quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O ano em que o ano começou antes

nota: o texto foi escrito em Janeiro de 2007, quando do primeiro encontro de alguns autores do São Paulo Minha Cidade, em Dezembro de 2006, o que originou, depois, o periódico encontro das redondas, hábito que dura até os dias de hoje.
Desculpem o título esdrúxulo, mas é assim mesmo. No último dia 28 de dezembro de 2006, fomos convocados a uma reunião de ilustres literatos conhecidos, porém (até então) “ilustres pessoalmente desconhecidos”.
Convocações não se discutem (e eu iria discutir esta ? Meio cansado sim, estou, mas, louco ainda não); por isso, fui, ávido para conhecer e estar perto das figuras tão ímpares que, nos últimos meses, me fizeram passear novamente por tantas calçadas e rever tantos personagens desta São Paulo querida.
Cheguei cedo, misturando ansiedade com a curiosidade de conhecer aquele shopping de tão colorida fama, me postei à espera dos tão afamados amigos.
Chega o Chammas, que já conhecia (e há quanto tempo, mais de 40 anos para ser mais ou menos exato), cumprimentos, lembranças, reclamos, recados e ficamos à espera.
Chega o Mario, procurando, procurando, desconfiado que seríamos nós dois seus amigos, enquanto que o Chammas e eu, discutíamos, vamos não vamos, deve ser o Mario, não deve, deve, não deve.
Afinal, ele foi. E era. (Confesso que o Chammas mais ou menos tinha adivinhado os traços físicos do Mario.) Um espaço no restaurante; a ansiedade de quem vem, quem não vem, logo surge uma figura simpática e personalíssima, apresentando-se como o Saidenberg.
Abraços, cumprimentos, um lugar à mesa, mais um chope a acompanhar os demais que já iam pela metade. E, como diria um velho amigo, “a festa começara”.
Casais e jovens que por nós passavam olhavam para aqueles que, quase juntos, contavam com aproximadamente 2 séculos e meio de idade, cantarolando músicas, com evocação à São Paulo, bailes antigos, faziam desfilar um sem parar de contos, casos, histórias e personagens da Vila Olímpia, do Itaim, do Brooklin, Bela Vista, do..., enfim de toda São Paulo. Falaram do 4º Centenário. Acho que com um pouco de esforço falariam até do 3º Centenário. E, sempre os três.
Quando um iniciava um conto, outro intervinha e o continuava; alguns reparos aqui, outros adendos acolá; a simples citação de um fato, de um lugar e logo jorrava aquela torrente de conhecimentos, preenchendo lacunas e lembranças, completando histórias que não se encaixavam na recordação de um ou de outro.
Dizer que foi uma noite agradável, seria pouco. Foi uma noite rica. Foi o primeiro encontro físico. Não será o último, pois outros já estão agendados.
Entendo, na minha imensa modéstia, que está lançada uma semente. Oxalá, seja fértil o solo e possamos todos usufruir desses frutos que, sob uma tênue e ilusória casca de saudade, possuem a mais doce e saborosa polpa que se chama história de um povo.

A infância de hoje deve ter conhecimento do que se passou na verdadeira história do Brasil. Não a história contada nos livros, mas a verdadeira, que é transmitida em tom de conversa, por aqueles que efetivamente foram, são e serão sempre seus principais personagens.
Por que o título desta crônica? Porque, para mim, o que brotou naquela mesa ,exige uma marca mais forte e um divisor de águas mais acentuado.
Revigorado, na manhã seguinte havia um novo ano novo em meus projetos pessoais.
Que venham outros amigos, que venham muitos, que venham todos. Finalmente, de minha parte, o quarto personagem daquela redonda mesa, devo dizer que sem falsa modéstia, tive uma atuação destacadíssima: na pizza e no chope que me couberam, fiz meu papel sem qualquer deslize ou necessidade de qualquer reparo.

Por José Carlos Munhoz Navarro

Os cinemas de minha vida


Imagens: hall do cine Paissandu de 1958; cine Rivoli de 1956; cine Olido de 1956

Quando menina meu pai me levava à sessão zig-zag no Cine Dom Pedro, que ficava no Anhangabaú. Meu pai contava a seguinte história:
Uma vez, o porteiro disse que não havia mais lugar; então, eu me encostei na parede e disse: “Não faz mal, o Sr. pode entrar que eu fico esperando”. Meu pai então pensou: "Essa menina tem de entrar nesse cinema de qualquer jeito". Chegou para o porteiro e disse que queria falar com o gerente. O porteiro deixou-nos passar e, claro, em vez de falar com o gerente, nós fomos assistir ao
filme. Coisas do Seu Renato, meu pai querido.

Quando mudamos para o Cambuci, eu assisti a todos os filmes do Oscarito e Grande Otelo, sempre no Cine Cambuci, na Rua Clímaco Barbosa, ou no Cine Capitólio, na Rua São Joaquim.

Alguns anos depois, meu pai arranjou um emprego extra, aos sábados e domingos; então, minha mãe passou a nos levar, minha irmã e eu, às matinês do Cine Metro, na Avenida São João, e assistimos a todos aqueles musicais, da Metro, maravilhosos.

Todas as quartas-feiras, íamos com os meus pais à sessão das 19h00 nos Cines Riviera, Lins ou Clímax, e eu comprava uma pipoca que era rançosa, mas eu adorava.

Depois, já mocinha, ia com as minhas amigas e, eventualmente, algum namorado, às matinês do Cine Riviera, onde assisti a todos os filmes do Elvis Presley.
Como vêem, minha família era bem cinéfila.

Foi um tempo bom que já passou e que deixou saudade, não uma saudade triste, mas bem alegre, cheia de música e amor dos filmes de antigamente.

Por Lourdes Cecilia Bove Ciavata

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Minha história mesclada à de Sampa – 2ª parte

Minhas lembranças dos primeiros sete anos de vida se referem mais às brincadeiras com meu irmão, sendo que eu já me mostrava um pouco mais calmo, com preferências mais amenas como desenho e leitura. Meu pai não gostava muito disso, forçando-me a brincadeiras com os outros meninos, para que eu não crescesse como “mariquinhas”, segundo ele. Mas não resistiu e, em seus momentos livres, acabou me ensinando a ler e a escrever, antes mesmo de me matricular no curso primário.
Com cerca de três anos de idade, morávamos em uma casa no centro de Guarulhos, em frente ao Grupo Escolar Conselheiro Crispiniano e eu passava boa parte do dia empoleirado no muro de casa, conversando com as alunas do curso normal e invejando os meninos maiores que eu, que já podiam ir à escola.
Um dia, escapuli da vigilância atenta de minha avó, atravessei a rua e entrei no pr
édio da escola, onde havia um curso de jardim de infância. Misturei-me às crianças e acabei entrando em uma das salas. A professora logo percebeu que havia um intruso, mas como era uma criança muito simpática e falante, logo se tomou de amores por mim, pediu a uma inspetora que fosse até em casa avisar onde me encontrava e permitiu que participasse da turma informalmente.
E ali, paparicado por todas as professoras, me sentia realizado. O que mais me vem à memória eram as aulas onde desenhávamos. E eu me destacava entre os coleguinhas, pois desenhava muito bem e tinha excelente domínio das cores. Vira e mexe uma professora pedia um desenho para guardar. E eu, todo orgulhoso, caprichava no desenho e era com grande prazer que o dava para a mestra.
Mas como já disse anteriormente, esse período não durou muito tempo, pois nos mudamos para outro bairro. A casa era maior, com mais espaço no quintal, mas não havia uma escola por perto e, assim, eu perdi essa alegria.

