sábado, 31 de julho de 2010

Bom final de semana




Olá!
Memórias de Sampa também é cultura.
Vale conferi ros links abaixo.
Bom final de semana!


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84ª Festa N. S. Achiropita

Ano de 1926. As ruas são de terra batida, algumas dezenas de casas espalhadas e os caminhões puxados por juntas de bois passam lentamente.

Ao cair da noite, as famílias se reúnem diante das portas de suas casas para conversar. Começa a escurecer e o pequeno sino da capelinha chama os fiéis para a bênção.
Cada pessoa, carregando sua cadeira, caminha para a pequenina igreja. Com a chegada de mais famílias, a capela já é insuficiente para acomodar a todos e boa parte fica do lado de fora. Surge, então, a idéia: vamos construir uma igreja maior! Mas... como fazer? O meio mais tradicional de angariar fundos é lembrado: a quermesse. Mobilizam-se e cada família contribui com prendas, animais e aves para serem vendidos ou leiloados.
Improvisam barracas para a venda de pratos preparados pelas "mammas". Abrem-se listas para doações. Com a transformação oficial em paróquia, um novo ânimo impulsiona a todos. Iniciam-se as obras que, após alguns anos, chegam ao final. A carência de recursos adia por muito tempo a pintura da igreja, devido ao elevado custo.

Somente na década de 50, no apogeu das associações religiosas da comunidade, a pintura é executada. Nesta época também os paroquianos decidem fazer uma coroa para a padroeira e, para isso, realizam uma campanha de doação de anéis, jóias e brincos.


Com o advento do Encontro de Casais com Cristo e, conseqüentemente, com a agregação de muitas famílias, os moradores do Bixiga partem para a construção da primeira grande Obra Social: o Centro Educacional Dom Orione, que atende crianças dos 7 aos 15 anos. Lá, essas crianças recebem alimentação, complementação escolar, artes, iniciação em informática, assistência dentária, encaminhamento profissional etc. Obra dispendiosa, que exigiu a ampliação de nossa festa: o aumento de 5 para 15 barracas e a criação da cantina interna. Com fé na Divina Providência, a comunidade não se acomoda: parte para a construção de mais uma obra, a Casa Dom Orione, com o objetivo de acolher a população de rua, dando-lhes local para higiene pessoal, café, almoço, orientação psicológica, apoio dos Alcóolicos Anônimos e trabalho de recuperação e reintegração social.
O trabalho com a terceira idade também ganhou espaço lá: musicoterapia, artesanatos, convivência, coral...
Ano de 2001. Iniciada com a participação de algumas famílias, a festa hoje reúne cerca de 800 pessoas voluntárias, que se empenham ao máximo para oferecer aos participantes uma festa alegre e gostosa, com shows contagiantes e comidas saborosas. Cada equipista assume a sua missão com alegria, disposição e doação. Mais de 120 mil pessoas visitam o Bixiga e a Festa d’Achiropita todos os anos. Todos – equipistas e visitantes – nos unimos no louvor a Nossa Mãe querida, lembrando o lema de Dom Orione: "Ave Maria e avante!" .
A festa de N.Sra. Achiropita é a cara da comunidade. Ela é o resultado do esforço de paroquianos e do bairro, que se movimentam para que ela seja um grande sucesso.
CONHEÇA A "FAMÍLIA" ACHIROPITA.
A festa tem muito a ver com o bairro do Bixiga. Teve início com a chegada dos italianos no início do século XX os quais trouxeram a devoção a Nossa Senhora Achiropita. Com a necessidade de construir a Igreja, onde todos pudessem prestar culto à Padroeira, foi lançada a idéia de promover uma quermesse para angariar fundos necessários. Outros grupos que moravam ou chegavam ao bairro como os negros, nordestinos, portugueses, etc, foram se integrando a comunidade.
Hoje a comunidade é composta de descendentes de todos estes grupos que morando ou não no bairro, por ocasião da festa, fazem questão de participar da mesma, motivados pela grande devoção à Mãe Achiropita.
FESTA PRAQUE?
No início a festa era realizada para a construção da igreja e hoje o principal objetivo é levantar recursos para as Obras Sociais. Nosso trabalho vai além de socorrer as pessoas em suas necessidades básicas, acreditamos em recuperar o ser humano, resgatar sua dignidade e cidadania. Este é o nosso m
elhor investimento.
PARTE RELIGIOSA
A festa religiosa é o ponto central das comemorações. A programação inclui:
• Novena da Padroeira.
• Procissão pelas ruas do bairro com Nossa Senhora abençoando as casa e moradores.
• Missa solene com coroação de Nossa Senhora.
BÊNCÃOS
Todos os sábados e domingos, durante a festa, ocorre a visitação a nossa senhora e de hora em hora são dadas bênçãos aos fiéis presentes que lotam a igreja, numa profunda demonstração de fé.
FESTA NA RUA
Nas ruas Treze de Maio e São Vicente são instaladas 35 barracas onde o público pode deliciar-se com variados pratos típicos italianos, como fogazza, fricazza, polentas à bologneza e frita, antepasto, sardela, peperone e malanzanas al forno, calabrezas, macarrão, pizzas, etc... Vinhos e refrigerantes também são servidos em quantidade e qualidade. Uma grande variedade de doces típicos, como sfogliatelli e canole, são servidos nas barracas. No ano 2000 houve ampliação das opções de lazer, com uma barraca de diversões e uma ba
rraca de souvenir.
FESTA NA CANTINA MADONA ACHIROPITA
Nossa cantina é um grande salão carinhosamente decorado, alegre e festivo, onde é impossível não se deixar contagiar pela música italiana ao vivo. O convite à dança é irresistível: a pista central torna-se pequena e a dança se espalha pelo salão. Nos intervalos os leilões e sorteios mantém o clima de animação e a disputa pelas prendas é bastante acirrada, além do incomparável macarrão ao molho Achiropita. Os convidados podem deliciar-se com variada mesa de antepastos, saladas, frios, polenta frita, pão italiano, sardela, diversos tipos de beringela, etc. Tudo à vontade.
À parte das iguarias preparadas pelas "mammas", podem também ser saboreados: peperones e melanzanas al forno, fogazza, fricazza, etc. Os ingressos para a Cantina são vendidos a partir da primeira semana de julho, com lugares reservados e preços variados.

