sábado, 29 de janeiro de 2011

História de Vila Jaguara (extremo oeste da Capital do Estado de São Paulo, Subprefeitura da Lapa, 42º Distrito)

imagens: Vila Jaguara; ruas Pavuna e Cândido Portinari; Barão de Jaguara; Ulhoa Cintra

1) Os primórdios

Pode-se observar em escrituras de imóveis localizados na parte alta de Vila Jaguara o nome ‘Sitio do Campo dos Pittas’. Mas, sou levado a crer, que uma propriedade denominada ‘Sitio dos Gama’ a englobava. Abrangia inclusive a Fazenda Anastácio. Esta continha as atuais: Vila Anastácio, Vila Jaguara e Vila Ayrosa. Com a emancipação de Osasco, esta última ficou incluída no novo Município. A Fazenda Anastácio tinha, portanto, uma extensa área.
Seu proprietário era um famoso advogado chamado Victor Marques da Silva Ayrosa. Foi ele quem vendeu 23 alqueires da propriedade aos médicos Antônio Pinheiro Ulhoa Cintra e Henrique de Beaurepaire Rohan Aragão. Estes decidiram, então, lotear a área. Contrataram o engenheiro Antônio Mesquita para elaborar o desenho da futura Vila de São Paulo. Para administrar o novo empreendimento encarregaram o senhor Juvenal de Lima (*). Por que do nome Jaguara? O nome ‘Jaguara’ foi dado em homenagem ao pai do médico Antônio Pinheiro de Ulhoa Cintra que, salvo grave engano, tinha o mesmo nome do pai, que foi famoso médico sanitarista da região de Campinas e atuante político (nasceu em 1.837 e faleceu em 1.895), chegando até, por alguns meses, a ocupar o cargo de Presidente da Província de São Paulo. Em decorrência de suas missões, executadas sempre com determinação, recebeu o título honorífico de Barão de Jaguara em 1.888.

A planta foi aprovada em 23 de agosto de 1.923 com o Alvará nº 4.025. O 1º lote foi vendido a um morador de Vila Anastácio chamado Francisco Cordeiro, apelidado de Francisco Lavaredas. Ele era tão conhecido pelo sobrenome ‘Lavaredas’ que é esse apelido e não o sobrenome real que aparece nos recibos, segundo me relatou seu filho Moacyr Cordeiro (Nico) pouco tempo antes de falecer (por volta do ano 2.000). É a data do primeiro recibo, 17 de novembro, que ficou designada para ser comemorado o aniversário de Vila Jaguara (data de 17/11/1.923). Por curiosidade, relato o que me disse ainda mais o Nico: ‘ os filhos nunca ficaram sabendo o por quê de seu pai adquirir um lote num ponto ruim do loteamento (rua Santa Francisca) ponto
que pertencia ao leito do Rio Tietê nos períodos chuvosos, quando havia muitos outros lotes nas partes altas, longe das costumeiras enchentes, com o mesmo preço.’ (Quando adolescente cheguei a ver algumas dessas enchentes. A água do Anhembi chegava até à confluência da rua Rio Turvo (Dom Pedro Henrique de Orleans e Bragança) com a Paranavaí nas cheias mais contundentes!)

Antes do loteamento só um nome aparece como moradora da localidade: Carola. Essa mulher vivia sabe-se lá como, uma vez que Vila Jaguara ficava distante de tudo que se conhece por ‘civilização’. Vivia com filhos e netos, segundo relatos que ouvi de minha sogra Cecília Pavoni, cuja família veio da região da Bela Vista para a longínqua Jaguara, logo em seus primeiros anos.

(*) Conheci o senhor Juvenal de Lima. Não foi um momento gostoso de minha adolescência. A molecada da época tinha o péssimo hábito de matar passarinhos. Certa vez, numa manhã chuvosa, saí sozinho para caçar. Andando, andando, e despachando pedras com meu estilingue, acabei chegando às margens do frígido Ribeirão Vermelho com densa mata ciliar nativa. Ele parou o veículo que dirigia por aquela estradinha que, no futuro, passou a ter o nome de um dos mais terríveis ditadores do Brasil: Avenida Presidente Médici, e me deu uma forte reprimenda. Por muitos anos odiei esse homem. Tempos mais tarde, passei a agir exatamente como ele, que já era um ecologista naquela época, quando nem se falava essa palavra...

Notas: 1ª) Apesar da poderosa ferramenta que temos hoje (2011) que é a Internet, ainda não consegui dirimir minha dúvida sobre o nome do Doutor Hulha Cintra, médico sanitarista, e de seu filho, também médico e que foi morar no Rio de Janeiro. Será mesmo que o filho tinha exatamente o nome do pai? O que está claro é que não foi o pai, mas sim o filho, que decidiu lotear a área. O pai faleceu bem antes do início do loteamento. Nota-se, lendo os documentos de negociação dos terrenos, que descendentes de ambas as famílias (Aragão e Ulhoa Cintra) receberam lotes como herança.