Por Zeca Paes Guedes

Hospital Matarazzo

A pediatria já era bastante movimentada com as mães e seus filhos - alguns bebês e outros já crescidinhos, como eu, que buscavam, ali, a atenção médica para as diversas enfermidades infantis. Eram os idos da década de 1950.
Sarampos, cataporas, algumas verminoses, anemias, febres súbitas, fraquezas, o que se apresentasse de mal estar, lá iam todos em busca do tratamento adequado.
Por vezes, eu e minha mãe, subíamos a rua Itapeva, que é uma ladeira bastante íngreme em seu início na rua Rocha, até atingirmos a alameda Rio Claro e adentrarmos no grande terreno onde estava edificado o Hospital Matarazzo. As manhãs eram quase sempre frias e uma leve serração ainda resistia antes do tênue aquecimento.
Percorríamos a alameda interna até alcançarmos a ala da pediatria, que ficava nos fundos do enorme terreno e bem próximo da capela para, depois de adquirir a senha numérica, escrita em um pequeno pe
daço de cartolina, aguardarmos a nossa vez para a consulta e, instantes depois, éramos atendidos pelo médico pediatra.
Era um sujeito de feições austeras mas, muito sutil e delicado para com os pequeninos. Tinha traços escandinavos e se parecia muito com as figuras dos 'vikings'. Só lhe faltava o característico capacete e o tradicional barco. Sua barba ruiva e meio avolumada completava o seu perfil nórdico.
O jaleco branco dissipava qualquer impressão em contrário daquele médico de compleição avantajada e a sua atenção na triagem inicial da consulta deixava-nos calmos mas, um pouco curiosos.
Apelidei-o de 'Doutor Cara de Leão' e o fiz na minha inocente sinceridade de criança e somente à minha mãe revelei tal apelido que, encantada com a indevida alcunha, repreendeu-me gentilmente, seguida de uma discreta risada.
Não me recordo qual era o seu nome. Apenas ficou a sua lembrança física, estereotipada em minhas reminiscências.
A consulta seguiu seu ritmo normal com o 'Doutor Cara de Leão' me auscultando o peito e costas, examinando meus ouvidos, examinando abdômen, olhos e garganta, com o abaixador de língua para observar possíveis inflamações das amígdalas e tomando a minha temperatura com termômetro intra-axila.
Ato contínuo, perguntava à minha mãe sobre possíveis queixas ou dores minhas, ao que ela respondia, de acordo com os sintomas que eu apresentasse.
Suas mãos eram suaves e gentis mas, firmes e decididas e a cada movimento seu com um utensílio de exames, eu percorria com os meus olhos e já achava que era momento para decidir o
meu futuro. 'Vou ser médico também' - pensava em silêncio. 'Bombeiro é muito arriscado'.
Eu ainda não tinha plena consciência das responsabilidade que estas e outras profissões exigiam e ficava à mercê dos devaneios.
Terminada a consulta e enquanto minha mãe ultimava as finalizações do atendimento, eu sempre seguia para os fundos da ala pediátrica e lá contemplava um belo jardim com alguns carneirinhos que por ali pastavam. Deveriam ser do jardineiro ou do próprio hospital.
Denominado inicialmente como 'Umberto Primo' ou 'Umberto Primeiro', foi construído no início do século vinte. A casa de saúde 'Francisco Matarazzo' foi inaugurada em meados de 1915 e com ela veio a maternidade 'Condessa Philomena Matarazzo'.
Sua construção partiu de um consórcio de vários ricos empresários da época, sendo que o Conde Francisco Matarazzo foi quem mais investiu no patrimônio e tinha um slogan todo seu: 'que o dinheiro do rico seja revertido para a saúde dos pobres...'.
Durante muitas décadas, o 'Hospital Matarazzo' mostrou a sua pujança com o primor no atendimento médico aos mais necessitados, sem que para isso tivessem de gastar um tostão sequer pois, lá, tudo era gratuito.
Muitos profissionais de saúde fizeram do 'Hospital Matarazzo', o seu 'navio-escola', formando-se ou especializando-se nas mais diversas áreas da medicina. Foi, também, o primeiro banco de sangue do estado de São Paulo e ofereceu seus bons serviços até 1993, quando foi fechado e suas atividades encerradas.
Quase oitenta anos de bons serviços de saúde para o povo humilde da capital de São Pau
lo e dos interiores do estado e até dos estados vizinhos. Com ele, ficou a marca de um compromisso e o desprendimento de um empresário que, ao chegar em terras estranhas, encontrou as oportunidades para, com coragem e obstinação, fazer valer o seu ideal, acreditando no futuro da nação e sem desmerecer aos mais necessitados.
É uma pena que hoje, o Hospital Matarazzo seja tão somente um vulto de um passado não tão distante e que suas paredes, que antes sufocaram as agonias dos enfermos, hoje agonizam num silêncio sepulcral, em detrimento daqueles que podem e deveriam abraçar a causa humana da saúde pública e oferecer, ao menos como lenitivo, as atenções básicas de saúde que o povo tanto precisa.
Sucumbe, como uma letargia, num profundo e involuntário coma, aquele que, com certeza, já foi referência de saúde pública gratuita de muitos paulistanos, quer fossem nas pediatrias ou nas clínicas mais excêntricas que um dia ofereceu o saudoso 'Hospital Matarazzo'.
Em minhas lembranças, vejo-me agora ao lado de minha mãe e, de volta para casa, descendo a rua Itapeva, com um sol ainda acanhado das frias manhãs paulistanas.

Por Nelson Assis

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Um amor sincero


(Homenagem a minha querida esposa, Myrtes)

Amando como poucas, sem receio algum,
Myrtes, linda, com a felicidade, sonha;
não permite que nada aconteça,
pra anular a paixão comum
e deixar que o amor esmoreça.

Vida e luta de trabalho, na feira,
não deixa de lado a atenção
que o amado sempre espera.
Modesto, em escolha certeira,
tem pela amada, sincera paixão,
e a felicidade, derradeira.

Economia restrita e pequena,
feirante, sem trégua sem medo,
calor, chuva, frio, sem incomodar.
Dia dos Namorados, que pena,
de manhãzinha, bem cedo,
pro meu amor, o que vou dar?

Esperta e viva, seu irmão vai consultar,
o que poderia ser feito, um mimo
por mais simples, ofertar.
Vitório, noivo, pronto pra casar,
poderia dispor só um mínimo,
além do minguado, não pode dar.

Vendedor, com irmãos trabalhando,
sendo clientes só os feirantes,
nesse mister a Myrtes conheceu;
no primeiro momento, só olhando...
dias seguintes, mais inebriantes,
o esperado momento, aconteceu!

Na feira do Cambuci, onde ela mora,
surpreende a Myrtes com o apelo;
ela, envergando um simples vestido,
ouve o tímido Modesto, agora,
linda, longos cabelos, sorriso anelo,
o tão esperado e aguardado pedido.