ATRAÇÕES ESPECIAIS
• A "linha de produção" da fogazza com mais de 120 pessoas preparando esta deliciosa comida italiana, com inconfundível qualidade e um toque especial.
• O queijo provolone com dois metros de comprimento e mais ou menos 100 quilos, um dos prêmios mais cobiçados da festa.
• O tapete de flores confeccionado pelos alunos da Escola Maria José em homenagem à Padroeira, para a procissão na Rua São Vicente
PÚBLICO
Estima-se a presença de 200.000 pessoas no período da festa e é previsto o consumo de 10.000 quilos de farinha de trigo, 10.000 quilos de macarrão, 4.500 latas de óleo, 5.000 quilos de mussarela, 5.000 quilos de lingüiça, 5.000 quilos de carne, 10.000 litros de vinho, 15.000 litros de chopp e 15.000 litros de refrigerante.
SEGURANÇA
Toda a área da festa e vizinhança conta com cerca de 100 policiais, viaturas, motos e uma unidade móvel da polícia militar para maior segurança dos convidados, além da segurança particular no ambiente restrito da festa.

Acesse: http://www.achiropita.org.br/

Por Laer Passerini

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Cicatrizes de uma saudade

Longe estou de meu pedaço e de tenras saudades. Os olhos cerrados, me levam ao subconsciente da saudade e lá, posso rever as coisas que deixei no velho e saudoso 'Bixiga'.
Sim, sempre ele, o velho Bixiga é minha quase que constante inspiração, em quase tudo o que penso e penso sempre com saudades daquilo tudo que alí deixei. Parentes, amigos, lugares, os velhos casarões, as saudosas malocas, os cortiços. Ruas de minha infância, caminhos de minha mocidade, tudo tem a atmosfera da saudade.
Que bom seria se tudo permanecesse como um dia deixamos e, quando pudéssemos retornar, tudo estivesse no mesmo lugar. Até as pessoas, que um dia dividiram conosc
o os mesmos espaços, e que já não mais estão por lá. É pedir demais, eu sei, mas, ninguém comanda as saudades, principalmente aquelas que insistem em morar em nosso peito e a toda hora batem à porta de nossos corações para dizer: 'ei, tá na hora de você se lembrar do Jabra, do Tito, do Seu Benjamin. Do cheiro envolvente da fábrica de esmaltes para unha, no início da Conselheiro Ramalho, esquina com a Ricardo Batista. Do outro lado da rua, ficava a Delegacia Regional do Trabalho, onde tirei a minha Carteira Profissional de Menor, aquela de cor verde.
A farmácia do Álvaro, na Santo Antonio, esquina com a mesma Conselheiro Ramalho, da fábrica de espelhos São Pedro, também na Santo Antonio com o viaduto Martinho Prado. Hoje, é uma área aberta e transformada em estacionamento. O velho campo do Boca Juniors, com a sua quadra de bocha no alto do barranco que dava para a avenida Nove de Julho, da casa do Ariovaldo e do Aristeu, primos consanguíneos e amigos meus. Da maloca do 'doido' Moacyr, o doido mais esperto que o Bixiga já conheceu e que hoje, via de regra, cedeu o terreno para outro estacionamento de automóveis, lá na mesma rua Santo Antonio.
São Paulo cresceu em população humana e também em população automobilística e, com isso, foi necessário descaracterizar algumas áreas para dar vazão ao fluxo do trânsito, já bastante caótico, no centro da cidade, expandindo-se para os bairros e o meu Bixiga sofreu com essa 'modernização' quando um prefeito, com idéias modernas, rasgou numa única cutelada, algumas ruas tradicionais do bairro.

Sumiram as ruas João Passalacqua, Quatorze de Julho, parte da Conselheiro Ramalho, Manoel Dutra. A João Passalacqua misturou-se à rua Rui Barbosa e se transformou em uma larga avenida. E, tudo isso, para dar passagem à via expressa, a radial Leste-Oeste, que se interliga ao 'minhocão'.
Destas ruas que citei, só restou o sentimento nostálgico de outrora, com as casas que já não mais existem e que, um dia, abrigaram tantos amigos, como o velho sorveteiro da João Passalacqua, a velha padaria da Quatorze de Julho, onde eu sempre comprava o pão italiano, o 'redondão', a casa do meu amigo 'Careca' e de tantos outros.
Essa nova artéria, rasga o Bixiga como se fosse um espectro de filme de ficção mas, o que fica debaixo de seus elevados, é algo que amedronta e preocupa pois, suas escuras entranhas parece revelar o inóspito de uma solidão, onde pode-se ouvir as vozes do passado, que antes bradavam as ale
grias da liberdade do ir e vir e do sol que vicejava as poucas várzeas dos taludes e barrancos que já não mais existem.
Até a minha velha rua Santo Antonio já mostra uma 'plástica' de asfalto e novas edificações que tomaram o lugar dos velhos casarões, das malocas e cortiços, expulsando para bem longe, famílias de muitos anos e uma arquitetura de muitas décadas, tudo isso em nome da modernidade.
Que venha o novo. Que viva o novo. Eu, conservarei o doce sabor da saudade e quando por lá estiver, andarei com os olhos fechados, teimando em só enxergar o passado.

