguém que, tendo nascido no Acre e passado grande parte de sua vida na cidade do Rio de Janeiro, era um paulistano de corpo e alma e que, além de um enorme talento, ainda foi sempre um excelente colega, grande amigo e um patrão maravilhoso.
Zé era como um irmão, não só para mim, mas para todos os que desfrutaram de sua intimidade.
Jamais encontrei alguém em minha vida que não falasse com muito carinho, do seu enorme talento, do seu profissionalismo e do seu coleguismo.
Foi ele, mais o Oscarito, Ronald Golias e o Palhaço Piolim, que inspiraram minha vocação artística, e a vontade de fazer humor.
Zé Vasconcelos foi meu patrão em 1970, na comédia de Péricles do Amaral, que ele montou no Teatro das Nações em São Paulo; com ele e com essa mesma peça viajamos para encená-la no Teatro Leopoldina em Porto Alegre, em Campinas, em Vitória no Espírito Santo e no Teatro Serrador no Rio de Janeiro.
Meu colega de trabalho, no programa Aperte o Cinto, da TV Manchete em 1986. Onde por mais de um ano, além de estarmos juntos no programa, ainda viajamos lado a lado de São Paulo para o Rio de Janeiro, de carro pela Dutra, para gravarmos o programa, hospedados que ficávamos no Hotel Novo Mundo, bem ao lado da citada Emissora.
Como é maravilhoso ter um amigo e um colega assim!
Se não tivesse nenhum significado a minha participação na vida artística, o fato de ter desfrutado da amizade do querido Zé Vasconcelos, já teria valido a pena.
Saber que alguém como o Zé nos deixou é muito triste, pois com ele se vai um pouco da minha história, uma boa parte da minha vida. É como se eu tivesse perdido um Pai, um irmão (mesmo sabendo que nada disso está perdido).
Fica no ar uma saudade e em nosso peito uma enorme tristeza.
Afinal, não é qualquer artista nesse nosso imenso Brasil que pode dizer, modéstia à parte:

- EU SOU O ESPETÁCULO -

Por Arthur Miranda (tutu)

terça-feira, 11 de outubro de 2011

A noite de São Paulo também tem seus mistérios


Imagens: Exu Elegbá; homem com varíola; Largo da Misericórdia em 1956;  Igreja N. S. dos Homens Pretos; Igreja Boa Morte; Igreja dos Enforcados