Namoro sequioso, briguento e ciumento,
seguem, sem dar tréguas a dúvidas,
o amor a tudo superar e nada ceder.
Como tempestades que, de momento,
surgem, de repente, não são ouvidas,
nada de mal, essa paixão, pode deter.

Myrtes, preocupada em presentear,
procura meios, como ofertar,
um valor, de ninguém esperar,
porém, custe o que custar,
esse presente ela tem que dar.

Idéias mil, sua cabeça a trabalhar,
surge, na figura de um representante.
Se o Vitório comprar sabão Platino
em quantidade superior, iria batalhar,
um relógio, sem custo, nem desatino,
a empresa do sabão, vai lhe dar.

Vitório titubeia, a quantidade é alta
teria sabão pra todo o ano,
um capital empatado mas, o preço,
com a revenda, o lucro salta.
Faço pela Myrtes, minha irmã, eu a amo.
Faz o pedido, mandar, nesse endereço.

Desconfiada por natureza, ganha o presente.
Pronto, brinca o irmão, um presentão,
pro querido amor, seu namorado.
Você não acha o brinde bem diferente,
daquilo que o vendedor tinha em mãos.
Querida, melhor que isso, só comprado.

Num rasgo de ousada iniciativa,
diz a si mesma, essa droga não vou dar
pro Modesto, coisa melhor ele merece.
Contata papelaria, sempre criativa,
compra impressos, o relógio vai rifar,
vende os números a todos que aparece.

Moça pobre, mimo pra si, não quer dar,
não regateia, o presente vai comprar.
Total arrecadado, suficiente pra gastar,
naquilo que está a calcular.
Com este gesto, de amor sincero,
desprovido de egoismo e ambição,
vai a Casa da Ópera, na rua Direita,
"Um corte de linho irlandês, eu quero,
branco, pra dar a minha paixão,
se ele é meu escolhido, sou sua eleita.

Ao prestar essa homenagem
a minha querida Myrtes, amor eterno
digo que, do corte de linho irlandês,
resultado de sua insistência e coragem,
fiz um belíssimo e atraente terno,
deixando boquiaberto até quem o fez.


Por Modesto Laruccia

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Um belo dia de domingo

Ainda não havia amanhecido e as luzes do sobrado onde morávamos, na esquina da Antônio Lobo, já estavam todas acesas.
Minha mãe, usando o ferro de passar, dava os últimos retoques em 3 uniformes de gala. E nós, os nove filhos, fazíamos a maior algazarra.
Lembro-me de ouvi-la dizer: - Hoje vocês acordaram os passarinhos.

Realmente, estávamos muito eufóricos, afinal, havia chegado o grande dia. Naquele domingo, o Estadual da Penha, iria participar, no Vale do Anhangabaú, do Concurso de Fanfarras, promovidos pela Rede Record de Televisão. Três de meus irmãos tocavam na fanfarra. A Margarida era um deles.
O comandante ou regente do grupo, chamava-se Euro, filho do dono do Cartório, que ensaiou, exaustivamente, durante meses aqueles garotos (as), que iriam representar nossa Penha querida.
Os ensaios eram na própria escola e, depois, passaram a treinar a evolução, nas ruas menos movime
ntadas do bairro. Esses ensaios, tornaram-se uma atração para os estudantes e moradores.
Infelizmente, num dos últimos ensaios na rua, um automóvel atropelou nosso regente que, por conta disso, teve uma das pernas fraturadas, ficando assim impossibilitado de reger nossa fanfarra.
Foi um desânimo geral. Muita tristeza mesmo. Mas, depois com mais calma, decidiram que não iriam jogar fora tanto esforço e dedicação. Com o apoio do Euro, designaram alguém do grupo para reger a fanfarra e resolveram participar do concurso.
Foi com muita alegria, que vimos nossos três irmãos com seus lindos uniformes
de gala, saírem de casa rumo ao ônibus que os levaria ao Anhangabaú. Nós, ficaríamos assistindo pela TV, na esperança de vê-los em atividade.
O que aconteceu? Todos aqueles jovem componentes do grupo, mesmo sentindo a ausência do comandante e com muita garra e determinação, conseguiram conquistar o primeiro lugar.
Naquele belo dia de domingo, o bairro todo festejou a vitória e aguardou, com ansiedade, a chegada dos nossos campeões.

Lembro-me que eles vieram em formação, pela Rua Dr. João Ribeiro, executando seus toques e batidas com a tuba, bumbos, repiques e cornetas. Muito aplaudidos, pararam em frente ao Cartório, onde fizeram uma linda homenagem ao Euro, que por conta do gesso, só pode aparecer na janela e, acenando, agradeceu emocionado aos seus comandados.
Bons tempos em que os jovens participavam de concursos, que elevavam o nome do Bairro e da escola.
Meus parabéns, para todos que fizeram parte daquele grupo vitorioso.

Por Bernadete Pedroso

sábado, 25 de setembro de 2010

Pra não dizerque não falei das flores, como dizia Vandré

Dias atrás eu estava relaxado em meu sofá vendo constrangido as promessas de campanha dos candidatos políticos dentro do Horário Gratuito, e quando o mesmo chegou ao seu final eu pude concluir que por incrível que pareça a razão do sucesso dos candidatos chamados “puxadores de votos” é que as propostas dos outros não dizem nada diferente ou que possamos levar a sério, Alias tem alguns que são até piores que os tiriricas da vida, então eu comecei a fazer algumas comparações e acreditem os puxadores de votos levaram vantagem. Se não vejamos: Qual a diferença ou o que você prefere?
Se não houvesse opção eu ficaria com os puxadores de votos, provavelmente ainda mais confiáveis.
Zé Dirceu ou Marcelinho Carioca???
Genuíno ou Tiririca (fiquei tiririca da vida e tive que escolher o Tiririca.) ou anular.
Paulo Maluf ou Romário – Fico com Romário. Ou anulo José Sarney ou Maguila - se não houvesse opções iria de Maguila. Ou anulava.
Martha ou Mulher Pêra. difícil, né Aguinaldo Timotéo ou Ronaldo Esper – os dois garantem que não é mole não.
Celso Russomano, Zé da Mancha e Netinho ou Juca Chaves – Vou com o Juca.
E assim “dis traído” e preocupado, fazendo as meditações acima cochilei e tive um sonho bonito.