Por Nelson Assis

Sob os ponteiros do Mappin

Em Encontro Marcado, Fernando Sabino fala de um apontamento com seus amigos mineiros, para uma data no futuro. Mas, aqui volto ao passado, para lembrar que, se havia algum lugar para encontros marcados, na São Paulo dos anos 60, esse era debaixo do relógio do Mappin, na Praça Ramos.
Quem não já ali esteve, sentindo o pulsar do coração, coincidindo com o estalar dos po
nteiros? Para encontrar a mulher de seus sonhos, ou apenas uma miragem ilusória, ou mesmo- bem que eu soube- num encontro às cegas, e acabava fugindo, ao ver que não era bem aquilo que esperava?
O relógio ocupava-se apenas em marcar as horas e em nada se alterava pelas emoções dos encontros e desencontros, bem debaixo de seu nariz, se nariz tivesse. Ficava-se ali, sempre em ansiedade- ela está demorando - e aproveitava-se para, ao abrigo das marquises, dar uma conferida nos últimos lançamentos de consumo, ainda mais na época da esperada Liquidação -Venha correndo, Mappin!... Ele sabia que um dia isso ia se acabar.
Mas, para ser sincero, comigo ocorreu uma única vez esse tipo de encontro. Cenas de um calendário desbotado, outro século, outro Centro, outra mulher, tudo levado pelo mesmo tempo que o relógio assinalava. Também eu era outra pessoa.
Tudo rodava, como um carrossel tresloucado, muito rapidamente. Desloquei-me também para outras áreas, inclusive sentimentais, movidas agora a automóvel, movido agora a jato. Para longe, cada vez mais longe do Mappin.
O relógio, no entanto, permaneceu. Embora creia que, agora, pouca gente lhe dê aten
ção. E nem marque encontros; os muitos trabalhadores que ainda passam pelo Centro estão mais preocupados em sair dali depressa, pressionados por outra população, bem mais esquecida pela Fortuna. Competindo, ombro a ombro, para sobreviver nas calçadas, debaixo dos toldos da velhas lojas, há muito desaparecidas.
Como o próprio Mappin, sobrevivendo apenas nas memórias dos amantes ali postados, esquecidos do implacável Tempo, simbolizado pela engrenagem suspensa acima. Medindo, secretamente, os minutos contados de cada sonho, cada paixão, cada angústia.
Como o corvo de Poe, empoleirado no portal e repetindo infinitamente:- Nunca, nunca mais...

Por Luiz Saidenberg

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Cruel direito


* Esclarecimento: Em função da noitada de tango que teremos em 13/08/2010, nosso querido amigo, Modesto Laruccia, quis prestar uma homenagem à Argentina, com o texto, abaixo, que nos enviou.
Entrego-lhes.
Muita paz!




1996

- Maria, são onze horas, filme um pouco longo, não? vamos comer alguma coisa na lanchonete, parece que você não gostou do filme...
- Adorei, Sandro, por que pergunta?
- Notei que você está com um semblante sério, triste.
- Triste... um pouco... filme lindo mas, muito triste, senti a mensagem... algo mexeu comigo e você sabe porque...
- Claro mas, vamos entrar nessa lanchonete; É boa e bem limpa. Conta, Maria, o que mais, vamos dizer, mexeu contigo, a mãe, o pai a filha... mas antes, o que queres comer?
- Pra mim, um de presunto e queijo. Olha, Sandro, o que mais me comoveu foi a mãe, Rosa, uma professora severa mas, correta e sensível; com o desenrolar da historia vai compreendendo a rebeldia de alguns alunos, revoltados com situações de parentes dos desaparecidos, torturados e mortos durante a ditadura militar.
- Concordo, Maria. Rosa foi a fundo, exigiu do marido, Roberto, um empresário de c
aráter fraco, dizer onde, realmente se deu a adoção da única filha, a Gaby que eles tem.
-Viu como o diretor do filme foi muito feliz, narra fatos que ocorreram há pouco mais de dezoito anos, aqui em Buenos Ayres e ilustra bem a Rosa, que ama demais a filha adotada mas, sente profunda revolta e tristeza com a angústia das mães e avós em busca dos desaparecidos e dos bebês, nascidos no cativeiro.
- O filme é atual, "A História" dá uma conotação de realidade incontestável. Vai fazer sucesso no lançamento mundial ainda nesse 1996, vai ver...
- Puxa, Maria, faz uma semana que assistimos o filme e ainda...
- Ainda não me saiu da cabeça, Sandro, essa história que o diretor não soube ou não quis dar um final, me perturba demais...
- Por que você é adotada e...
- Sim, por isso e mais alguma coisa... sabes que, com dezoito anos, ainda não tenho, pelos meus pais adotivos, uma aproximação muito íntima ou pelo menos, a desejável relação de pais pra filha. Estou pensando em sair de casa...
- Não faça isso, Maria, é uma decisão um pouco precipitada, afinal,
Osvaldo e Maria Cristina te criaram... e bem, não fosse...
- Sandro, há um bom tempo, venho com essa preocupação... me conheces bem mas, pouco sabes do meu íntimo e isso é algo que martela aqui... as coincidências são de medo... nasci em fevereiro de 1978, adotada em maio, do mesmo ano... em casa nunca disseram que lugar, que asilo, ou que mãe...
- Querida, não te torture mais, o que fizeres não vai trazer ninguém de volta, mas sim, só sofrimentos e desenganos...
- A última discussão a respeito que tive com esses que querem se passar por meus pais, Osvaldo, nervoso me disse que se não fossem eles eu estaria na sarjeta, abandonada, morta de fom
e... pois sim, respondi, e minha mãe?, será que, ao me resgatar, nem por curiosidade queria saber seu nome, diz-me sempre que ela morreu ao me dar a luz mas, isto não impede de conseguir informações a respeito dela...

- Maria, naquela época a ditadura perseguia, prendia, tortura e matava centenas de pessoas; Partindo dessa premissa, quem garante que seus pais biológicos, envolvidos em atividades subversivas, foram presos e não...
- Que seja, Sandro, mas não aceito essa evasiva dos dois em me dar informações a respeito; arrogantemente alegam sempre minha "boa estrela" em tê-los com tutores... mas isso não basta... Vez ou outra, vou a praça ver e ouvir “As Avós da Praça de Maio” e tentar conseguir algumas informações.
- Crês realmente, que seus pais biológicos sejam subversivos desaparecidos e...
- Sim, Sandro, vou atrás disso, leve o tempo que levar, custe o que custar mas, vou descobrir a verdade.
- Oi, Sandro, e aí, como vais?...
- Bem querida, quero saber da sua pesquisa, tem algum progresso?
- Está fazendo um ano, mais ou menos, que assistimos aquele filme
"A História" que, por sinal, está fazendo muito sucesso.
Eu queria sair de casa e você me convenceu a não sair... agora vou, estou decidida, vou mesmo, os passeios na Praça de Maio renderam algumas informações que, infelizmente, não posso te contar, por enquanto, estou tratando de encontrar um bom apartamento e mudo logo que achar o ideal... sabe que trabalho e tenho condições de me sustentar, não é fácil mas, vou conseguir...