2ª) Há dados do presente texto que poderão sofrer retificações.

3ª) Por falta de visão história os nomes interessantes para a História de Vila Jaguara não foram dados aos logradouros. Somente o Título do Barão e o Córrego do Cintra lembram o passado. Uma pena! Registro aqui meu inconformismo.

Osnir Geraldo Santa Rosa, morador de Vila Jaguara desde 1.953 quando estava com 9 anos. Texto aprimorado em 25 de janeiro de 2.011 quando a cidade de São Paulo comemora 457 anos.


Por Osnir Geraldo Santa Rosa

18 comentários:

Miguel S. G. Chammas disse...

Texto perfeito e uma pesquisa detalhada. Parbéns Osnir e seja bem vindo neste espaço de paulistanidade.
Obrigado pela preferência.

Luiz Saidenberg disse...

Benvindo, Osnir.
Belo e histórico texto, sobre um lugar para mim desconhecido.
Abraços.

Wilson Natale disse...

Osnir, bem vindo!
Nesse crescer incessante, São Paulo torna-se desconhecido dos paulistanos.
Acredito que somente tirando umas férias é que poderemos explorar a Cidade o o seu entorno e conhecer o que já existia e o que vai aparecendo.
Muita coisa eu conheci porque era um office-boy. Conheci o Anastácio e confesso, não conheci Jaguara.
Seria muito interessante, já que você pesquisa a História da Formação do Bairro, tambem nos falasse da evolução do bairro.Assim teríamos uma visão geral desse pedacinho de São Paulo.
Muito bom você trazer estes dados históricos para que permaneçam na Memória da Cidade. Para que não seja uma história esquecida entre as tantas que existem.
Quanto ao nome do filho do Barão, você poderia esclarecer,consultando os registros de batismos da Cúria Metropolitana de São Paulo.
Mando,no comentário abaixo, alguns dados interessantes para a memória do bairro e para o conhecimento dos que participam do blog.
Bem vindo!
Abração,
Natale

Zeca disse...

Parabéns, Osnir!
E benvindo ao Memórias de Sampa!
Textos como o seu, ricos em pesquisa e em cuidados com a veracidade dos fatos, são importantíssimos para aumentar nossos poucos conhecimentos sobre esta cidade que amamos. E também para deixar registrado, para o futuro, um pouco da história desse bairro já com quase 90 anos. Eu, por acaso, já estive em Vila Jaguara, há pouco mais de 20 anos, em visita a uma amiga que lá morava naquela época. E pelo que me lembro, não foi tão difícil chegar ao endereço certo. E aproveito as palavras do Natale, para convidá-lo a nos contar um pouco mais sobre a evolução do bairro.
Abraço.

Wilson Natale disse...

A imensa Sesmaria doada a ANTONIO PRETO foi fragmentada por morte do mesmo entre os seus filhos.Dessa fragmentalçao, com o tempo, surgiram muitas chácaras de onde se originaram os atuais bairros.
Nas terras de MANOEL PRETO,inicia-se, em 1580 uma povoação onde, obtida a permissão, constrói-se a Capela de Nossa Senhora do Ó. Est.e núcleo deu origem a atual Fregusia do Ó.
CHÁCARA DO ANASTÁCIO - Também conhecida como FAZENDA DA PONTE,pertencene ao Coronel Anastácio de Freitas Trancoso. Suas terras constituíam parte da antiga semaria concedida a Antonio
Preto, em 1574. Parte dessa chácara deu origem ao Bairro do Anastácio.
PROVAVELMENTE,o Ulhoa Cintra comprador era o primogênito.Em regra geral, o prmimogênito levava o nome do Pai.
NO SITE: www.sfreinobreza.com existe uma breve biografia do Barão de Jaguara, onde consta a filiação, casamento. Mas, infelizmente, não consta descendência.
UMA CURIOSIDADE: Aqui na Mooca existe a Rua Barão de Jaguara desde o início do século XX.
Fontes:
Antonio Barreto do Amaral -DICIONÁRIO DE HISTÓRIA DE SÃO PAULO.
Azevedo Marques - APONTAMENTOS HIST.,GEOGR.,ESTATÍSTICOS E NOTICIOSOS DA PROVÍNCIA DE SÃO PAULO.
Abração,
Natale

Soninha disse...

Olá,Osnir!

Seja bem vindo!
Excelente seutrabalho de pesquisae só veio enriquecer este espaço, trazendo-nos mais estas informações sobre nossa cidade querida.
Obrigada.
Muita paz!