SONHEI QUE VIVIA EM UM MUNDO ONDE NÃO EXISTIA MISÉRIA.
ONDE TODOS TINHAM O NECESSÁRIO PARA UMA VIDA DIGNA.
TAMBÉM NÃO HAVIA RIQUEZA EM EXAGERO. A DIFERENÇA ENT
RE RICOS E POBRES NÃO ERA TÃO ACENTUADA. NÃO FALTAVA ALIMENTAÇÃO, SAÚDE E EDUCAÇÃO PARA NINGUÉM, E O INTERESSANTE É QUE QUASE NÃO HAVIA VIOLÊNCIA. RAROS ERAM OS CASOS DE ASSALTO, SEQUESTRO, ETC.
NO MEU SONHO A JUSTIÇA ERA REALMENTE JUSTA: NÃO FAZIA DISTINÇÃO DE PESSOAS. NÃO HAVIA COMPRA DE LIMINARES. MANIPULAÇÃO DE SENTENÇAS, ETC. OS POLÍTICOS SE
CANDIDATAVAM MOVIDOS APENAS PELO DESEJO DE SERVIR. NÃO HAVIA MENSALÃO, DESVIO DE VERBAS, CORRUPÇÃO, DINHEIRO NAS MEIAS OU EM CUECAS.
O CRUCIFIXO COLOCADO EM DESTAQUES NAS PAREDES DOS ORGÃOS PÚBLICOS NÃO ERA APENAS DECORATIVO, TAMPOUCO UM GESTO FARIZAICO, ERA NA REALIDADE UM SINAL DO COMPROMISSO DE AMOR AO PRÓXIMO E DO EXERCÍCIO HUMILDE DA FUNÇÃO.
NO MEU SONHO NÃO HAVIA INTOLERÂNCIA RELIGIOSA. AS RELIGIÕES, NO LUGAR DE PERDEREM TEMPO DISCUTINDO PONTOS DE DIVERGÊNCIA ENTRE SI, PROCURAVAM DIALOGAR E SE APOIAVAM NOS PONTOS EM COMUM.
EM MEU SONHO AS PESSOAS NÃO QUERIAM LEVAR VANTAGEM: NINGUÉM ENGANAVA NIGUÉM, NÃO HAVIA ESPERTALHÕES. DIRIGENTESSINDICAIS E DE OUTROS MOVIMENTOS NÃO MANIPULAVAM AS PESSOAS DE ACORDO COM SEUS PRÓPRIOS INTERESSES. O EMPRESÁRIO, O INDUSTRIAL E O BANQUEIRO ESTAVAM MAIS PREOCUPADOS COM A SEGURANÇA, BEM ESTAR E QUALIDADE DE VIDA DE SEUS FUNCIONÁRIOS DO QUE COM SEUS LUCROS FINANCEIROS.
AS NAÇÕES MAIS RICAS PARTILHAVAM COM AS MAIS POBRES. O DINHEIRO GASTO NA FABRICAÇÃO DE ARMAS E EM GUERRAS ERA USADO PARA COMBATER DE FORMA EFICIENTE A FOME, AS DOENÇAS E A MISÉRIA.

NO MEU SONHO AS ONGS NÃO ERAM DEMAGÓGICAS E NEM MOVIDAS POR OUTROS INTERESSES. CADA SER HUMANO TINHA A PREOCUPAÇÃO DE ZELAR PELAS OBRAS DA CRIAÇÃO: O LIXO ERA RECICLADO, O ESGOTO TRATADO, OS RIOS PROTEGIDO, POLUIÇÃO REDUZIDA, A FLORESTA PRESERVADA.
NO SONHO, AS RUAS DE NOSSA QUERIDA SÃO PAULO, O TRANSITO NÃO ÉRA UM TORMENTO, COMO TAMBEM NÃO HAVIA NENHUM CONGESTIONAMENTO, NINGUEM MORAVA NAS RUAS, O POVO NÃO VIVIA ASSUSTADO, NEM MORAVA EM "APERTAMENTOS", AS CASAS ENTREGUES AOS POBRES ERAM BEM CONSTRUIDAS, SEM O SUPER FATURAMENTO ELAS FICAVAM A CONTENTO. O PICO DO JARAGUÁ NÃO ERA CHEIO DE ANTENAS, O RIO TIETÊ ERA LIMPO QUE ATÉ DAVA GOSTO DE VER, ENTÃO NO VERÃO BEM QUENTE DE CARRO NAS MARGINAIS, DAVA UMA GRANDE SEDE BEM NA BOCA DA GENTE.

Para uns, este sonho é utopia, para outros, um desafio. Para a maioria dos políticos que agora juntos aos novos puxadores de votos, talvez seja apenas uma forma de ganhar dinheiro sem fazer força, como essa maioria que só comparecem ao congresso as terças, quartas e quintas.
Acordei desse sonho, com a campainha da porta me atormentando. Olhei pela minha j
anela, vi uma bela figura tão pura tão feminina, achei até que era alguém do IBGE, que vinha fazer o meu senso.
E ao abrir o portão, que surpresa quanta alegria, fazia já longo nove meses que por perto eu não à via, voltava feliz e faceira, depois de vários meses em cruzeiro pela Europa, Leste Europeu, Ásia e toda América do Norte.
-Prima minha querida, como você esta linda e cada vez mais elegante.
-Tutu meu querido quanta saudades sua, não esqueci de você no caminho até aqui eu trouxe, pois sei que você gosta, estas bonitas flores, espero que te de sorte, e colocou em meus braços um buquê de belas Tulipas.
-Vera, minha querida, que lindas tulipas amarelas.
E então, eu e minha linda” PrimaVera” fomos juntinhos ver as flores em nosso florido jardim.
E ela me garantiu que vai ficar hospedada aqui em casa comigo, vença quem vença a eleições...Cheirosa e bem perfumada até o finzinho do ano.

Por Arthur Miranda (tutu)


sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Pela estrada dos tijolos amarelos

imagem acima: ipê do jardim de Márcia e Luiz Saidenberg

Foi só escrever sobre o Ferragosto e o tempo virou. Domingo, 5 de setembro de 2010. Pretendíamos dar um pulo à Santos, há muito que não descemos a serra.
E
aí, céu encoberto, umidade de quase garoa pairando na névoa e até um discreto friozinho. Fiquemos por aqui mesmo. Tem gente que adora São Paulo frio e cinza, resquícios da herança europeia que lhe corre ainda nas veias, até quando? Eu gosto de sol, mas, mesmo assim, ponho-me a caminhar pelas redondezas e vejo que há atenuantes.
É a hora e a vez dos ipês amarelos. Até o do meu jardinzinho floriu e, desta vez, na hora certa. As ruas do bairro estão tingidas de borrões dourados. Contra a apatia do cimento e o céu uniformizado de cinza, eles formam belo e alegre contraste.
É impossível passar por qualquer rua sem topar com alguns desses espécimes. Antes deles, foram os rosa, antigamente chamados de ipê roxo, com as cascas disputadas para curas milagrosas. As curas eram um embuste, mas o milagre permanece, renovando-se a cada fim de inverno.
Seguido pelo dos amarelos, magníficos em sua plumagem, dourados como um Buda, suprema forma de harmonia, Céu e Te
rra unidos em esplendor. E suas pétalas, muito efêmeras, transportam, rapidamente, o céu para o chão. Seguimos pisando macios tapetes amarelos, belos como os de Corpus Christi, mas sem a carga da culpa colocada nestes.
Tão belos no asfalto quanto nos galhos. São Paulo, tão sofrida e calejada, vira temporariamente Oz; avancemos pela estrada amarela até casa, onde nosso ipêzinho nos recebe de galhos abertos.
Ano que vem, se Deus quiser, tem mais.

Por Luiz Saidenberg

Quando as placas valiam

Hoje em dia, e já vem de muitos anos, as placas dos carros (chapa) estão vinculadas aos carros desde que foram instituídos três letras e quatro algarismos em sua identificação.
Anterior a esta mudança, as placas dos carros podiam ser negociadas. Era um procedimento dos anos 1950-60, nem tanto para os carros particulares, mas, as placas de carros de praça (taxi) eram vendidas a parte. Quanto aos carros particulares, as placas de cor amarela só interessavam quando os números correspondiam a alguma data importante ou ao ano de nascimento.