2001
- Veja, Sandro, eu venci... olha esta foto...
- Maria, você esta... chorando...
- Sim, sim, é claro... veja...veja meus pais... de verdade, Sandro... como são bo...bonitos, né?
- Como e o que descobriu a respeito, prometeste me contar?
- Pois bem, o nome de meu pai era Leonardo Sampallo e de minha mãe, Mirta Barragam. Cheguei a esse resultado graças a minha constante idas à Praça de Maio e conversar com as Avós, tudo confirmado pelos exames de DNA.
Os dois foram sequestrados em dezembro de 1977, minha mãe, grávida, deu a luz em fevereiro do ano seguinte e em maio, meus sequestradores...
- O quê...?
- Sim meus sequestradores, Osvaldo Rivas e Maria Cristina Gómes Pinto, receberam das mãos do capitão da reserva, (outro carrasco), Henrique José Berthier: eu.
- Não reconheço em nada, nesse casal, foram velhacos e vou iniciar um processo contra eles... quero vê-los presos, pela pena máxima, vinte e cinco anos...
- Mas, e a lei de anistia, do governo Raúl Alfonsín...
- Vou esperar, Sandro, ela vai cair, há um movimento em torno disso, eles não podem ficar impunes das barbaridades cometidas...
- Tem toda a razão desse mundo, Maria...
- Não esqueça, Sandro, Maria Eugênia Sampallo, filha de Leonardo Sampallo e Mirta Barragan.
- Eu sei, Sampallo, quero apenas chamar atenção pra um detalhe... você viveu dezenove anos com...
- Por favor, não repita...
- Deixa falar, pô, se viveu todo esse tempo com eles, não restou nada... nem uma pouquinho de carinho... deve-se levar em conta que tiveste educação, cuidados e...
- Pode parar, Sandro, não quero ser grosseira com você mas vou perder o respeito se continuar... nada neste mundo poderá amenizar os terríveis momentos por que devem ter passado meus pais, antes de serem selvagemente assassinados, nada, ouviu, nada...
- Mas, isto te faz mal...
- Não mais do que a dor que esses filhos da puta causaram pra centenas de famílias argentinas. Fiquei sabendo que esse casal maldito poderia ter procurado meus avós, na época, mas, calaram, compactuaram com os algozes por interesse e, a título de colaboração, me pegaram pra me criar.

2005
Cai a lei de anistia do Governo Raul Alfonsin.

2008
Justiça argentina condena Osvaldo Rivas e Maria Cristina Goméz a oito e sete anos de prisão, respectivamente e o capitão de reserva Henrique José Berther a dez anos.

Por Modesto Laruccia

Memórias de um noveleiro

As novelas estão na minha cabeça desde garoto 1950, quando a febre das
novelas de rádio já estavam no ar há 10 anos, aproximadamente. A rádio que mais tinha novelas era a radio São Paulo PRA-5, do grupo Emissoras Unidas, de
propriedade de Paulo Machado de Carvalho. Tinha novelas desde manhã até a tarde, uma depois da outra. O horário preferido das mulheres era o das 14 horas, pelo
fato de as donas de casa já terem feito o almoço, a família ter almoçado e ter a louça lavada. Para elas, o horário das 14 horas era sagrado. O destaque dessas novelas, além de Odair Marzano, era Geraldo Cunha, nosso vizinho do Itaim Bibi.
Para nós, garotos, era uma coisa boa, pois ficávamos na Rua do Porto, jogando
bola, livres dos olhares de nossas mães. Bastava ouvirmos a trilha sonora das
novelas das duas para ficarmos a vontade. Depois, voltávamos a ficar alertas às
três horas da tarde, pelo cheiro do álcool que queimava na espiriteira,
fervendo o leite do café para o lanche da tarde e íamos para onde estivéssemos mais perto. Quando minha mãe ia me chama na rua e não me encontrava, logo sabia que eu deveria estar na casa do Dudu, onde dona Izolina, sia mãe, fazia
questão que entrássemos para tomar café com bolachas e bolo de fubá.
Quando a noite chegava, já de banho tomado, ouvíamos mais novelas,
agora na rádio Cultura, depois do programa sequência das seis, um programa
humorístico do qual fazia parte Ronald Golias, do grupo de Aqualoucos. As
novelas das 19 horas eram escritas por Fernando Baleronni, que também
participava fazendo algum personagem. Baleroni era um dos mais notáveis
escritores de novelas e tinha a participação de sua esposa Laura Cardoso.
Com o tempo, as novelas foram parar na Televisão e a primeira experiência veio com
a novela escrita por Walter Foster produto do rádio, que escreveu "Sua vida
me pertence", novela que não era diária; Não me lembro se ia ao ar duas ou
três ve
zes por semana. Essa novela ficou famosa pelo fato de Walter Foster
ter encostado seu lábio nos de Vida Alves, o que escandalizou a sociedade
hipócrita e entrou para a história como o primeiro beijo na televisão. No rádio as
novelas não tinham o brilho dos anos 1940-50. A rádio Bandeirantes, outra
emissora que também tinha seu elenco de rádio teatro nos anos 1950, ainda
tentou fazer uma novela em sua programação da tarde, com o texto "Maria sem
Deus", inclusive com a participação de Moraes Sarmento, mas, não foi adiante.
Quem deu o pontapé inicial nas novelas da TV foi a extinta TV Excelsior. Salvo engano, foi em 1963 a primeira novela diária na televisão, o
título era um número de telefone chamando. Depois veio “Ambição”, a seguir "A
moça que veio de longe”, onde surgiu a bela Rosa Maria Murtinho e o galã de
cinema Helio Souto, em 1965, “A Deusa vencida”, onde surgiu uma moça que, até
então, era propagandista do creme dental Kolynos, Regina Duarte. Daí para