Naquela 'noite madrugada' de segunda-feira, dia de Exu Alegbá, após uma gira no pátio do Vaticano que servia como terreiro do candomblé de Mãe Jurema - afamada e poderosa Yalorixá - ele desapareceu. Algumas pessoas dizem que ele sumiu numa nuvem que, de repente, cobriu todo o cortiço; outros afirmam, de pés juntos, que ele se transformou num bode preto e que desandou a correr, apoiado nas patas traseiras, pela Rua Santo Antonio e se perdeu de vista no Anhangabaú. Outro grupo afirmava que ele se jogou numa grande fogueira que ardia no terreiro e subiu para Olorum num vórtice de fagulhas... Nunca mais foi visto ou nunca mais se deixou ver.
Mãe Jurema dizia que ele tinha se transmudado em uma entidade, que ele deveria ser cultuado e alimentado nas encruzilhadas do centro da cidade, centro que, durante muitos anos, fora seu campo de batalha e seu domínio.
Começava assim a 'lendistória' de Manézinho das Mulheres, malandro do bem, figura querida por todos, amado por todas as mulheres, grande jogador de futebol varzeano, amigo dos amigos, filho dileto dos Orixás.
Manoel Pereira da Silva - existe nome mais brasileiro? - até os acontecimentos daquela segunda feira, era morador do Vaticano onde nasceu, cresceu, morou e viveu seus melhores dias. Funcionário público do município conseguira seu emprego graças aos conhecimentos de Mãe Jurema, mãe postiça e madrinha, que o adotara in pectore, após a morte de sua mãe, a comadre Mariinha que, coitada, morreu dias após lhe dar a luz, vitimada por uma infecção terrível.
Criado por uma Yalorixá, claro que seria dedicado aos Orixás, nem duvidar... Quando, ainda tatibitate, engatinhando e dando os primeiros passos, foram jogados os búzios para saber quem seriam seus pais ancestrais; ao primeiro Odu respondeu Exu Alegbá, ao segundo Odu, a resposta foi de Xangô e, no terceiro, a grande mãe Yemanjá, a Mãe do mundo. Eram esses os pais africanos de Manoel Pereira da Silva, bem mais tarde conhecido em São Paulo como Manézinho das Mulheres.
Desde criança saía com Mãe Jurema para arriar os 'trabalhos' em diversos lugares da cidade: na Rua do Carmo com Tabatinguera, ao lado da Boa Morte, na Vergueiro, ao lado da Igreja dos Enforcados. No Saracura, no Bexiga velho, muita vela e muita comida de santo. Ela não perdia a ocasião prá mostrar o porquê das coisas: - "Mané, aqui é lugar onde muito ‘nêgo’ foi enterrado nesses matos, 'morridos ca bexiga'. Os antigos num tinha vacina qui nem hoje e eles morria ca variola ou ficava marcado 'co corpo' cheio das bereba seca, 'ca cara' toda furada. Os moço ainda sarava, mas as criança e os véio morria tudo... Minha falecida avó era cativa de ganho e contava prá gente que quando começava a 'pidemia' de bexiga, as pessoa num podia chegar perto, só quem já tinha tido e num tinha morrido. Os cadavi tinha de sê enterrado fora da cidade, bem longe porque as bexiga 'pegava'. A marquesa de Santos, D. Domitila, deu um terrenão prum cemitero na subida da Consolação , no rumo do Caaguaçu e de Pinheiros, prá enterrá a brancaiada que morria cas bôlha da varíola. Os nego, qui nem nóis, num podia enterrá no nosso cemitero da Misericórdia. Tinha de enterrá fora da cidade qui nem os branco. Os malungos, então, punha os difunto, 3, 4 duma veis, numa jangada e subia o Saracura Grande até o pé do Caaguaçu, no encontro co Saracura Pequeno e enterrava os irmão lá...Os antigo chamava o luar de 'mata da bexiga e o nome ficou".

Os despachos para o Alegbá eram feitos na chegança da Hora Grande, no maior silêncio e respeito e sempre no Largo da Misericórdia. Velas, alguidares, farofa amarela, quiabo, galinha assada, pinga, pipoca... Os atrasados que iam para a Sé ou para a Xavier de Toledo para tomar os últimos bondes, os 'negreiros', alguns ao passar pela Misericórdia apertavam os passos após uma olhada de esguelha para aquela senhora e a criança que acendiam velas e jogavam pipocas por todo o Largo da Misericórdia; alguns outros paravam um pouco na esquina da Quintino com a Direita, olhavam a cena, espantados, faziam o sinal da cruz e seguiam em frente resmungando: - ...essa negrada... Onde já se viu!... Desrespeito!...
O Largo da Misericórdia, para os paulistanos iniciados no Candomblé e na Umbanda, era, talvez, o lugar de maior respeito; sob os paralelepípedos, sabiam, havia um cemitério, o único que podia receber os corpos dos malungos; ali era o local onde se erguera a primeira igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos e o campo santo. Então, todas as oferendas que devessem ser feitas na Kalunga, eram feitas na Misericórdia, rituais impossíveis nos Enforcados e suas mortes com muito sofrimento e nem na Boa Morte, prenúncio da morte na forca, a antecipação do sofrimento físico! O campo santo da Misericórdia era o único lugar da cidade de São Paulo onde os antigos m
alungos mortos repousavam em paz!
Aos 14 anos, no cumprimento de sua segunda 'obrigação', começou a sentir uma presença, algumas presenças, dizendo melhor. Assustado, só se acalmou quando Mãe Jurema explicou que, a partir de então, viveria num mundo diferente do mundo dos demais viventes, que se acostumasse. Na Igreja dos Enforcados ouvia o choro de centenas de vozes e sombras que flutuavam na noite. Na Igreja da Boa Morte, ouvia soluços, imprecações e o ruído (?) de centenas de vozes rezando... Na Misericórdia ele via, nitidamente, um homem bem vestido, sentado no calçamento ou no meio fio, fumando e acompanhando os trabalhos:
- Mãe Jurema, a senhora 'tá' vendo aquele homem sentado ali?...
- Não, não tô vendo, mas deve ser o senhor Exu Elegbá, seu pai protetor. Não se preocupe, é assim mesmo...
Você represa ou desvia o curso de um rio, é uma possibilidade; mas você não consegue parar ou desviar a marcha do tempo. Carapinha branca, Manoel Pereira da Silva se deu conta que o tempo passara voando e ele sentia que estava chegando a sua hora; os búzios foram atirados ao Taramessô e disseram que ele passaria aos 70 anos, nem mais nem menos; que se preparasse pois não haveria Axexé. Os donos de sua cabeça viriam arrebatá-lo.
Mãe Jurema já passara dos 100 anos, lúcida, cada vez mais sábia e com uma dificuldade muito grande de locomover-se. Manézinho? Pensativo, se acabrunhando sempre que ouvia no rádio um samba cantado pelo Sílvio Caldas, sentia-se retratado nos versos da canção:

"Nos olhos das mulheres,
no espelho do meu quarto
é que eu vejo minha idade.
O retrato na sala
faz lembrar com saudade
a minha mocidade..."

Pensativo, pensou. Pensou e pesou tudo o que havia feito, não feito, sentido e não sentido. Nunca magoou ninguém, era uma pessoa simpática, divertida, piadista. Era também o rei da mulherada. Deixou filhos e filhas, carradas deles, no Brás, Bexiga e Barra Funda. As mães desses filhos e filhas, negros, mulatos, sararás, filhos de diversos sangues, o adoravam, fariam tudo por ele. Na festa dos Ibejis, de Cosme e Damião, levavam as crianças para serem abençoadas por Mãe Jurema e por ele, o Manézinho das Mulheres, o pai que povoou o Vaticano e arredores e, essas crianças, crescidas, levavam seus filhos para conhecerem a bisavó e o avô e serem, também, abençoados...
Sonhou.
Exu Alegbá bafora a fumaça de seu charuto em seu rosto adormecido.
Xangô encosta seu machado de duas lâminas em seu corpo adormecido e sorri.
Yemanjá, mãe negra de fartos seios, acomoda sua cabeça em seu colo e suas mãos acariciam a carapinha branca. Manézinho das Mulheres está adormecido, mas atento em seu sono.
Diz Yemanjá: - “Meu filho, meu filho, te espero no Niger e no Zambeze...Vais conhecer todos os seus Egunguns.”
Diz Xangô: - “Você, meu filho, foi um homem justo. Foi feliz e fez a felicidade de muitos e muitas...”
Diz Exu Alegbá: - “Amanhã venho te buscar. Você foi um bom filho, sempre me respeitou... Amanhã, amanhã, amanhã...”
Uma nuvem baixa e cobre todo o cortiço enquanto milhares de fagulhas sobem de uma fogueira... Alguns dos adeptos assistem assustados como que uma sombra se materializar e correr em direção à Rua Santo Antonio. Manézinho que estava no centro de tudo, com todos os olhares postos sobre ele, simplesmente desaparece...
E nunca mais foi visto ou se deixou ver.
O barulho do bonde 5, Bela Vista, corta o silêncio da cidade que está quase toda dormindo. Luzes do Martinelli, do Banco do Estado e dos hotéis da Praça da Bandeira, o neon das Sardinhas Coqueiro na Rua Formosa, Dom Peixoto acendendo e apagando...
O Vaticano, o Geladeira, o Pombal e o Navio Ancorado, os cortiços maiores do Bexiga, em dois anos irão desaparecer...
Os despachos na Misericórdia continuarão até a morte de Mãe Jurema um ano depois...
Um dia após o desaparecimento de Manézinho, os jornais:
"A Hora": "Inexplicável: Largo da Misericórdia amanhece coberto de pipocas".
O Dia: "Centro da cidade cheirando a perfume! Largo da Misericórdia coberto por um lençol de pipocas”.
O Correio Paulistano: "Autoridades da Central de Polícia do Largo do Tesouro afirmam que irão investigar o insólito acontecimento..."
O Estado de São Paulo: Manobras diversionistas do P.C. assustam a população de São Paulo...
Ah, minha São Paulo, quais mais mistérios escondes?


Por Joaquim Ignacio de Souza Netto