Já as placas dos carros de praça, ou taxi, que eram de cor vermelha, eram negociadas até mesmo por quem nunca teve carro na praça. Era como se fosse uma bolsa de placas de taxi e eram vendidas a preço bem alto. De posse da placa, era só colocar em seu carro e ir ao DETRAN regularizar o documento. Geralmente, quem vendia a placa, se incumbia do resto por intermédio de um despachante.
As placas, naqueles anos, tinham somente os números e foi instituído letras quando da fabricação dos carros no Brasil, que aumentou o número de veículos circulando pelas ruas, já não tendo mais como colocar só números, podendo causar duplicação da identificação.
Sendo assim, no inicio dos anos 1970 foi instituído a colocação de letras, mas somente um foi colocado, a letra S, para cidade de São Paulo, que vigorou até a colocação das três letras e quatro algarismos, com validade para todo o pais, sem o perigo de duplicação dos números.
M
as, quando só haviam números nas placas, nos anos acima citado, era comum as pessoas quererem negociar as placas com poucos números. Lembro que todos os dias eu passava no Vale do Anhangabaú, indo com destino à escola, no Brás, ao lado da Galeria Prestes Maia, onde tinha os mictórios, ao lado da área feminina estava a garagem do prédio do edifício Matarazzo. Ali estavam estacionados os carros da família e veículos de algumas das firmas do complexo IRFM.(Industrias Reunidas Francisco Matarazzo)
Os carros do Conde Chiquinho, tinham as placas números, 1, 3 e 4, até ai eu vi. Não tinha carro com a placa número 2. Curioso como sempre fui, falei com um serviçal:
Xará, e o carro com a placa número 2, porque não fica aqui estacionado? A resposta veio quase antes de terminar a pergunta:
- Porque ele não tem essa placa. Para lhe falar a verdade, ele está atrás dela, já há tempos. É propriedade de um endinheirado da alta sociedade. Meu patrão pagaria quanto ele pedisse, mas, o cara não vende por dinheiro algum. Já se ouviu dizer, numa de suas festanças, ele dizer em voz alta: - Eu, vender a minha placa e deixá-lo possuir a sequência completa? Pára ai, cara!
O Diário Popular, em seus pequenos anúncios classificados, estavam sempre colocando em suas páginas, anúncios compro e vendo placas de autos.
Hoje em dia, você pode pedir ao DETRAN a placa com as letras e números de sua preferência, mas, se vender o veiculo, lá vai sua placa junto.

Por Mário Lopomo

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Memórias Setembrinas

Setembro, nono mês do calendário, marcado por grandes eventos.
No sul, a festa da Farroupilha e a Setembrina são tradicionais e muito concorridas.
No Brasil, como um todo, a chegada da Primavera é comemorada com brilho e alegrias.
A estação das flores é a mais linda das quatro estações climáticas. É, com a sua chegada, que o colorido e o perfume das flores passam a ser exaltados.
Eu, particularmente, tive a grande flor da minha vida em Setembro. Ela chegou neste plano exatamente no dia de início da estação, 23 de Setembro. O ano não importa. Import
a que viveu toda a sua existência exalando o mais terno dos perfumes.
Suas mãos, tal qual pétalas de rosas, por mais de meio século me acarinharam nas horas de aflição, no meu querido Bixiga. Curaram minhas feridas, com ternura e dedicação. Aplaudiram minha arte quando se fez necessário e, da mesma forma, souberam aplicar corretivos, e foram muitos, mas, todas as vezes que me senti punido pelas mãos aveludadas, fui sempre banhado por gotas orvalhadas de suas lágrimas, provando quanto sentiam a aplicação daquele castigo. Sampa assistiu.
Isso mesmo, a minha flor, não é outra, é Dona Terezinha, nascida
Tereza Sito que, depois, adotou o Chammas como novo sobrenome. ,
Mulher de pequena estatura, 1,60 m de altura, que tinha o coração com mais de 2,00 m de tamanho.
A dona de casa perfeita, a cantora que mais agradou aos meus ouvidos, a tricoteira e bordadeira mais exímia que conheci.
Enfim, a minha MÃE!
Sua estampa física, infelizmente, o tempo cruel consumiu; só não conseguiu apagá-la da minha mente.

Hoje, minha mãe, peço licença aos demais frequentadores deste espaço, para não editar alguma das minhas memórias corriqueiras.
Quero, neste texto, homenagear a data do teu nascimento e prantear o teu desaparecimento, embora tenho certeza absoluta que, na luz de outro pranto, ainda continuas a zelar por este teu filho querido.
Parabéns, mamãe!
Sua benção, minha velhinha!

Por Miguel Chammas

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Respeitável público!

Diante da proximidade do pleito eleitoral, quero entregar-lhes este texto. Ele não fala sobre a nossa Sampa, mas, tem tudo a ver com ela e com o nosso Brasil.
É o meu testemunho pessoal e assinado. É a minha tentativa pessoal para contribuir, de alguma forma, para que as pessoas votem em seus candidatos, com mais consciência. (Zeca)


Quando eu era pequeno, uma das maiores alegrias da criançada era a chegada de um circo perto de casa. A alegria tomava conta dos nossos corações que passavam a semana toda se enchendo de expectativas e aguardando o fim de semana para ir ao circo. E a recompensa era certa! O apresentador sempre se dirigia ao público com a seguinte expressão: “Respeitável público...” E apresentava os números que nos traziam o mundo encantado dos malabaristas, equilibristas, mágicos, alguns animais e, sempre... os encantadores palhaços! Os anos se passaram e o circo, como o conhecemos, chegou ao fim! Aquele circo que nos fazia sorrir, que mesmo com a lona rasgada e o pequeno faturamento, se importava mesmo é com a alegria da garotada, que instalava um clima de magia no ar.

Este ano, como acontece sempre, temos o pleito eleitoral que nos traz de volta, já adultos, a magia do circo. Não é a mesma magia de antigamente, mas o picadeiro está armado e os apresentadores nos dizem: “Respeitável público, nos dêem seus votos para que possamos entrar no picadeiro!” Esse circo é muito rentável, onde uma plêiade de atores transformados em palhaços, malabaristas, equilibristas, cantores, atores e mágicos disputam seus lugares ao sol, de preferência regados a uísque (importado) e dinheiro (muito dinheiro). Esses atores não se importam com a alegria do seu público e sim com a deles próprios.

O que conhecemos agora como “ficha limpa”, aprovado recentemente sob o clamor popular,nada mais é do que obrigação de todos, embora não seja segredo para ninguém, que o “ficha limpa” não garanta a idoneidade dos candidatos, apenas se limitando a conferir o histórico dos mesmos.

Mas o que acontece com o crivo das pessoas e dos líderes dos partidos, quando pensam em colocar certas pessoas nas disputas pelos cargos em todo o país, sem exceção? Temos por aí as candidaturas da Mulher Pera, do Tiririca, dos irmãos do KLB Kiko e Leandro, do Ronaldo Esper e do Batoré, preferindo eu parar por aqui, para não estender demais este texto. É um verdadeiro circo ou não é? E o que passa pela cabeça de um cidadão ao aceitar esses candidatos, que nem ao menos sabem o que faz um deputado ou um senador? Na verdade isso nem importa, se levarmos em consideração que os nossos deputados e senadores (muitos deles) também não saberiam responder essa pergunta decentemente.