frente, era uma depois da outra, até chegar em Redenção, a novela mais longa
de todas já apresentadas. Mais de dois anos no ar, com mais de 400
capítulos, escrito por Raimundo Lopes, com direção de Dionísio Azevedo,
Waldemar de Mores e Reinaldo Boury.
Era um tempo que ninguém marcava nenhum compromisso no horário das novelas da TV Excelsior, que começava às 19hs. Era uma novela que falava de uma cidade de nome Redenção, em que o prefeito era Juvenal, interpretado por Rodolfo Maier,
tendo como companheira Lola, (Márcia Real), a filha Marisa (Lurdes Rocha) o
médico Dr. Fernando Silveira (Francisco Cuoco) que se apaixonou por Ângela
(Mirian Meller), filha do sapateiro italiano Carlo, interpretado por
Vicente Leporace e sua esposa que era interpretado por Lélia Abramo.
Mas, o forte da novela era a fofoqueira dona Maroca (Aparecida Baxter), que
virou sinônimo das mulheres que faziam fuxico.
A TV Tupi passou também a concorrer forte com a Excelsior, apresentando
novelas de bom texto, que procurava mostra as facetas de imigrantes ,
portugueses e italianos, “Antonio Maria”, com Sérgio Cardoso interpretando um
português, e “Nino o italianinho”, com Juca de Oliveira.
Concorrendo com a TV Excelsior em uma novela longa, a Tupi mostrou "O Direito de Nascer", um texto de autor Cubano, que fazia parte das novelas
radiofônicas dos anos 1950. Para o papel de Albertinho Limonta, foi escolhido

Hamilton Fernandes e sua mãe preta, Mamãe Dolores (Isaura Bruno), e a
participação de vários atores de primeira linha como Rolando Boldrin, Luiz
Gustavo, Natalia Timberg. Essa novela ficou quase um ano no ar.
Com a extinção da TV Excelsior, a TV Globo, praticamente iniciante com cinco
anos de vida, já vinha apresentando suas novelas sem muita audiência. Em 1969
estava no ar "Véu de Noiva", um texto de Nelson Rodrigues, e o “Cheik de
Agadir”. A partir de 1970 com a contratação do casal Dias Gomes e Janete
Clair, a Globo encampou as novelas e passou a apresentar às 20 horas, que ficou
denominada, por muitos anos, como novela das oito. Ainda hoje é assim, mesmo começando às 21 horas, a população menciona “novela das oito” em vez de dizer novela das nove. No começo, era uma coisa de louco, hoje parece que o povo já se encheu das novelas. Pelo menos é que vejo nos boletins do IBOPE, a queda da audiência.

Por Mário Lopomo

quarta-feira, 28 de julho de 2010

O coração da cidade

O Martinelli, em 1960, era um burburinho, um entra e sai de pessoas, sem o menor controle. Podia-se entrar pela São Bento, pela Líbero Badaró ou São João, pela porta giratória do Hotel São Bento. Numa das vezes que entrei pela Rua São Bento, o ascensorista, desconhecido e sem uniforme (poderia ser um dos inquilinos), cantava a plenos pulmões "Rosa", de Pixinguinha. E como cantava, lembrando Orlando Silva!
Nossa sala, a 1922, ficava num canto do 19º andar, na face que dava para o Anhangabaú. Saindo do elevador e dobrando à direita, cruzava-se um portal escuro e ali ficava um conjunto de salas, servidas por um banheiro em comum. Éramos quatro desenhistas e nosso trab
alho principal era histórias de terror, em quadrinhos, para a editora Outubro. Nada mais apropriado, então, que aquele soturno ambiente.
Fizemos amizade com alguns dos vizinhos. O Dr. Moura, veterano dentista, ótima pessoa, mas, cego como uma toupeira. Olhava uma boca toda cariada e a achava perfeita. O alfaiate João Dias e o cego, este verdadeiro, mas espertíssimo, Ito, comerciante de materiais de limpeza.
I
to tinha sob sua custódia trabalhos paralelos, agregados que distribuíam seus produtos e dois irmãos encanadores, que não sei porque se relatavam a ele. Eram baixinhos, mas de braços colossais, moradores de Ferraz de Vasconcelos. Um deles agenciava sua própria mulher, que era prostituta.
Não a conheci, mas ele orgulhava-se da beleza e competência da "patroa", na mais velha das profissões!
Eu era muito jovem e inexperiente e o Martinelli parecia-me a Babilonia. Gays engravatados batiam à porta e tínhamos de ter muito tato para dispensá-los numa boa. Vendedoras de cafezinho vinham oferecer seu produto e, possivelmente, serviços extras, também quentes.
Romances baratos inevitavelmente surgiam, pois éramos jovens e talentosos e algumas garotas posavam como modelos para nossos desenhos. Apesar do clima de bas-fond, nunca tive medo dali. Algumas vezes trabalhava até altas horas, depois ia pegar uma condução para a Barra Funda, onde morava, sem nenhuma preocupação.
Ao sair pela Líbero Badaró, sempre me deparava com o luminoso em neon da "Salsicharia Especial", onde dois porquinhos disputavam, para sempre, uma fieira de salsichas.
Ganhava-se pouco, mas era muito pitoresco e divertido. Um de meus colegas, investigador bissexto da polícia, às vezes sacava seu 38 e disparava para o espaço, através das largas janelas. Outro deles, que morava na periferia de Santo André, sem dinheiro porque a editora atrasava o pagamento, dormiu ali algumas frias noites.
Dobrava as roupas, para não se amassarem, embrulhava-se em jornais e recolhia-se embaixo da prancheta, tentando evitar o vento gelado que subia pela São João. Prenunciava ,assim, os sem-teto que viriam, nas décadas seguintes. Felizmente seu trabalho e esfôrço tiveram sucesso mais tarde.
Embora muitas vezes almoçássemos fora, como no Restaurante Dom, bom e barato, na Rua Aurora, atrás da Praça da República, podia-se comer no Prédio mesmo. Haviam bares e lanchonetes e não me lembro de ter passado mal com a comida.
Com tanta gente, de dentro e de fora, ainda assim, sentia-se no Martinelli um clim
a de comunidade. Parecia haver uma estranha ligação entre pessoas tão diversas, um ar de compreensão e tolerância.
O denominador comum era o Martinelli, naquele tempo ainda imponente e venerável. Sua presença majestosa e severa era o que dava a todos, abrigados à sua sombra, esse sentido de identidade.