Arthur Miranda disse...

Osnir, conheci a Vila Jaguara em 1951, Tive uma irmã chamada Alice casada com um Alemão Chamado Walter e os filhos Waltinho e Pituca. O Walter meu cunhado trabalhava na Fabrica Codique, não sei se era assim que se escrevia, passava perto de 2 meses por ano de ferias na casa de minha irmã, isto até 1956, numa Rua que eu não me lembro mais o nome mas era a segunda travessa depois de passar por baixo da ponte da anhanguera vindo da Vila Mangalót em direção ao larguinho da Igreja de vila Jaguara. a rua era mais alta que a Via anhanguera como também paralela com a mesma e do quintal da casa de minha irmâ tinha-se uma visão geral da Velha via Anhanguera ainda com uma só pista.
havia pouquissimas casa na região, e as ruas eram todoas de terra.
Seu texto me levou de volta ao passado quando o onibus para a Vila Jaguara saia da Lapa de uma travessa da 12 de Outubro, Parabens, pelo relato.

Osnir G. Santa Rosa disse...

Agradeço a todos que postaram seus comentarios. É claro que meu desejo é enviar outros textos complementado o primeiro. Esclareço que não sou pesquisador. Quem sabe um dia! No momento sou só um curioso com intenção de deixar gravado para a posteridade alguma contribuição positiva. Participei, ou tomei conhecimento, de fatos curiosos ou importantes em múltiplos campos da atividade humana. E a Internet nos possibilita realizar esse desejo de comunicar, de ser útil, com muito mais facilidade que antes de seu advento. Gosto de usar a expressão: "Como é bom s er útil!" Abraços.
Osnir G. Santa Rosa

Modesto disse...

Osnir, nunca soube, por morar tão perto, que a Vila Jaguara tinha essa história. Seu relato, bem esmiuçado, com detalhes atraentes, é uma verdadeira lição de história.
O Wilson Natale a enriqueceu com seus conhecimentos surpreendentes, também. Nunca pensei que um Moóquense soubese tanta coisa de um bairro da zona oeste. Pô! Parabéns a vc, Santa Rosa, dono do "quintal" e ao meu amigo, inspiradíssimo, Natale.
Modesto

silvia disse...

Boa Noite, parabéns pela pesquisa, meu pai quando se casou em 1952 ja era morador da Rua Custódio Serrão, depois em 1965 mudou-se com a familia para a Rua Joana Galvão, Conheço muito bem a região e quando era criança brincava no Morro Da Empresa CEAESA, onde tingiam tecidos

Vera Lúcia disse...

Vera Lúcia,
fui com 02 meses para a vila Jaguara, onde até hoje passo por lá para rever amigos de infância. Uns dos bairros mais gostoso que já morei, e a fábrica CIAESA citada acima, trabalhei lá durante 03 anos quando eu tinha 15 anos (já se passou muito tempo). Gostei bastante da pesquisa sempre tive curiosidade em saber mais história da Vila Jaguara, parabéns!!!

Regina disse...

Parabéns , gostei muito de saber sobre o bairro onde nasci, melhor ainda é saber que conheço quem escreveu o texto, pois eu brincava muito com a Rose Santa Rosa....felicidades!!!!!!

Uliani disse...

Falar da Vila Jaguara e não falar da família Uliani, em especial Madalena Uliani que era parteira e corretora dos primeiros lotes comercializados e do seu filho Olinto Uliani que faleceu no campo do Palmeiras, onde conquistou muitas medalhas de boccha é imperdoável!

Unknown disse...

Nasci em 1952, na Vila Jaguara, meus pais compraram um terreno e construíram nossa casa em 1959 na Rua Custódio Serrão ( ant.rua 5 ) e minha mãe mora lá até hoje, Saudades de um tempo que não volta mais!!!!

Unknown disse...

Sou Fátima Cintra, nasci na Rua Rio Turvo ( atual, Dom Pedro Henrique De Orleans e Bragança), 891 em setembro de 1969. Sou filha do Maneco e neta do Manuel Cintra e Maria de Nazaré Cintra. Muito orgulho desse lugar.
Procuro preservar a história do meu amado pai até hoje!

Anônimo disse...

Eita cresci na custódia serão. Lugar maravilhoso...fiz datilografia na escola Santa essa. Osni e dona sirene eram meu professores...que saudade meu Deus. Lugar maravilhoso..
Edimar Alfredo Vieira

Anônimo disse...

Catavamos restos de tecido da ciaesa para nossa mãe fazer colchas. Kkkkk caçava passarinhos no morto jogávamos muita bola no campinho...que saudades....Edimar

Anônimo disse...