Eles sabem, sim, enriquecer, empregar familiares e amigos, além de defender interesses de quem financiou sua campanha (veja PCC x Ney Santos, noticiado exaustivamente nos últimos dias) e todos os cambalachos que nós, cidadãos, nem desconfiamos da existência. Mas o que mais me incomoda mesmo não é o fato de comprovar essas candidaturas “estranhas”, mas sim constatar a possibilidade de que eles sejam eleitos.

O nosso povo é tão desprovido de educação e cultura (bases que deveriam ser fundamentais em todas as sociedades), tão desestimulado ao esforço do aprendizado que se mantém na ignorância e se sente agradecido e devedor ao “Grande Pai” que lhe dá “bolsa família, bolsa presidiário, bolsa isto, bolsa aquilo” sem que ele precise se esforçar em melhorar, em aprender, em se instruir. Também, se o próprio presidente da república diz com orgulho não ter estudo, ser filho de mãe que se manteve analfabeta durante toda a vida e revela ser incapaz de ler um livro, quer exemplo maior dessa falta de educação e cultura que já se tornaram endêmicas em nosso país?

Os candidatos, ao fazerem suas propostas eleitorais, prometem aos eleitores mais investimentos na área de assistência social, acreditando que o povo tem fome apenas de comida. Esquecem que para haver uma população saudável, ela precisa, acima de tudo, de instrução para saber evitar o que lhe possa causar mal. Através da instrução, se transforma analfabetos em pessoas capacitadas a ler e entender o que está lendo, a escrever com clareza suas idéias e suas necessidades, ler e entender o que a imprensa escrita e falada mostra todos os dias e, com tudo isso, formar suas próprias opiniões e saber externá-las através do mais poderoso instrumento que possui, que é o voto. Mas isso não interessa aos políticos de plantão, pois é muito mais fácil enganar pessoas sem instrução que geralmente não possuem as informações necessárias para distinguir o que é certo e o que é errado dentro dos discursos dos nossos políticos e, conscientes dos seus direitos, os cobrem dos governantes.
Os candidatos à presidência, não trazem absolutamente nenhuma novidade em seus discursos, em seus “programas” de governo! Todos eles representam a continuidade do “coronelismo”, do “paternalismo”, que parecem incrustados em nossas memórias e em nossos corações. Desses, dois estão no centro do picadeiro, dois rondando pelas arquibancadas e os demais, circulando por fora do Grande Circo, por não terem conseguido ingresso.
Portanto, os únicos que nos interessam de verdade, neste momento, são os que estão no picadeiro. Um, que não se decide se é mágico, se é palhaço ou malabarista, não mostra o menor talento para o entretenimento do respeitável público e, mesmo se em seu íntimo guarda o grande e tão esperado Artista, não consegue transmitir nada e fica circulando, como o palhaço que apanha sempre e não bate nunca, com os olhos vendados e as mãos atadas. A outra, representa o palhaço esperto, que se mantém no centro das atenções graças a sua esperteza e, batendo no outro, arrebata o grande público que acaba torcendo por ela e mantendo-a no centro do picadeiro. Ela também está travestida com a fantasia do seu mentor e mestre que é o verdadeiro Grande Palhaço desse circo! Ele sim sabe fazer a criançada feliz, com suas tiradas desinteligentes e espirituosas, suas trapalhadas, suas ligações com os outros Grandes Palhaços de outros Grandes Circos.

E nós, infantilizados pela falta de educação e cultura, que não é privilégio desse Grande Palhaço, mas que vem de séculos de paternalismo-coronelista, acabamos mantendo esses mesmos “artistas” no Grande Picadeiro, eternizando nossas carências e alimentando nossos egos com nossas risadas inocentes e infantis. Aplaudindo qualquer palhaçada, mesmo aquelas que não faríamos em nossas próprias vidas.

E, na falta de opção, acabamos divididos entre o candidato a palhaço que apanha e a candidata que bate. Resta decidir se ficaremos ao lado daquele ou desta.
Aquele trabalha no Grande Circo há décadas, tendo representado grandes papéis e conseguido, em seus melhores momentos, trazer sorrisos ao rosto da garotada. A outra passou, meteoricamente, de ilustre desconhecida a atriz secundária no show do Grande Palhaço que é mais ilusionista que outra coisa. Ela não trouxe nenhum sorriso e tem uma história obscura, cheia de boatos (ou fatos?). Ela me parece ser o dedo que falta na mão esquerda de seu mestre. E além deles, temos uma verdadeira constelação de astros e estrelas secundários, que se candidatam aos demais cargos nesse circo que é maior do que coração de mãe. É aí que entram as pessoas mais despreparadas que só querem mesmo é se dar bem, já que seus shows solos não rendem mais boas bilheterias.

Sinceramente, eu não sei onde vai parar tanta gente incompetente! Mas o que mais me assusta não é saber que aceitamos e até apoiamos candidatos fruta, candidatos artistas, candidatos palhaços; o que me assusta mesmo é ver a possibilidade de que eles sejam todos eleitos e, aí sim, poderemos nós, cidadãos brasileiros, pegarmos nossos narizes vermelhos e sairmos por aí festejando a chegada de mais um Grande Circo, com seus números velhos e requentados, sem nenhuma novi
dade.
Bem, eu não quero continuar sendo taxado de “povo ignorante”, por isso, estou checando muito bem os meus futuros representantes, o que eles já fizeram pelo país, o que se propõem a fazer e vasculhando seus históricos de vida e de atuação. Eu não quero ser conivente com o que vejo em todos os escalões do poder, não quero ser hipócrita a ponto de não perceber a que ponto meus votos poderão nos levar e àqueles que virão depois de mim. Eu quero renovar esse Grande Circo, trazer para o picadeiro artistas que tragam novidades e, de verdade, tragam alegria ao meu coração!
Eu não quero deixar como mensagem a frase: “dia 3 de outubro, coloque seu nariz de palhaço e vá votar!”

Por Zeca Paes Guedes

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Uma noite no Avenida Danças

foto acima: festa de lançamento do disco-manifesto no Avenida Danças, em São Paulo, 12 de agosto de 1968 à frente da orquestra da casa, Gal, Nara, Rogério Duprat (de costas), Caetano, Gil e os Mutantes na platéia, os jornalistas Alberto Helena Jr. (de óculos) e Chico de Assis.
foto abaixo: Maestro Tobias Troisi

Noite de 23 de setembro de 1.954.
Na esquina da Av. Rio Branco com a Rua Aurora, ficava o "Avenida Danças", famoso "Taxi-Dancing" daquela época.
Edgar, João Roberto e eu, resolvemos entrar para ouvir um pouco de música, pois, naquela noite, se comemorava o início da primavera e as damas se apresentavam todas com vestido cor de rosa. Faltavam poucos minutos para as 22 horas e o ambiente ainda estava semi-deserto. Conseguimos uma mesa bem ao lado das cadeiras onde as meninas ficavam sentadas, esperando os dançarinos; aos poucos o salão foi sendo ocupado pelos habitués; o conjunto dirigido pelo maestro Tobias Troisi que dava início ao baile. Geralmente, as primeiras músicas eram suaves (um fox, de preferência) e de algumas ainda me lembro:

O crooner dizia:

Não sei, que estranha magia

Teu corpo irradia e que me deixa louco assim, mulher...