Por Luiz Saidenberg

Em casa de Ayrton

Ela era muito bonita, meiga,dona de um rostinho fino, olhos fundos, cabelos compridos. Ainda a vejo em minha memória, vestindo o uniforme da escola que frequentava em São Paulo, ou, junto com a nossa turma, ao lado do Lalli, seu namorado e que seria, em breve, seu marido. Saíamos em turma para acampamentos e fazíamos estudos bíblicos em grupo. Quantas lembranças tenho dela, seu jeito suave de falar, sua inocência.
Recentemente, eu a vi numa foto de revista , uma mulher madura, com dois filhos ao lado. Ainda conserva o mesmo olhar. Senti saudade, tristeza, um não sei que. Seu rosto parece sofrido e mal posso imaginar a dor por que passou, perdendo o marido num desastre de moto e ,logo mais, o irmão famoso e querido, num dia que enlutou o Brasil.
Falo da irmã de Ayrton Senna,Vivianne.
Mas, vamos aos velhos bons tempos.
Uma festa em casa de Ayrton e Vivianne, para a qual fui convidada. Lembro da noite de verão, do terraço, das árvores em flor, dos jovens bem vestidos; Vivianne passando entre os amigos, vestida de branco, como um anjo ou uma fada. Ela possuia esta característica etérea em seus movimentos e sua graciosidade, dona de uma qualidade incomum de doçura.
Lembro das mesas arranjadas em torno do jardim, onde vidros enormes foram colocados, dezenas deles, cheios até a boca de coisas gostosas: saladas, azeitonas, conservas, doces de frutas., queijos. Eu jamais vira coisa igual. Era festa de menina rica, porém, tão simp
les, tão amiga, tão sem pretensão. Uma menina que estudava a Bíblia . Assim também era Airton, um rapaz simples, que amava a Deus.
Vivianne passou por tempestades, mas, creio que seu coração continua intacto. Conheço-a bem para dizer tal. Mãe de Bruno, que segue nos passos do tio Ayrton. Vivianne, aqui vai o abraço da amiga de outrora.
Ayrton, este está com Deus.

Por Lygia Souza

terça-feira, 27 de julho de 2010

Será que vai chover?


Outro dia, numa das tardes quentíssimas desse nosso verão de 2010, estava na casa de minha filha, observando meu neto de 6 anos, que brincava alegremente pelo terraço. De repente, o som de um trovão, anunciava que uma pancada de chuva estava próxima.

Quando os primeiros pingos chegaram, observei que eram pingos grandes e esparso
s. Daqueles que minha mãe dizia, serem pingos de quatrocentos réis, parecidos no tamanho com as antigas moedas.

Meu neto, então, pegou um guarda chuva que estava num canto e começou a caçar aqueles pingos, divertindo-se com o barulho que eles produziam na abóboda do mesmo.

Enquanto observava a brincadeira, voltei um pouco no tempo e lembrei-me que guarda-chuva, na minha época, era um objeto muito bem cuidado. Meu pai tinha um com cabo de osso e minha mãe, uma sombrinha com cabo de marfim. Quando quebravam, eram levados para o conserto lá na loja do Pachá, na rua da Penha, onde providenciavam a troca dos tecidos e reparos na armações. As vezes, tínhamos que esperar 1 semana pelos consertos, que sempre eram feitos na época da estiagem.

Lembrei-me, até, que ganhei um de presente de natal. Era todo florido e muito lindo. Acho que durou muitos anos. Eu o adorava. Atualmente, não consigo imaginar uma criança ganhando um guarda-chuva de presente de natal.

Hoje em dia eles são dobráveis e práticos. Podem ser levados em pastas e bolsas, mas quebram com facilidade e tornam-se descartáveis. Pois, basta chover e você encontra um mont
e de camelôs, vendendo as peças por 5 reais, principalmente nas saídas do metrô e dos shoppings. Eu mesma, tenho uns 8 deles comprados nessas emergências.

Depois de me deixar levar por essas lembranças, tive que retirar meu neto da chuva, que nessa altura já caía com mais intensidade e ele estava todo molhado.

Acho que hoje, não temos mais objetos tão duráveis assim.

Por Bernadete Pedroso

Um grande garanhão

Meu grande amigo de infância, Lupércio Luiz Simões, desde mocinho foi muito paquerador. Na década de 60 ele era o maior Don Juan de toda a Freguesia do Ò; Tinha namorada na Lapa, na Brasilândia, na Pompéia, Água Branca, no Piquerí e até mesmo na Itaberaba.
Tempos atrás, estando eu a passeio a MIAMI – USA, ao entrar em uma loja de eletrônicos falei com dona da mesma, uma brasileira que, ao saber que eu era da Freguesia do Ó, me confidenciou que também havia namorado o Lupe (era esse o seu apelido).
Mas, depois que terminou a faculdade, Lupe criou juízo e acabou namorando, noivando e se casando com a Vamércia de Castro, uma mulher muito bonita, apesar do nome.
Lupe viveu 48 anos casado com Dona Vamércia. Quando ficou viúvo, estava com 78 anos, já apos
entado e meio esquecido. Todos seus amigos da Freguesia do Ó diziam que ele não iria longe, seu fim era uma questão de tempo.
Dois anos se passaram e nada do Lupe deixar essa vida. Já havia muita gente bem mais nova indo embora, mas o Lupe, o velho Lupércio Simões, resistia mais que defesa de time retranqueiro à idéia de deixar essa vida.
Quando algum amigo passava por ele e, brincando, comentava:
-Puxa, Lupe, você ainda está vivo?
Ele, rapidinho, respondia com um certo tom de malícia:
-É. Vocês vão ver com eu duro.

Então, aconteceu aparentemente o impossível. O velho Lupe conheceu Juliana, uma jovem de apenas 32 anos e resolveu casar-se novamente.
Depois de algum tempo de namoro, casaram-se. Ele com 83 anos e ela com 33 que, em consideração ao marido, já idoso, decide que devem dormir em quartos separados.
Até aí, tudo bem.
Terminada a festa do casamento, cada um vai para seu quarto.
Juliana se prepara pra deitar quando ouve batidas fortes na porta...
As batidas insistem.
Ao abrir a porta, ela se depara com Lupe, com seus 83 anos, disposto pra a ação.
Tudo corre bem e, após uma relação quente e vigorosa, Lupe despede-se e vai para seu quarto.
Passados alguns minutos, Juliana ouve novas batidas na porta do quarto...
É lá está o velho Lupe, reivindicando mais ação.
Ela fica surpresa, mas deixa-o entrar.
Terminada a relação, Lupe beija-a carinhosamente e despede-se, indo pra
seu quarto.
Juliana se prepara pra dormir novamente, quando escuta fortes batidas na
porta. Espantada, Juliana abre e se depara com... O Lupe!!!
Mais do que pronto pra ação, com aspecto vigoroso e renovado.
Ela diz:
- Estou impressionada que em sua idade possa repetir a relação com esta
frequência. Já estive com homens com um terço de sua idade e eles se
contentavam apenas com uma vez. Você, Lupe, é um grande amante! E um marido incrível.

Desconcertado, ele pergunta:
-Ué! Eu já estive aqui antes???

MORAL:
Enfim, Alzheimer também tem suas vantagens.
Este mês esta fazendo três anos que o amigo Lupe deixou esse nosso mundo, para ir paquerar no infinito.

Por Arthur Miranda (tutu)



segunda-feira, 26 de julho de 2010

As Quermesses da Achiropita

Lembro-me com saudades das festas da padroeira do 'Bixiga'. O mês, era agosto. O ano, não sei. Já faz muito tempo.
A rua Treze de Maio, enfeitada com arcos e bandeirolas, faixas de boas vindas e homenagens à santa de devoção de muitos dos moradores. Barracas de comidas típicas italianas, quitutes e outras guloseimas, apinhavam-se ao longo das calçadas e próximas da igreja 'matriz' do bairro.
Algumas prendas eram sorteadas através de uma enorme roleta numerada e, ao vencedor, consistia um pequeno prêmio, simples lembrança pela participação na festa. Outras, através do jogo de argolas ou bolas atiradas nas latas, que ficavam em uma prateleira de madeira. Todas as tentativas bem sucedidas davam direito a um prêmio, lembrança da festa que, por vezes, consistia em um vaso de porcelana, brinquedos, ou um doce.
As pessoas se aglomeravam num vai-e-vem pela rua e as crianças corriam de um canto a outro num algazarra sem fim. Meninas já quase mocinhas, exibiam-se em seus vestidinhos rodados de tule ou tafetá, por vezes lisos ou com suaves estampas, com grandes laços traseiros e travessas presas aos cabelos. Sapatinhos de salto baixo e meias lisas. Algumas até usavam luvas em suas mãozinhas.
Os meninos, alguns com suas calças curtas, presas aos suspensórios, isso para os pequenos pois, os maiores, já usavam calças compridas e camisas com jaquetas e tomavam a pose característica a la 'James Dean', como se rebeldes sem uma causa j
usta fossem.
Alguns deles, mal comportados, eram quem promoviam algumas confusões que terminavam em brigas e, dentre os sopapos dados e recebidos, tudo acabava na mais perfeita ordem, depois que a turma do 'deixa disso' entrava ou algum pai mais zeloso acudia para o fim da contenda. No mais, tudo era festa e alegria.
A festa era sempre precedida de uma missa solene com a apresentação da padroeira que, em procissão pelas ruas do bairro, puxava um séquito de fiéis que, entoando hinos de louvores, serpenteavam as ruas do bairro e em devoção, os fiéis cantavam e rezavam durante o seu percurso.
Homens e mulheres com trajes elegantes, senhoras com suas proles, viúvas ainda envergando o luto fechado e as 'conchetas', velhas senhoras que ali estão para observar o indiscreto decote das menos puritanas e para colocar as fofocas em pauta.
De tudo se via na quermesse. Início de novos romances, desilusões de amores acabados, a moça da barraca da 'maçã do amor', o carrinho de pipoca e o baleiro vendendo balas, paçocas, pés-de-moleques, chicletes e drops 'Dulcora', embalados um a um.

Por vezes, a noite era tipicamente fria de um quase final de inverno e, por vezes, chovia mas, isso não conseguia tirar o brilho da festa.
Eu e minha turma do bairro nos divertíamos a valer e, por vezes, até conseguíamos uma namoradinha para 'ficarmos' durante o efêmero momento.
Num determinado momento, podia-se apreciar um 'paisano' tocar sua inseparável sanfona, entoando belas canções napolitanas que remetiam as saudades da velha Itália. Eram tarantelas ou velhas canções românticas que faziam os 'nonos piangerem' de nostalgia. Mas, tudo acabava bem quando alguém, com toda a força dos pulmões gritava: 'Andiamo, tutti. Andiamo a mangiare una belíssima pasta...' Era a hora sagrada da boa e
suculenta macarronada ao molho à 'bolognesi'.
Assim eram as quermesses da Acchiropita. Festa de gente simples e bonita. Festa de fé e alegrias. Festa de encontros e de despedidas. Eu, me despedi da quermesse da Acchiropita há muitos anos mas, consegui trazer um singela lembrança. Um galo de porcelana, com pintura bizarra que ganhei na roleta da sorte e que hoje já não existe mais.
Um dia volto para tentar ganhar outro galo ou outra prenda qualquer.

Por Nelson Assis

Passeio de Bonde

Tenho saudades do meu tempo de criança, lá no bairro da Penha de França, onde nasci e cresci. Passei os melhores anos de minha vida, brincando e correndo pelas ruas perto de casa, pedalando minha bicicleta, fazendo teatro de rua, festa de carnaval e de São João. Nossa! Quantas travessuras fazíamos e criatividade é que não faltava para preenchermos nosso tempo de criança.

Era ainda pequena quando ia passear na casa de minha tia, que morava no Tatuapé. A condução que usávamos era o bonde, que saía lá da Praça Oito de Setembro. Neste dia, tudo era diferente e a festa começava antes de chegar ao nosso destino. Meu coração de menina batia forte quando chegava o bonde que no
s levaria ao Tatuapé. Dele, era possível observar todo o movimento da Celso Garcia, porque era aberto e os bancos facilitavam conversas e início de novas amizades. Estes passeios eram sempre bem-vindos, pois eram divertidos e gostosos.

Com o crescimento de São Paulo e os novos tempos, o bonde foi tirado de circulação e os trilhos, substituídos pelo novo asfalto. Tomou conta sua majestade, o ônibus, e a Praça Oito de Setembro ganhou outro visual. Os passeios de bonde se acabaram e tivemos que nos habituar ao novo transporte, mas as lembranças dos passeios e dos bondes ficaram na memória.