Em seguida outro número:

Rosa de maio, neste poema
Tu és o tema, a inspiração
Rosa de maio, por qualquer preço
Não te ofereço meu coração

Praticamente, ninguém queria ser o primeiro a sair dançando com a pista ainda vazia. Assim, alguns funcionários da casa tiravam as bailarinas e saíam dançando para incentivar aos demais frequentadores e, aos poucos, o salão já apresentava um bom número de casais e o crooner continuava no fox:

Meu amor, veja bem o que tu vais fazer,
Um amor sincero igual ao meu
Hoje não se encontra mais...

Em seguida mais um número:

Maria Helena lembra o tempo que passou,
Maria Helena o meu amor não se acabou
Das flores que eu guardei uma secou
Maria Helena és a verbena que murchou...

E a seleção se encerrava assim:

Mas se nunca mais voltares,
Para aliviar os meus pesares,
Guardarei teu vulto então
Sempre no meu coração...

A música não parava... Em seguida, uma seleção de boleros, de alguns ainda me lembro:

Pintor nascido em mi tierra
Con el pincel estranjero
Porque al pintar em tus quadros

Te olvidaste de los negros...

e proseguia a seleção com os sucessos mexicanos da época:

La mujer que al amor no se assoma
No merece llamar-se mujer
Es qual flôr que no expande su aroma
Es un leno que no sabe arder

e se encerrava geralmente assim:

En el camino verde,
Camino verde que vá à la ermida
Desde que tú te fuiste
Lloran de pena las margaridas

E foi exatamente nessa noite que eu fiquei conhecendo a dançarina Maria Helena; gastei, praticamente, um cartão com ela, pois a morena era de fato muito bonita, olhos negros, lábios carnudos e sabia ser provocante quando dançava, tivemos até um curto "caso" mas este é um assunto para a próxima matéria.

Por Leonello Tesser (Nelinho)

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A delicadeza hoje em dia é mato

Dona Deolinda nasceu e sempre viveu aqui em nossa Capital, São Paulo, na realidade ela jamais pisou em outra cidade, nem mesmo Santos, Jundiaí, ou nenhuma outra cidade da Grande São Paulo. Deolinda sempre foi uma pessoa virgem de outras cidades. Ou seja, jamais saiu de nossa capital.
Nasceu na Barra Funda em 31-08-1910 - AC (antes do Corinthians), na Rua Vitorino
Camilo e, se estivesse viva até hoje, estaria com 100 anos e comemorando seu centenário juntamente com seu time, o Corinthians. Em 1929 morou na Rua Dona Veridiana, depois foi para a Rua Tenente Lande, na chamada Lapa de baixo e, por fim, veio para a Freguesia e aqui viveu até o final de seus dias.
Foi educadora, pessoa muito querida e amada por todos os que a conheceram. Era uma professora carinhosa compreensiva, gostava de ouvir, falar e trocar idéias com todos os seus alunos, até mesmo aqueles mais difíceis.
Solteirona, aprendeu com as mulheres mais velhas de sua época a não confiar muito nos homens, a coisa que ela mais ouvia de sua mãe, avó e tias era: - Cuidado menina, os homens são to
dos iguais. Afirmação que posso garantir ser uma grande mentira e não passar de mito. No exame médico que fiz para a seleção militar, em 1958, no Quartel do Exército, o 4º RI em Quitaúna, eu já pude constatar pessoalmente que, se você colocar 40 homens pelados juntos, nenhum é igual ao outro; uns são grandes até exagerados, outros médios e alguns até pequenos demais.
Na igreja ela cantava no coro, era catequista, acendia a vela do padre, sempre com aquele seu jeitinho ingênuo, cuidadoso, carinhoso, falando baixinho; em verdade, era mesmo como todos costumavam dizer, a mão direita e a esquerda da paróquia.
Em 29 de Agosto de 2002, ano em que a Freguesia do Ó comemorou seus 422 anos de fundação, eu encontrei-me com ela, b
em idosa com seus 92 aninhos de vida muito bem vividos, é claro, carinhosa simpática e ingênua como sempre.
Toda feliz e sorridente me cumprimentou e, pela conversa, percebi que sua memória já não era tão boa; falou dos sobrinhos que foram meus amigos de infância e então, toda gentil, explicou a razão de toda sua felicidade, com sua voz já fraca e arrastada.
- Nosso mundo, Arthur, é uma coisa muito boa; ainda tem muita gente boa e educada n
esse mundo. Imagine você que eu peguei, ontem, o vagão do metro tão lotado, mas tão lotado, que não aguentei mais e fiquei de cócoras. Aí, um cidadão muito gentil e delicado, levantou-se para me dar seu lugar e ainda comentou:
-Sente-se aqui, minha senhora, esses marmanjos ai sentados quando entra uma mulher
bonita, jovem, e de mini-saia eles vão logo dando o lugar, porém, quando entra um bucho igual à senhora eles fingem que não estão vendo.

-É, Dona Deolinda! E agora com o Tiririca, pode acreditar, que melhor que isso não fica.

Por Arthur Miranda (tutu)


sábado, 18 de setembro de 2010

Paz

É possível construir a paz. Sim. Uma construção firme e que exige todos os quesitos para esta firmeza.
Necessitamos pensar na paz, falar e viver a paz, para que ela se estabeleça.
Na verdade, o que se leva em conta, lá na Contabilidade Divina, é o esforço que empreendemos em favor da paz. Para isso, são necessários a prática do esquecimento do orgulho, fazermos um pedido de desculpas, uma declaração de estima ou amor, ou outra ação benevolente, que tão bem faz à alma e tranquiliza o coração.
Ninguém alcança o bem sem esforço no bem, sem disciplina elevada de sentimentos, sem iluminação de raciocínio em favor do bem.
Entendo que devemos viver a paz em todos os instantes, em São Paulo e em todos os lugares. Então, aqui em nosso cantinho de recordações, também quero vivenciá-la e externá-la...
Desejo a todos, um final de semana pleno de paz!
Até segunda-feira, amigos!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Memórias assustadoras - II

Como se fala no vulgo popular, “...quem conta um conto, acrescenta um ponto...”, eu também, lendo meu texto anterior lembrei der outra situação, aterrorizantemente engraçada, e resolvi contá-la neste cantinho de recordações.
O local era o mesmo, Rua Diogo Vaz, no bairro do Cambuci, os personagens também os mesmos, meu ídolo e tio Miguel, minha Tia Maria, eu e meu irmão Carlinhos, que passávamos uma temporada com os tios para que minha mãe se recuperasse de uma intervenção cirúrgica, que havia feito no antigo Hospital Oswaldo Cruz, da Rua João Julião, no bairro do Paraís
o.
Pois bem, certa tarde, sem antes ter assustado meu irmão com as peraltices do Romuvaldo, estávamos na sala de visitas a paparicar. Na época, a TV nem era ainda cogitada; assim, as famílias tinham mais tempo para se reunir, conversar, brincar, enfim, para ter uma vida familiar mais intensa.
Por volta das 18:00 horas, meu tio levantou-se da poltrona e dirigiu-se à cozinha. De lá, ouvimos quando ele, numa voz normal, chamou:
- Miguelziho!
Eu, obediente, levantei-me e para a cozinha me dirigi. Lógico, a minha sombra, chamada Carlinhos, foi atrás.
Lá chegando, vimos meu tio em frente ao fogão e, de imediato, colocando o dedo indicador sobre os lábios, nos pediu silencio absoluto. Completando o gesto, nos disse que iríamos dar um susto na Tia Maria que estava na sala de visitas a ler uma revista.
Vibramos com a idéia.
Percebi,
então, que ele queimava na chama do fogão, uma rolha grande – as rolhas eram guardadas depois de retiradas das garrafas – depois, chamando meu irmão, começou a pintar sua cara com o negrume da rolha queimada.
Aumentou suas sobrancelhas, pintou barbas e bigodes, chegou ao detalhe de enegrecer os dentes da frente.
Terminada a caracterização, mandou que meu irmão e eu ficássemos na cozinha e aguardássemos uma chamada dele e foi para a sala.
Lá chegando, esperou uns poucos minutos e me chamou sabendo, lógico, que minha “sombra” me seguiria.
Dito e feito, fomos pelo corredor da casa, pé ante pé e, ao chegarmos na sala, fizemos uma entrada espetacular.
BUHHH!
Minha tia, toda inocente, simulou um susto, mas meu tio, com o cenho fechado, me perguntou:
-Quem é esse monstrinho que está atrás de você? Será que é filho do Romuvaldo?
Meu irmão de imediato, já não gostando da brincadeira, disse: -Sou eu tio, o Carlinhos.
Que Carlinhos ? Retrucou meu tio, imagina Maria, se o Carlinhos é tão feio assim.
Essa cena se repetiu algumas vezes; meu irmão, jurando ser ele mesmo e meu tio negando-lhe a identidade.
Depois de pequeno espaço de tempo, percebendo que a noite já se instalara. Meu tio pega, temeroso, na mão do Carlinhos, vai até a porta de entrada da casa, abre-a, coloca-o para fora dize
ndo que não queria mais monstros na sua casa e fecha a porta mandando-o procurar outra casa para se hospedar.
Porta fechada, lá fora o choro apavorado do meu irmão. Lá dentro, as gargalhadas acachapantes, nesta altura, minhas e do meu tio, até que uma voz mais alta e estressada se fez ouvir.
Calem-se, seus sacripantas (minha tia era de nacionalidade portuguesa) e, empurrando-nos, abriu a porta, aconchegou meu irmão em seus braços e foi tratar de lhe limpar a cara, nessa altura totalmente borrada pelas lágrimas.
Depois de limpo e ainda soluçando, meu tio se achegou até ele e disse:
-Maria, é o Carlinhos mesmo, também com aquela cara toda pintada eu nem o reconheci....
Era um cara de pau ou não esse meu tio?

Por Miguel Chammas

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Minha história mesclada à de Sampa – 1ª parte

Não quero parecer pretensioso com o título acima, mas acredito que ir contando resumidamente a história de nossa cidade enriquece a nossa própria história, dando-lhe mais autenticidade e tornando-a mais interessante. No meu caso, nascido no interior, creio que um pouco da história da cidade onde nasci ajudará no entendimento da minha formação como ser humano.
Em meados do século passado, a cidade de Guarulhos ainda podia ser chamada de cidade do interior. Uma ida até a Capital do Estado (nossa amada Sampa) carecia de preparativos, horários de ônibus e demorava de uma a duas horas. Hoje, devido às facilidades de locomoção, essa viagem encurtou-se significativamente e a cidade já faz parte da Grande São Paulo.
Guarulhos surgiu como elemento de defesa da cidade de São Paulo e, em 1560, do povoado dos índios G
uarus, surgia o primeiro aldeamento que daria origem à cidade. Passou pelo garimpo de ouro, depois agricultura e criação de gado, até atingir sua atual vocação, como aglomerado industrial.
No início do século passado foi inaugurado o Ramal Guapyra-Guarulhos (o trem da Cantareira), com a finalidade de transportar madeira, pedra e tijolos. No território guarulhense, foram cinco as estações: Vila Galvão, Torres Tibagy, Gopoúva, Vila Augusta e Guarulhos, além do posterior prolongamento até a Base Aérea (hoje Aeroporto Internacional de Guarulhos – Cumbica).
Também dessa época é a chegada da energia elétrica (Light & Power) e já se iniciavam
as demandas pela instalação da rede telefônica e para licenças de implantação das primeiras indústrias que foram se espalhando a partir da Estrada do Rio, a futura Rodovia Presidente Dutra. A partir da década de 40 começaram a chegar indústrias dos setores: elétrico, metalúrgico, plástico, alimentício, borracha, peças para automóveis, farmacêutica entre muitos outros. A Via Dutra aproximou bastante os guarulhenses dos paulistanos, já que a capital podia ser atingida tanto pela Dutra quanto pela Penha, até então o único caminho disponível.
E foi em Guarulhos que nasci, mais precisamente em Gopoúva. Meus pais tinham uma pequena casa nesse bairro, fruto de anos de trabalho e que, durante minha infância acabou sendo trocada por outra um pouco maior. Nossa família não era rica, mas era assim considerada por residirmos em casa própria e termos um automóvel na garagem, coisa rara naquela época.
Também meus pais, que sempre foram vaidosos e gostavam de vestirem-se muito bem, contribuíam para os boatos de riqueza. Meu pai saia todos os dias para o trabalho usando ternos bem cortados em alfaiates da capital e minha mãe com seus vestidos confeccionados por modistas renomadas e sempre bem penteada e levemente maquiada. O que as pessoas não percebiam era que, para ter aquele padrão de vida, ambos trabalhavam bastante, numa época em que a maioria das donas de casa ficava em casa cuidando dos afazeres domésticos e da criação dos filhos. Em casa, minha avó materna fazia as vezes de dona de casa, cuidando de tudo e da educação dos netos, sempre auxiliada por uma empregada doméstica, outra raridade na sociedade local. Com isso quero dizer que eu e meu irmão tivemos uma infância tranqüila, sem qualquer privação e até com algum conforto, maior do que o dos nossos coleguinhas de escola ou de bairro.
Uma coisa que marcou bastante nossa infância foi que, em razão da vontade que meus pais tinham de vencer na vida, nos mudamos de residência várias vezes, o que não nos permitia solidificar amizades. Quando estávamos nos acostumando e formando um grupo de amiguinhos, no
va mudança para outro bairro ou até mesmo outra cidade - quando nos mudamos para o Jabaquara eu estava com sete anos, justamente iniciando o primeiro ano primário, que perdi devido a essa mudança. Mas ganhei mais um ano para brincar e para re-conhecer o novo bairro.
Esse é o início de uma história de uma infância feliz, que foi se transformando em adolescência, mocidade e maturidade ao longo da segunda metade do século passado, tendo como ponto alto a Revolução de 1964. Afetando o mundo e, claro, meu microcosmo, houve, desde o advento do rock and roll, passando pelos movimentos feministas, uma significativa mudança na estrutura familiar, o esvaziamento e a gradativa perda de poder das igrejas tradicionais como fonte de educação moral, o ganho de poder da juventude dentro da sociedade e o impacto imenso da comunicação de massa sobre um número cada vez maior de pessoas. Mas para não esticar demais o assunto, se me permitirem, pretendo ir falando sobre tudo isso nos próximos textos.

Por Zeca Paes Guedes