Sou a favor das mudanças, e elas aconteceram para atender melhor a população. Pena que, atualmente, os meios de transporte ainda deixem a desejar, mas tenho esperança que um dia tudo fique mais equilibrado e o povo de São Paulo possa ganhar um transporte melhor do que o que temos no momento, melhorando principalmente a sua periferia da cidade, que muitas vezes acaba sendo esquecida.

Por Margarida Peramezza

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Um edifício chamado Martinelli

Quando morávamos no Jabaquara, meu pai já trabalhava no centro de Sampa, no Banco da América, que ficava no Edifício Martinelli. Foi o primeiro arranha-céu da cidade e o prédio mais alto da América Latina, perdendo esse posto com a inauguração do edifício do Banespa. Mas, foi com certeza, a partir de sua construção, que se iniciou a verticalização da cidade de São Paulo.
Esse edifício teve sua época áurea, com uma mansão em seu topo, onde morou seu construtor, para provar que o prédio era sólido. Foi construído no triângulo formado pela Rua São Bento, Av. São João e Rua Líbero Badaró.
Em 1932, durante a Revolução Constitucionalista, abrigou em seus terraços superiores, uma bateria de metralhadoras antia-aéreas, para defender a cidade do ataque
dos chamados "vermelhinhos", os aviões do Governo da República, que sobrevoavam a cidade ameaçando bombardeá-la.
Em 1936, quando da vinda do dirigível Hindenburg para São Paulo, foi ao redor do Martinelli que ele sobrevoou, para delírio da multidão que se maravilhava com o “Zeppelin”.
Não tendo apoio governamental para terminar a obra, Martinelli foi obrigado a vender uma parte do empreendimento ao "Istituto Nazionale di Credito per il Lavoro Italiano all´Estero" do Governo Italiano, motivo pelo qual o Governo Brasileiro tomou o prédio para si, após a Segunda Guerra Mundial. Nas mãos da União, o prédio foi rebatizado de Edifício América, nome jamais aceito pelo povo, eternizando o nome original.
Foi ponto de encontro da high society, sediou clubes como o Palestra Itália e a Portuguesa de Desportos entre outros, além de restaurantes, cassinos, night clubs, barbearias, lojas, o luxuoso Hotel São Bento e até o famoso Cine Rosário. Teve também apartamentos e salões concorridos. Após a Segunda Guerra Mundial, como acontece com a maioria das coisas em que o governo coloca suas mãos, começava ali a lenta e agonizante derrocada desse monumento.
Finalmente em 1975, após enorme apelo popular, protestos da imprensa e de setores profissionais, iniciou-se uma obra para reforma do prédio,
revalorizando-o e tombando-o. Passou a abrigar setores da administração pública e, quando de nova reforma promovida pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo, foram descobertos e restaurados vários afrescos e pinturas originais, valorizando ainda mais esse verdadeiro marco arquitetônico e patrimônio da cidade.
Meu pai trabalhou lá na década de 50 e eu adorava quando me levava para passar o dia com ele, em sua sala de trabalho, passeando pelas demais salas do andar, entre máquinas modernas na época e que hoje devem fazer parte de museus. Também aproveitava o passeio para comer nos restaurantes do centro, passear pelo Viaduto do Chá e de Santa Ifigênia, descer e subir pelas escadas rolantes da Galeria Prestes Maia. Tomar sorvete nas Lojas Americanas da Rua Direita, ou aproveitar para fazer uma oração no Mosteiro de São Bento onde, se tivesse sorte, podia ouvir o Canto Gregoriano que, ainda hoje se pode ouvir, na missa das 10, aos domingos. Aliás, um programa que faço, quando posso e recomendo, sem medo de errar.
Gostava também de ouvir as muitas histórias do Martinelli, contada pelos funcionários que trabalhavam com meu pai e que não me permitiam sair sozinho do andar, devido às muitas histórias macabras, que não me contavam e que já se colecionava na época. E minha imaginação infantil criava histórias assustadoras e, ao mesmo tempo, instigantes, no desejo de descobrir aventuras e verdades por trás delas.
Na década de 60, por amizade a meu pai, um dos diretores do Banco Fe
deral de Crédito, num edifício próximo ao Martinelli, colado ao do Banco do Brasil, na Rua São Bento, me arranjou um emprego como auxiliar de seleção (não comecei como Office-boy... rs). Anos depois esse banco comprou o Banco Itaú Sul Americano, originando o Banco Federal Itaú que, após várias fusões acabou adquirindo o Banco da América (unindo aqui minha recém-iniciada história profissional com a de meu pai), criando o Banco Itaú América, que continuou se unindo a outros até chegar ao hoje Banco Itaú S/A. Nessa época eu já não trabalhava mais no banco, nem morava no Jabaquara.

Por Zeca Paes Guedes

Na fila do banco



No meu tempo de vendedor da Basf eu visitava alguns clientes estabelecidos na Vila Santa Catarina, uma tarde aproveitei um momento de folga e fui ao banco para efetuar pagamentos de algumas contas.
A fila estava grande, pois era sexta-feira e somente dois caixas estavam atendendo (naquela época não havia caixa para idosos).
Enquanto eu aguardava a minha vez, alguém tocou meu ombro. Virei-me e vi uma senhora de cabelos grisalhos que perguntou se eu me lembrava dela. Em princípio não a reconheci mas, puxando pela memória e olhando bem nos seus olhos, ao
s poucos me veio à memória a tarde de um domingo no Cine Ipiranga Palácio. Era ela! A primeira mulher que beijei na minha vida! Era a V... Depois do primeiro momento de surpresa, passamos a conversar; Ela casou-se, ficou viúva e tinha dois filhos casados e com netos.
Lembramos com alegria os bons e maus momentos de nossa mocidade e chegamos, até, a dar boas gargalhadas. Após cumprir meu compromisso no banco, esperei por ela na porta e ficamos ainda conversando, na esquina, por mais alguns minutos. Por fim, ela alegou estar atrasada e eu também tinha ainda alguns clientes a visitar. Assim, nos despedimos, não trocamos números dos telefones e nem me ocorreu perguntar seu endereço. Fiquei parado na calçada, pensando em como este mundo é pequeno.
Ela virou a esquina e desapareceu, mas confesso: eu nunca vou me esquecer daqueles olhos azuis e do sabor daquele primeiro beijo.

Por Leonello Tesser (Nelinho).